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Ensaios-->33. O CRIME NÃO COMPENSA -- 29/06/2002 - 05:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Rapidamente, o homem pulou o muro de volta para a rua, crente de que o que fizera não fora observado por ninguém, àquela hora da noite. Fora esperto em escolher casa rica e vinha com os bolsos cheios de dinheiro e de jóias. Tomaria o mesmo cuidado em gastar e não se exporia diretamente, pois era hábil o suficiente para desfazer as jóias, aproveitando o ouro separadamente das pedras preciosas. Tudo estava perfeito em sua mente.

Mas os dias se encarregariam de provar o contrário. As investigações policiais deram como resultado seu próprio nome, pois foi encontrado um fio de cabelo e a polícia foi sagaz o suficiente para, através dele, descobrir o verdadeiro autor do crime de morte necessário para manter em sigilo a identidade do assassino. É que o poder econômico da família da vítima exigiu que se conseguisse exame químico e espectral, de forma a conduzir as investigações em direção ao DNA do criminoso, exame invulgar e caro, mas realizado sob os auspícios de equipe perfeitamente treinada. Reconhecido o caráter do DNA, restou estabelecer a comparação com os padrões existentes em todos os indivíduos suspeitos da população. O trabalho seria insano se não houvesse banco de dados fornecido pela Marinha, cidade portuária em que habitavam as personagens de nossa história.

Um belo dia, batem-lhe à porta e o prendem, sem que pudesse esboçar qualquer reação.

Eis história simples que causou hilaridade entre diversas pessoas com crimes absolutamente impunes. Achavam miraculosa a descoberta do autor do latrocínio e riram muito da ingenuidade do famoso moralista e pregador que propunha que os crimes são sempre passíveis de elucidação, dizendo que não compensariam e concluindo pela virtude como arma superior, para enfrentamento das dificuldades da vida.

Pois o tempo passou e tudo caiu no esquecimento. Aos poucos, os indivíduos foram envelhecendo, adoecendo e partindo para seu destino irretorquível. Ao irem chegando do lado de cá, eram recebidos pelo pastor itinerante que se interessara nas possibilidades técnicas da investigação criminal. Sem que pudessem esboçar reação, eram catalogados pelo espírito irmão e encaminhados para instituição de recomposição energética perispiritual, independentemente de sua vontade, pois a boa criatura estava de posse de alvará dos espíritos superiores para a suspensão temporária dos direitos de livre iniciativa da parte daquele grupelho.

No ambiente sagrado do instituto correcional, foram mantidos em estado sonambúlico até que todos se vissem reunidos novamente, momento em que lhes foi colocada na frente uma tela branca, sobre a qual se projetaram as histórias de seus crimes, extraídas diretamente das consciências das vítimas. Dentre eles, havia esperto ladrão, que jamais foi apanhado por qualquer pessoa no ato mesmo do furto. Pois aí não se apertaram os investigadores do etéreo, que puderam expor minucioso relato de todas as atividades, pois lhes foi permitido vasculhar a memória do infeliz.

Após o despertar para a realidade das ações, o nosso amigo reproduziu a historieta, deu voz de prisão a todos, transformando o sagrado recinto em perfeita cadeia, com todos os requisitos de segurança dos mais modernos presídios.

Era tal o estado de desolação das criaturas que nem sequer foram capazes de imaginar os recursos utilizados para o efeito da elucidação de todos os crimes nem que a realidade do local em que se encontravam era bem diferente daquela que lhes foi mostrada. Aí se desfez a ilusão e foi dada permissão para se recomporem mentalmente, ficando livres para prosseguirem em sua existência, segundo os critérios que haviam aceito como padrões ideais de procedimento. Enfim, viram-se de novo donos do destino.

Este que vem narrar a história completa pertencia a esse grupo, tendo sofrido na alma todas as vicissitudes causadas pela superabundância das provas. Depois da soltura, elaborei todos os capítulos da longa novela de minha vida, para submeter à apreciação dos chefes das diversas organizações espirituais a que tenho acesso, segundo meu poder vibratório. Eram indivíduos maus e não foram capazes de compreender o alcance das palavras.

Corri de ceca em meca e jamais obtive sucesso, até que me compenetrei de que todas as frustrações só terminariam se desse ouvidos às palavras do pregador, que havia desprezado. Saí em busca das vítimas e convenci-as todas a me perdoarem, pois também eram pecadores e, se não perdoassem, não haveria como obter o perdão de ninguém. Logrei êxito nesta tarefa, mas precisei acrescentar alguns capítulos mais à história, o que a tornou inviável para ser contada de uma só feita. A história adquiriu muita substância, pois houve necessidade de demonstrar todas as causas emocionais, sociais e psicológicas que levaram cada criatura a estar justamente naquele local em que as encontrei, para vitimá-las de acordo com meu instinto assassino.

Em suma, para não cansar o leitor, ao me deparar com este grupo de irmãos que se dispuseram a editar o meu atrevido gesto, uma vez que me reconheço muito pobre intelectualmente, fui obrigado a reduzir tudo aos aspectos mais significativos, tendo de acrescentar este ponto novo no próprio evento em desenvolvimento, sem supor o que irá ocorrer daqui para frente.

