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Ensaios-->28. OS PRIMOS POBRES -- 24/06/2002 - 06:27 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sabemos que os amigos leitores se preocupam com o teor dos textos que vêm lendo. Há já diversos dias, temos visto desfilar diante dos olhos uma série de irmãos sofredores, a quem pouco mais fazemos do que lhes dar oportunidade de refletir a respeito da própria condição. Nada lhes proporcionamos que possa vir a ser considerado de caráter superior. É que não temos os recursos da grandiloqüência nem a facilidade da verberação fraterna dos grandes moralistas. Somos os primos pobres da historieta cômica que reside na mentalidade do homem.

Sem que estejamos reclamando por não termos a mesma capacidade de vibração, em função dos benefícios, é bem evidente que tudo fazemos ao nosso alcance para dar aos infelizes o conforto da prece e a esperança da salvação. Não nos afastamos jamais do lema do kardecismo, qual seja, “fora da caridade não existe salvação”, para o que pregamos o amor e a comiseração entre os seres.

Do ponto de vista religioso, não damos preferência a qualquer credo instituído entre os homens, mas colocamos a palavra do Senhor como premissa de comportamento, para que o homem venha a ser, verdadeiramente, considerado filho de Deus, pois não há negar que nos Evangelhos se contêm o caminho, a verdade e a vida.

Fora daí, não há como realizar grandes coisas mais. Basta isso para nos deixar satisfeitos com nós mesmos, pois a vida pautada pelas diretrizes evangélicas, levada a sério como norma geral de procedimento, será proveitosa mesmo quando se trata dos espíritos na erraticidade do espaço maior.

No que tange, portanto, a definirmos as nossas atitudes de modo diferenciado, nem pensar, posto que haja aspiração de novidade no fundo do coração de cada amiguinho, que se atreveu a dedicar sua atenção a estes escritos.

Vamos deixá-los, agora, na companhia de ser muito infeliz, para conhecer outro tópico penoso da realidade de quem se incapacitou para seguir na vida as exortações cristãs que lhe foram como que imantadas no ser, pois, inequivocamente, estão todas as diretrizes da moral superior impressas na consciência de cada um.

Ei-lo, portanto, aqui, ávido por utilizar-se deste momento de psicografia para demonstrar, pelo ato, o que não se deve fazer.

Sabemos que o dia se reservou para a apreciação de espíritos inferiores, que pudessem vir demonstrar cabalmente que era chegada a hora da recomposição do caráter, mas como não havia nenhum disponível, os irmãozinhos deram-me esta oportunidade única. Lamento que tenha sido logo a mim, que não tenho outras informações a prestar que já não estejam todas ditas e examinadas com profundidade doutrinária.

O que fui capaz de repetir, na primeira parte desta dissertação, é o que tenho aprendido nas peregrinações pelos centros espíritas, pois sou assíduo freqüentador, desde que desencarnei. Já fui queimado, torturado, massacrado, baleado e pude incentivar a quanto médium se deixou envolver pelos meus eflúvios. A bem da verdade, ouvi muito doutrinador me dizer para me conter, que a verdade da existência logo se revelaria a mim. E eu incentivava os gritos lancinantes, ciente de que estava realizando obra de mérito.

Quanto me enganei, bons amigos, pois agora que procuro ser sério, nada encontro que possa representar de bom para o chamamento dos irmãozinhos que estão na ignorância. Quando comecei a escrita, pensei que iria poder executar obra de vulto. Aos poucos, porém, fui entendendo que o único mérito real de tudo que escrevi foi o título, sugerido, aliás, por um dos irmãos presentes, quando do início dos trabalhos, dizendo-me para que começasse daí a caracterizar o grupo de socorristas, para estender-me convenientemente a respeito dos temas que estão na ordem do dia destas manifestações. Disse-me, também, que o pessoal que aqui se apresenta vem cheio de chagas morais, e isto me deu a idéia de que os leitores estivessem esperando por explicações teóricas.

Peço perdão pelo atrevimento e espero em Deus que minha pobreza seja o símbolo da inaptidão e da incompetência de quem não conseguiu cumprir na vida o mínimo de tarefas para engrandecimento moral e intelectual.

De fato, até que tenho alguns atributos, pois sou bem capaz de ir desenvolvendo estes tópicos, com bem pouco auxílio do médium ou de qualquer componente do grupo. Até que tenho alguma verborragia e isto se deve ao fato de ter tido a necessidade, na última encarnação, de falar muito para convencer as pessoas a adquirirem os bens que punha à venda em meus estabelecimentos comerciais. Mas cobrava muito caro por tudo o que impingia à freguesia, de modo que não fui capaz de reparar me que estado de penúria ia ficando a minha alma, ao passo que engordava as contas bancárias e aumentava a quantidade de posses materiais, especialmente de edifícios, os quais alugava com usura.

