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Ensaios-->10. UM INTELECTUAL FALIDO -- 06/06/2002 - 05:39 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Venho, como outrora fazia junto aos que ameaçavam arruinar a vida, para trazer mensagem de muito conforto na potencialidade do espírito. Não sou capaz de me lembrar direito das palavras, mas o sentimento que expressam é o mesmo que me move neste instante, pois penalizei-me com o sofrimento das pessoas que se espojam nas fétidas lamas dos vícios e não têm recurso para compreender o quanto estão a perder.

Vejo que o amigo hesita e não tem real controle de si, por isso fica bastante fácil de lhe passar qualquer manifestação. Você, meu amigo, está perdido de sono e não tem qualquer meio de impedir-me de dominar-lhe o cérebro, mesmo que intente reação coercitiva, suspendendo a atividade.

Dizem-me que este método não conseguirá atingir o objetivo de suspensão do trabalho, pois a minha velocidade, conquanto muito superior a qualquer possibilidade de anotação, mesmo taquigráfica, se bem que o amigo não disponha de tal recurso, será sempre muito inferior à dos orientadores.

Sei perfeitamente disso e minha manifestação não pretende ser superior a quem quer que seja, nem no que respeita ao amigo que foi por mim provocado, para ver se reagia à indolência e à letargia.

Pelo que posso observar, mesmo estando bem afastado de sua capacidade, ainda assim domina o vocabulário que lhe vou soprando no íntimo da alma. Se alguma palavra não corresponde à exata tradução de minha intenção, é que eu mesmo não conduzo o raciocínio com plena convicção do que tenho para comunicar.

Dizem-me que ficará bem mais fácil e acessível se houver simples narrado dos acontecimentos que envolveram a minha última existência e que determinaram a atual condição espiritual.

Que tem a minha condição? Estará tão visível que tenho alguma deformação de caráter? Como é que se pode observar isto da parte de quem está simplesmente observando-me, sem que nenhum instrumento de percepção esteja adaptado à minha contextura perispiritual?

O amigo que vai escrevendo está colocando termos em minha boca. Eu não queria dizer “contextura perispiritual” mas simplesmente “organização física”. Pois fique registrado o que tenho para reclamar.

Dizem-me (como gostam de interromper-me!), dizem-me que o amigo reproduziu com fidelidade o que havia transmitido e, da mesma forma que estou sendo coagido a aceitar as interferências, devo reconhecer que as intenções de esconder-me não estão logrando êxito.

Agora, verdadeiramente, preciso admitir que a hipótese corresponde à realidade de minha composição espiritual. Aí está o retrato de minha vida.

Pedem-me para não concordar, simplesmente, mas para acatar a inexorável condição de estar submetido às injunções determinadas pelos espíritos de maior força e poderio, que almejam o bem e não tão-só comprovar que têm a possibilidade da dominação. Antes de me libertarem, querem que fique claro que não estou sendo maltratado e que avalie, através de comparação, se há alguma ameaça à minha integridade, da mesma forma que havia durante os entreveros com os que me perseguiam na escuridão.

Não posso precipitar, conforme me aconselharam, e, por isso, peço que me permitam refletir a respeito. Sinto que a pena do irmão está tomando vulto em minhas mãos, pois não sou capaz de lhe imprimir mais a mesma velocidade, e ele dispara os termos no papel, uns após os outros, impedindo-me de raciocinar a respeito do que melhor devo transmitir. Sinto, irmão, que tenha de ser assim, pois não desejo avaliar as condições em que estava nas mãos dos inimigos, para não lhes dar nenhum motivo de reclamação e para não aumentar-lhes a fúria em relação a mim.

Dizem-me que estou deveras protegido e que só retornarei à condição do sofrimento anterior, se assim o desejar explicitamente, através de algum ato de violência que interrompa os trabalhos de psicografia.

