Eu não serei aqui sua consciência.;
Apenas conselheiro, sem futuro.
Se vocês acertarem, asseguro
Que nada irão dever pela assistência.
Que pensamento existe muito impuro,
Para levar o homem à falência?
Ninguém há de obrigar à obediência,
Nem que se desça logo desse muro.
Responsabilidade do dever
Nos vai gerar, na prática, o prazer
De ver o crescimento da virtude.
Se o nosso bom amigo desconfia
De que se vai perder pela poesia,
Escreva logo um verso e isso mude.
O companheiro que tiver coragem
Para empreender, na vida, essa viagem,
Desafiando a rima de improviso,
Não comprometa o objetivo d’ouro,
Ao fazer verso que lhe dê desdouro,
Mas mostre, apenas, que tem bom juízo.
Caso chegar, agora, à conclusão
De que o meu verso manque de emoção,
Exagerando o clima da malícia,
Espere um pouco até chegar ao fim,
Pois falarei, perverso, mal de mim,
Já que esta minha trova é só sevícia.
O meu roteiro está comprometido,
Mas, se eu falhar, ninguém irá, duvido,
Acusar-me de péssima intenção.
É que estes versos soam tão formosos,
A refletir na alma doces gozos,
Que sentimentos bons provocarão.
Caso não seja sempre compreendido,
Ao menos, fique claro que eu convido
Para que o povo ore com fervor.
Nada é mais belo do que ouvir Jesus,
Em suave oração, cheia de luz,
Oferecendo ao Pai seu doce amor.
A Pátria desfilou hoje na rua,
Mas houve quem só visse falcatrua
No sentimento nobre do soldado.
São muito poucos os que têm batismo
Nos bálsamos sutis do patriotismo,
Pois a miséria grassa em todo lado.
Do mesmo modo, a fome não perdoa
Quem venha desfilar versos na boa,
A tremular a lei do espiritismo.
Quem, na matéria, vive só de esmolas
Não há de encher de rimas as sacolas,
Estando a multidão perto do abismo.
Jesus sorria pouco, é bem verdade,
Talvez por ver tão fraca a caridade,
Pois “rico” e “paraíso” não rimavam.
A quem lhe perguntou o que fazer,
Jesus mostrou o rumo do dever:
— “São as riquezas que o progresso entravam.”
Eu sinto muito se o que disse choca,
Principalmente, se você invoca
O seu trabalho junto a quem precisa.
Releve, então, o verso tão sem jeito.;
Faça por mim o bem que haja feito,
Pois a virtude o mal não ajuíza.
Fazer o bem mas sem olhar a quem
Há de incluir o rico, que não tem
Discernimento p’ra saber que sofre,
Pois a consciência, que mostrei acima,
Quando percebe o mal, jamais sublima
E abre ao mundo as portas do seu cofre.
Percebam bem o ponto que lhes trago,
Para sentir-me, assim, feliz e pago,
Que sempre um preço existe na poesia.
Não pelo verso falho ou pela rima,
Mas pelo gesto que demonstra estima,
Pois sofre o pobre aqui, sem harmonia.
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