Não tenho no passivo qualquer débito de sangue, apesar de ter intentado diversas vezes contra a vida de minha consorte. Acho que exagerei nos ciúmes que sentia, ao ponto de oferecer-lhe, finalmente, separação litigiosa, em que busquei evidenciar que havia sido traído por ela, para não ter que lhe pagar pensão alguma. Na verdade, gastei com os advogados muito mais que lhe passei às mãos, e isto me deixou bastante indignado comigo mesmo, quando percebi que o fato de ter desamparado justamente a quem deveria apoiar e ajudar foi uma das causas mais poderosas de meu desequilíbrio emocional, quando me dei do lado de cá.

É interessante que ainda agora surpreendi-me na expectativa de deixar de registrar os meus maus fluidos e as péssimas vibrações — as palavras me parecem ocas —, para anunciar a vinda de algum ser de inferior qualidade, inadvertido para o fato de que eu é que sou esse miserável sofredor que está a demonstrar aos encarnados que não devem fazer nada contrário aos dispositivos da moralidade superior, mesmo que sejam simples aumentos gananciosos nos preços.

Devo estar exercendo triste papel nesta altura da comunicação, pois nem bem caracterizei os meus “pecados”, nem expus com proficiência as virtudes que deixei de adquirir. Peço perdão, dado que de forma atrasada e indireta, por ter falseado tantas apresentações aos irmãozinhos ignorantes das lorotas que lhes passava. Pensava que era por essa forma que lhes dava a satisfação de ter contatado o plano da espiritualidade, enquanto era fortemente reprimido pelos encarregados da sessão, em seu aspecto espiritual.

É interessante, no entanto, deixar escrito que nunca percebi qualquer deles assumindo a palavra para desmentir-me perante as assembléias. O máximo que faziam era pedir-me para prestar atenção nos dizeres dos amigos que desejavam despertar-me para a realidade superior. Isso eu fingia que fazia e cheguei até a decorar alguns chavões muito repetidos, o que me deu condições de desenvolver uma página inteira, pois, de início, quis passar por espírito de alguma luz, para prosseguir na mistificação costumeira. Como se pode observar, não deu certo, principalmente porque não me permitiram afastar-me, obrigando-me a prosseguir ditando as frases que iam ocorrendo-me, sem me deixarem válvula de escape para ocultar as mazelas concentradas no caráter.

Agora, sim, depois deste longo discurso, não tenho mais nada a oferecer. Se me fosse permitido colocar o coração na mão e fazê-lo ditar o período final, diria que estou imensamente feliz por ter conseguido chegar ao ponto de demonstrar a falsidade de meu ser. Estejam cientes de que outros males deixei de mencionar, alguns com bastante gravidade, o que me determinou dez anos de internamento incomunicável no setor do báratro destinado aos homicidas furiosos, de onde só saí após ter recebido o perdão formal da vítima. Como fiquei atarantado com a condição de pária da sociedade para a qual contribuí com minha insensatez, passei a perambular sem destino, sendo muitas vezes levado por seres bondosos a apresentar-me nos centros espíritas. Mas meu procedimento me fazia voltar à erraticidade. Por isto, estou estendendo este último parágrafo: para pedir aos irmãos que não permitam que regresse à peregrinação da dor, mas que me indiquem o real caminho da cura dos sofrimentos, pois estou muito cansado desta alucinante desventura. Piedade, irmãos!

Em breve oração dita pelos que estão presentes, vi que as minhas vibrações de infelicidade surtiram efeito e agora me ponho em condição de seguir em frente, com o peito arquejante ainda, mas com a mente serena. Agradeço muito a todos e peço perdão por ter, de maneira tão arrevesada, chegado ao término desta exposição, que deveria ter merecido outro cuidado. Ao irmão escrevente, a minha respeitosa consideração.

Fiquem com Deus!


Comentário

O irmãozinho deixou tudo bem claro relativamente à sua personalidade, dando-nos, inclusive, oportunidade de estender-nos um pouquinho a respeito dos atributos dos infelizes que temos selecionado para a mediunização. São seres dotados de inteligência e cheios de artifícios de comportamento, acostumados ao engodo, mesmo diante dos irmãos desencarnados. São indivíduos que se sentem todo-poderosos, pensando, cheios de orgulho, estarem com as rédeas na mão, a conduzir o carro da existência, não percebendo que rumos vão dando à jornada.

Não nos interessamos em trazer à psicografia casos mais simples de desvios comuns de conduta, conforme outras narrativas registradas pelos confrades, em obras anteriores. Esperamos que nossos “casos” possam servir para ilustrar tipo muito encontradiço de procedimento entre os encarnados, de sorte a propiciar devido alerta a algum leitor desprecavido, que não tenha atentado para as tendências ao embuste e à tergiversação aos temas das reais virtudes e dos verdadeiros sacrifícios.

Valha-nos Deus no empreendimento, pois não suportaríamos ter de enfrentar a censura dos irmãos, por imaginarem que nossa atividade possa estar eivada de presunção e orgulho. De tudo o que escreveu o atendido, aquilo a que não se pode colocar dúvida é a citação de que o nosso grupo é o primo pobre das equipes socorristas, pois, deveras, nossa luz tem pouco brilho e nossa atividade se limita a, com esforço, procurar levar os irmãos à compreensão do que torna seus fardos pesados.

Fiquem todos nas mãos do Senhor!

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