É bem verdade que o desejo é de me livrar desta situação vexatória, mas não tenho gana alguma de voltar a me deparar com os adversários. Por isso, vou procurar conter os impulsos de rebeldia e vou oferecer condições mais satisfatórias para que os amigos socorristas (como insistem em que os chame) possam realizar as suas tarefas de rotina, quanto a me darem maior conforto.

Pois foi o que entendi desde logo, tanto que, no início da mensagem, procurava interpretar-lhes as intenções.

Pedem-me para não avançar mais nesse sentido, pois o que desejava era fintar a real condição de minha moralidade.

Pois bem, vou parar de escusar-me e vou enfrentar a dor da revelação. Que querem de mim? Que me disponha favoravelmente à ajuda e que não obste os impulsos vibratórios que atenuarão o meu disparate sentimental e intelectual? Como deverei agir para chegar a esse objetivo?

Parando, por exemplo, de influenciar mal o escrevente, como se já estivesse pronto para encerrar, mediante o tanto de frases que foi capaz de escrever.

Sei que a intenção existe e peço perdão, pois ficou subjacente em minha péssima formação. Se o amigo consegue traduzir sentimentos tão íntimos, é porque desenvolveu essa capacidade. Ele que fique, a partir de agora, prevenido para esse tipo de impulso eletromagnético espiritual espontâneo e/ou involuntário, pois é a minha forma de ser, a minha habitual personalidade que transparece e que só será modificada, creio eu, se conseguir suplantar os feios defeitos que se inseriram dentro de mim.

Vejam que estou liberando as ânsias e que já tenho o poder de ajuizar melhor a respeito do que sou e do que estou fazendo, até diante das recriminações que venho escutando.

Pedem-me para não dar tom de acusação às recomendações de contenção dos ímpetos de raiva, pois o mínimo que se pode dizer do que os socorristas fazem é propiciar alguns momentos de concentração. Se houver qualquer dor, é causada por consciência culpada e não porque se está dando a oportunidade de seu conhecimento.

Parece que tudo o que venho transmitindo vai ganhando sentido. Não pretendia colaborar com o pessoal e desejava mesmo que “furasse” seu programa de ação, pois parecia-me que havia profunda vaidade na conquista de textos de irmãos sofredores, como se a vitória sobre os infelizes se desse somente no campo de sua condução à elaboração de textos plausíveis e íntegros, passíveis de serem levados ao conhecimento público. Por vários dias, fui trazido a esta sessão, para poder acatar as sugestões de me apresentar. Então, bolei forma de burlar os desígnios do grupo, procurando confundi-los com disparatadas atitudes, motivo por que até trechos para citação de autores procurei decorar, para o efeito pretendido.

Agora percebo que minha contribuição até aqui foi boa, pois há certa originalidade no conjunto que está sendo composto. Como sei disso? Ora, é fácil: o amigo escrevente procurava vibrações de conforto nesse sentido, de sorte que as suas idéias vão fixando as diretrizes de meu procedimento, o que não significa, absolutamente, que eu tenha o conhecimento da matéria, mas que esteja apto a perceber a importância que lhe está sendo dada.

Por outro lado, a minha maliciosa atitude é bem o paradigma deste tipo de raciocínio, que sabe ser lógico e coerente, quando predisposto a iludir e a disfarçar.

Os amigos da espiritualidade demonstram-se satisfeitos com os rumos dados à escritura, mas preferiam que me tivesse calado a respeito de muitos temas que não avançam na plenitude de minhas vistas da realidade do mundo superior. Dizem que, se permanecer imbuído destas idéias, ficarei eternamente girando em torno de meu “ego” supervalorizado, o que me impedirá de divisar mais além, no rumo da perfeição.

Esta é a palavra que me faltava. Realmente, não admito a perfeição como algo atingível. Se há qualquer ser perfeito, e sei que esse é o atributo maior que se dá à Divindade, esse ser não tem mérito algum, pois desinteressar-se-á de tudo o que venha a demonstrar qualquer fraqueza, qualquer jaça. Agradeço ao amigo pela escolha das palavras, mas a verdade do pensamento ficou bem expressa. Vejam que tenho categoria para expor temas de caráter filosófico, embora não tenha bem desenvolvido o caráter, pois não me furto às querelas “por dá cá aquela palha”, como se diz vulgarmente.