De tudo o que disse, a realidade é que fui apaniguado com a atenção de certo indivíduo que me fez a demonstração de meus verdadeiros crimes, que julgava terem ficado no esquecimento da carne, através da morte. Até a historieta do pregador e das investigações é falsa e pretensiosa, pois imaginava que, dando a forma de narrativa impessoal ao drama de minha vida, iria escapar da análise espectral da consciência. Para isso, abri a mente ao irmão escrevente e, sem lhe pedir licença, fiz com que me fornecesse alguns elementos para a composição do ato psicográfico. Vejo que não me dei bem, pois, do mesmo modo que pude conduzir-lhe a pena pelos caminhos que determinei, fui induzido a repetir as cenas que descrevi, no sentido de demonstrar que havia muita incoerência, em função de não ter havido tempo para os indivíduos se compenetrarem de suas condições morais inferiores, uma vez que a metodologia da descoberta dos criminosos pela análise de seu DNA é recentíssima. Por outro lado, a apresentação do banco de dados da Marinha é indício de inverossimilhança, uma vez que não há nada nessa instituição que possa favorecer a pesquisa policial.

Sinto muito, pois pensei que pudesse despertar a consciência das pessoas, da mesma forma que fui despertado para a minha. Achava que estariam cansados das histórias das trevas e julguei que pudesse deixar de oferecer a negritude de minha alma à observação dos curiosos.

Dizem-me que não havia necessidade de nada disso, bastando chegar aqui e dizer que me arrependia, sem citar os fatos, propondo-me a trabalhar pelos irmãos que havia ferido. Sinto que a lição não me tenha chegado antes. De qualquer forma, pretendo deixar tudo escrito do jeito que está para servir de modelo a outros seres que tenham a intenção da malícia. Evidentemente, se não concluir dizendo que o crime não compensa nunca, não me verei contente. Pois aí está a história deste espírito sofredor. Fiquem, amigos, nas mãos de Deus e rezem muito por mim e por todos os irmãos impenitentes que estou a ver neste grupo.

Gostaria de ficar mais um pouco para dizer que o título que quero ver no frontispício é “O crime não compensa”, como já intuiu o irmão escrevente. Até mais ver, quando pretendo trazer algo mais substancioso.

Não querem que me retire sem que agradeça a boa acolhida e sem que ore em conjunto com o grupo a prece do pai-nosso. Pois, irmãos, devo dizer que venho fingindo estar de bem com a vida, pois julgava que as minhas emoções eram domináveis. Agora que me colocam diante de Deus, sinto-me tremer de medo, pois a relação de meus crimes é muito grande, tendo ficado muito tempo na escuridão para saber que dificilmente me controlarei, a ponto de atender à solicitação da prece.

Em todo caso, tenho boa vontade e me disponho a ouvir a turma em silêncio. Estendam-me as mãos em sinal de compreensão e iniciem a oração, que devo repetir por minha vez. Aguarde-me, irmãozinho, que pretendo voltar a escrever...



Agradeço muito a prece que o irmãozinho disse por mim e lhe peço desculpar-me terem minhas vibrações perturbado a sua emoção, a sua dignidade, pois não me foi permitido desvincular-me do ato mediúnico, sem que deixasse bem expressa esta parte dos trabalhos, como exemplo aos leitores do que possa ocorrer a quem esteja com o coração limpo, atendendo aos irmãos sofredores. É que o médium esteve bastante perturbado durante seu momento de reflexão e recolhimento, incapaz de prestar atenção profunda nas palavras da oração, embora todas as palavras lhe brotassem do coração. Não sou a pessoa mais indicada para realizar este tipo de comentário, mas estão obrigando-me a perceber os males íntimos que causo às criaturas com o vezo de querer ver prevalecer minhas opiniões, em viva demonstração de que muito tenho de melhorar para provocar o inverso da reação, ou seja, o de tornar as pessoas que se encontram em litígio moral mais assentadas e dignas, de forma a torná-las afáveis à benemerência. Mal ou bem, recebendo ajuda, dei o recado que me pediram, devendo agora refletir profundamente a respeito desse tema, pois a lição foi dada mas não aprendida.

Envergonhado, deixo o local, propondo-me a trabalhar pelo meu crescimento, no sentido de dar às vítimas de minha inconsciência a tranqüilidade de poder ver em mim provável protetor.

Fiquem todos sob o amparo de Deus!


Comentário

Não há muito a acrescentar às palavras do irmãozinho, no intuito da elucidação dos fatos. Não vemos necessidade de explicações, pois empenhamo-nos em fazer com que tudo dissesse, uma vez que se manifestou acessível à influenciação. Aos leitores advertimos para o modo enviesado com que se manifestou, de sorte que haverá precisão de enérgico exercício para a compreensão exata dos mecanismos psíquicos que determinaram os princípios de sua comunicação. Mas não é difícil de perceber que havia chegado ao ponto do arrependimento, apesar da invencível vergonha de descrever seu estado caótico, uma vez que não se desligou da vaidade e do egoísmo.

Há casos em que a desfaçatez da narrativa ultrapassa os limites da compostura, quando os assistidos pretendem deturpar a sua presença, pelo terrorismo e pelo engodo. Em outros, há maliciosas apreciações de compreensão da realidade, apesar da falsidade que transparece em cada palavra ou entonação. No caso em pauta, o amigo supôs que pudesse enfrentar o desvelamento da realidade através de sua superioridade emocional relativamente ao tônus que se via necessitado de manter diante do fato mediúnico. Mas as vibrações o traíram, de maneira que deu no que vimos. Esperemos em Deus que venha a se restabelecer em breve, a tempo de vir a tornar-se protetor de alguns companheiros que permanecem encarnados.

Fiquem na paz do Senhor!

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