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Contos-->O sono dos justos -- 07/11/2002 - 16:20 ( Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Diálogo entre uma menina de 6 anos e seu pai:

-Pai?
-Oi, filha.
-Deve ser difícil ser você, né?
O pai acha graça daquela pergunta, sua filha desde cedo revelava ser uma menina inteligente e que fazia perguntas curiosas, sempre o surpreendia com a sua curiosidade e forma de falar:
-Por que você acha isso minha filha?
-Ah Pai, eu vejo você todo dia saindo para trabalhar cedo, ai quando você vai me acordar e eu tô com muito sono, tenho preguiça de levantar e você não...
-Papai tem preguiça sim, mas tenho que acordar para trabalhar mesmo assim e isso se chama obrigação e responsabilidade, sem o meu trabalho não poderíamos sobreviver, papai não poderia te dar os seus presentes de aniversário, não poderíamos passear de carro como fazemos de vez em quando.
A menina ficou em silêncio por alguns segundos, ficou pensando naquelas palavras, tentava entender dentro da lógica dela o mundo dos adultos, mas não se conteve queria saber mais:
-Pai?
-Oi, minha filha.
-Então um dia eu vou ter que acordar cedo igual você,né? E se eu tiver filho vou ter que cuidar deles igual a você, mas isso só acontece quando eu ficar grande igual você,né?
O pai sorri e olha naqueles olhinhos pequenos, pareciam dois brilhantinhos, pensa como as crianças de hoje são inteligentes, na época dele com aquela idade não se preocupava com essas coisas.
-Sim filhinha, só quando você estiver mais velha e se tiver filhos iguais eu e sua mãe tivemos, você vai ter que cuidar deles como a gente cuida de você.
-Mas pai...Isso vai demorar muito?
-Acho que sim filha, um pouco, por que?
-Ah, porque eu já brinco de mamãe com as minhas bonecas, mas não sou igual à mamãe é comigo com elas.
-Mas isso que você faz é só uma brincadeira filha, você fala, você tem suas vontades, as bonecas são só brinquedos.
-Sabe pai, eu queria que elas fossem de verdade.
-Por que filhinha?
-Para poder saber como é ser a mamãe.
-Filha tudo tem o seu tempo.
-Mas pai, eu tenho medo.
-De quê filhinha?
-De quando chegar a minha vez não saber ser igual vocês são...