Em anterior encarne, tive noções bem aprofundadas de diversos temas, pois fui superiormente dotado de inteligência e de sensibilidade. Mas não fiz o bem e isso me levou à loucura, pois fui cobrado por inúmeras criaturas que se sentiram por mim prejudicadas.

Eis que finalmente debuxei alguns aspectos de minha vida. Toda vez, entretanto, que inicio a rota da narração, conforme me estimularam a fazer de início, sou refreado por inexpugnável vontade de retroceder nas pegadas. Aí as palavras tomam vulto sobre os sentimentos e tudo volta a ficar absolutamente camuflado. Este vaivém está perturbando-me e deixando impaciente todo o grupo.

Pedem-me para falar só em meu nome, pois o que o grupo mais deseja não é saber o que se passou, mas examinar os meios que ponho à disposição para o auxílio.

Pois bem, irmãos, reconheço que estou sendo pusilânime e abro o coração de vez para os crimes de minha vida: matei três pessoas, na ânsia de me sobrepor à sociedade.

Não é verdade o que acabo de dizer; estou absolutamente confuso e não pretendo ir muito avante, mesmo com o risco de voltar à indesejada companhia de meus inimigos. Peço, sinceramente, desculpas por não ter conseguido ajudar a quem, com tanto desvelo, pensava cuidar de mim e, humildemente, reconheço que não dou condições para qualquer trabalho útil em meu proveito. Se puder calar-me e impedir que o escrevente prossiga, eu o farei, com dó, pois lamento profundamente não ter conseguido atingir a qualquer objetivo sensato. Fique aí registrada minha pequena estatura moral e minha presunção intelectual. Adeus, amigos.


Comentário

Julgamos conveniente aceitar as despedidas do socorrido, mas não vamos abandoná-lo à própria sorte. Se o leitor for percuciente, poderá perceber que houve real decréscimo na intenção de engodar, de ilaquear, de mentir e de disfarçar. Ao final, houve completa entrega moral, de modo que não foi difícil sua dócil condução às câmaras de retempero energético.

Quanto à declaração de que era assassino, a qual foi, em seguida, negada, não nos aflige a verdade do fato, mas avulta a importância do movimento intelecto-emotivo e a nossa análise psíquica procederá a partir desse ponto. Se o fato é ou não verdadeiro, ficará para que a consciência do irmão resolva, em tempo propício para a configuração dos procedimentos da reabilitação moral.

Sentimos que não tenhamos trazido, ao contrário do que ele mesmo supôs, algo conclusivo, que pudesse aproveitar para o adiantamento do leitor. Em todo caso, como exemplo singular de comportamento instável por razões de culpabilidade extrema, pode ficar o escrito em meio aos demais. Eis que, de um modo ou de outro, obtivemos sucesso em mais este empreendimento. Graças a Deus que o trabalho é sério e que sua magnitude vai registrando-se indelevelmente, através desta pena solerte.

Oremos todos para que o amigo possa reverter o seu quadro de angústia, pois deu mostras de que, se conduzir o pensamento segundo os princípios evangélicos, bem poderá vir a ser aproveitado no serviço de elucidação dos sofredores melhor dotados intelectualmente. Que lhe sirva a lição da dor como experiência, para o trato das afecções símiles dos irmãos que incorporaram a força intelectual como apanágio para suplantar os demais.

Saiba o amigo, ao examinar a própria consciência, reconhecer os defeitos e transformá-los em ferramentas úteis para o soerguimento dos que sofrem. Eis o martírio de Jesus como o exemplo maior que poderíamos citar e a sua mansuetude ao rogar ao Pai que nos perdoasse a todos nós, que fazemos o que fazemos por pura ignorância.

Fiquemos com esta reflexão final, para dar sentido à nossa participação.

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