Senhor:
Esforço-me a entender como é que pôde um dia formular em pensamento que a vida, ao ser vivida, é só tormento, que o medo de existir tudo devora.
Agora eu não possuo um só momento que seja todo meu, que aqui vigora a lei de se fazer o bem na hora, que o passo que nós damos é seguro.
Devia suspeitar de que este medo que acabo por meter em nossa vida iria fomentar a decaída que um dia irá provar, ou tarde ou cedo.
- Agora já não tenho tanta força -, irá dizer meu velho, a dar desculpa, podendo remendar a gente estulta o crime de pensar alheio enredo.
Eu ia por aí nesta poesia, sem frutos para nós porque a leitura é mui difícil de se dar que o velho tem muito pouca vista para tudo.
Escrevo, mesmo assim, e vou-me embora, descrente de poder efetuar um único desejo dos antigos, que era como o bem quis ensinar-me.
Meu pai, estou no aguardo de notícias, que as minhas são difíceis de entender. Mas como é forte e luz o bem-querer, vou pôr nas mãos de Deus a solução.
Aceite a minha lágrima de amor e conte comigo desde já, que a morte é bem da vida bem vivida, com largo sacrifício quando finda.
Deste filho que vem compreendendo tanto de nosso passado conjunto.
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