O anos se passaram a menina virou mulher, seu pai quando ia para o trabalho sofreu um acidente e morreu, isso aconteceu dias depois que eles tiveram essa conversa, sua mãe disse a ela que seu pai havia viajado para um lugar bem longe.
A menina cresceu com essa história, os anos a fizeram entender que ele não ia mais voltar, que aquela viagem foi sem volta, mas mesmo assim ela nunca deixou de amá-lo, sempre quando estava muito triste se sentava na cama e olhava pela janela, era ali que ela ficava esperando ele chegar, essa saudade não era algo que causava dor e sim alegria, afinal seu pai tinha ensinado para ela tantas coisas bonitas e já faziam tantos anos, mas ainda parecia que tinha sido ontem que ele a pegava no colo e dizia que ela era o tesouro da sua vida, ficava falando da sua esperteza e de sua inteligência, que quando ela crescesse ela seria médica e assim foi, ela tinha acabado de se formar em medicina.
No dia em que seu pai morreu, ele havia acordado mais cedo do que de costume, não havia conseguido dormir direito, estava com problemas na empresa, tinha medo de ser mandado embora, muitos colegas seus já haviam sido, tomou seu banho como de costume, demorou um pouco mais para dar a hora certa de acordar a filha.
Antes de acordá-la sentou na ponta da cama e ficou olhando a menina dormir, ela dormia o sono dos justos, parecia um anjinho todo encolhido, ele sempre gostava de ver as pessoas dormindo, era o momento onde todas elas estão indefesas, quando somos nós mesmos, fez isso muitas vezes com a mulher, afinal era a única hora que ele podia ficar olhando para ela sem ela se incomodar ou ficar com vergonha.
Acordou a filha com um beijo e um abraço, ela era sempre preguiçosa para acordar e quando acordava ficava de mal humor, fazia birra, mas aos poucos ia voltando ao normal, era uma menina doce.
No caminho da escola foram conversando como sempre faziam, ela com aquelas perguntas divertidas e curiosas, do tipo: Por que as pessoas trabalham de manhã? Por que a mamãe trabalha em outro lugar diferente do seu?...E por ai vai.
Na porta da escola um beijo e um abraço para se despedir, falou para ela prestar atenção na aula,nada diferente de todos os dias, a rotina de ser pai para ele era algo especial, esperou muito anos para poder sê-lo, a mulher fez muitos tratamentos e quando já tinham desistido, ela engravidou daquele anjinho.
Minutos depois quando ele virava uma esquina um motorista bêbado bateu violentamente na sua porta e o matou...
Sua mulher quase morreu depois que soube da noticia, ele sempre havia sido um bom homem, eles se amaram durante 10 anos, a dor durou a vida toda, mas ela voltou a se casar dois anos mais tarde, a vida tinha que continuar e a solidão era algo que ela não podia suportar.
A menina que agora era mulher, cresceu sem pai, teve um bom padrasto, mas que nunca tomou lugar de seu pai no seu coração, saiu de casa aos 18 anos e nunca mais voltou, morou com os avós na cidade onde estudou medicina.
Teve alguns namorados, mas nunca teve muito tempo para eles, dedicava-se muito aos estudos e eles acabavam não entendendo e não aceitando isso.
Mais uns anos se passaram e ela já estava com um bom consultório, havia comprado uma linda casa, havia conquistado a segurança profissional e financeira, estava feliz em quase tudo, só faltava amor e companhia.
Já fazia algum tempo estava procurando alguém legal para namorar, para quebrar aquela monotonia que a sua vida tinha se transformado, de casa para o trabalho, do trabalho para casa, fim de semanas na casas do avós ou da mãe, mas já tinha desistido, os homens eram complicados demais para ela.
Um dia resolveu sair para andar um pouco, a noite passada tinha sido cansativa, ficou atendendo pacientes até tarde, precisava relaxar um pouco, se desligar dos problemas, caminhava num parque próximo de sua casa e notou que um homem a ficava fitando toda hora, se cruzaram algumas vezes durante a caminhada, achou que deveria ser só uma paquera, cansou da caminhada e resolveu voltar para casa.
Para a sua surpresa o homem a abordou e se identificou, era um amigo da faculdade, ela pediu desculpas por não ter se lembrado dele, continuaram conversando por mais alguns minutos, trocaram telefones e descobriram que moravam na mesma rua...
Desse encontro nasceu mais um amor no mundo, namoraram por um ano e meio e foram morar juntos, como um teste para saber se era aquilo mesmo que queriam, seis meses depois resolveram se casar.
Casar nunca tinha sido o sonho da vida dela, mas o amor tinha sido justo com ela, havia encontrado alguém muito bom, muito carinhoso a quem ela aprendeu a amar.
Sua mãe estava muito feliz, já não vivia mais com o padrasto, morava sozinha, mas namorava um outro homem, a solidão ainda era o seu maior problema.
Na hora de entrar na igreja, quis entrar sozinha, era como seu pai estivesse ali do seu lado e só ela pudesse ver...
O casal abriu uma clinica juntos e todos anos viajavam para um lugar diferente, coisa que ela aprendeu com ele, afinal ela só pensava em trabalhar e ele era o equilíbrio e era por isso que davam certo, resolveram ter filhos um tempo depois.
Ela não quis saber o sexo do bebê até o dia do nascimento, só soube quando o médico colocou o bebê no seu colo e disse que era um menino.
Ele se parecia muito com ela quando era pequena, assim dizia a sua mãe, o olhos eram muitos parecidos e ele também sempre foi muito esperto e inteligente, gostava de ouvir histórias antes de dormir, mas só fosse contada pelo pai e pela mãe juntos.
Uma noite depois de uma história contada por eles, ficou um tempo conversando com a mãe, o pai foi dormir logo, estava muito cansado do dia cheio que havia tido:
- Mãe?
-Oi,filho.
-Deve ser difícil ser você,né?

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