Usina de Letras
Usina de Letras
165 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62072 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->O AMANTE DE LADY CHATTERLEY - ANÁLISE -- 07/11/2002 - 21:47 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Amante de Lady Chatterley - Análise

Não sou nenhum especialista em análise de obras literárias, mas acho que isso não me impede de fazer uma pequena análise dessa obra tão importante quanto “O Amante de Lady Chatterley” do inglês D. H. Lawrence.
Não vou me gabar de ser um profundo conhecedor das obras desse extraordinário autor. Posso afirmar, porém, que tive a oportunidade de conhecer praticamente toda a sua obra literária. Não foi nada fácil conseguir os exemplares de algumas de suas obras. Excetuando-se “O Arco Íris”, “Mulheres Apaixonadas” e “O Amante de Lady Chatterley” todas as demais estão esgotadas. Alguns poemas e contos podem ser encontrados na Internet tanto em português quanto no original.
É bom salientar que a obra em questão não é a obra mais importante do autor; contudo, é a mais conhecida e a mais polêmica. A superioridade do romance “Mulheres Apaixonadas” é indiscutível, talvez por isso mesmo, seja uma obra não muito fácil de ser compreendida.
O Amante de Lady Chatterley foi publicado em 1928. Foi proibido na Inglaterra por 32 anos por ter sido taxado de imoral e pornográfico pela crítica inglesa. O livro só pôde sair no exterior, mesmo assim com muita dificuldade. Apesar de ser inglês, o autor não pode ver a sua obra publicada no seu país, pois veio a falecer em 1930 com apenas 44 anos, vitimado pela tuberculose que o acompanhara por quase toda a vida.


RESUMO DA OBRA

Constance, a Lady Chatterley, casa-se com Clifford. Ela é uma mulher liberal que teve a primeira experiência sexual antes do casamento; ele é um aristocrata conservador. O relacionamento sexual entre eles é um fracasso e dura pouco porque, logo depois do casamento, ele vai para a guerra e volta impotente.
O casal vai morar na mansão Wragby Hall, nas proximidades das minas de carvão do esposo. Constante sente-se oprimida com o local e com a impotência do marido. Isso a leva a se envolver com um escritor que freqüenta a casa do casal. Contudo, o escritor Michaelis sofre de ejaculação precoce. Então ela não consegue se satisfazer com ele e acaba se afastando do escritor.
Depois, ela adoece e vai tratar-se em Londres, retornando posteriormente a Wragby Hall. Agora que o marido tem uma enfermeira para cuidar dele, ela tem toda a liberdade para sair; e num dos passeios pela floresta se encontra com Mellors, o guarda caça de Clifford. Ele até que tenta evitar qualquer tipo de intimidade com a mulher do patrão, mas não consegue. Esses encontros acabam num relacionamento afetivo e sexual.
Enquanto isso, à medida que ela vai se afastando do marido, a enfermeira Sra. Bolton vai se tornando mais íntima do marido de Constance.
Lady Chatterley engravida de Mellors e a enfermeira insinua para os visinhos que o filho não é do marido. Para evitar um escândalo, Constance viaja com a irmã e o pai para Veneza, com o objetivo de arrumar um amante para dar um herdeiro ao esposo. Tudo com autorização de Clifford. O amante, porém, não concorda; mas, aos poucos acaba cedendo para evitar a descoberta do relacionamento entre ambos.
Por infelicidade, enquanto ela está em Veneza, a esposa de Mellors retorna e é rejeitada. Ele vai para a casa da mãe e Constance é avisada. Mellors discute com o patrão e é despedido. Constace e o amante se encontram em Londres e depois volta a casa para comunicar ao marido que quer o divórcio. Clifford não aceita dar o divórcio.
Clifford e a Sra. Bolton dividem o mesmo espaço e mantém um relacionamento afetivo similar ao de mãe e filho. Constance e Mellors guardam distância para manter as aparências até estarem em condições de assumir definitivamente seu relacionamento. Este é o final da história.


PERSONAGENS

A obra gira quase que inteira em torno dos quatro principais personagens. O autor procura descreve-los de acordo com o papel que vai representar na obra.
Constance é descrita de forma a mostrar o que era antes e depois do casamento, e posteriormente o que veio a ser após o encontro com Mellors. Além disso, é importantíssima a origem abastarda, a educação livre e o sexo antes do casamento. Teve uma intimidade maior antes do casamento do que com o esposo. Apesar de se sentir infeliz sexualmente no casamento, é uma mulher segura de si mesma. É importante notar que ela se modifica sensivelmente ao longo da narrativa. Até se envolver com Mellors, ela não tivera um relacionamento pleno com um homem; e quando o tem, se afasta progressivamente do marido até abandona-lo para ficar com o amante.
Mellors difere de todas as outras personagens masculinas. Levou uma vida errante, casou-se, teve uma filha e separou-se partindo para as colônias. Ao retornar, empregou-se como guarda-caça de Clifford. É um homem solitário, avesso ao convívio social e procura levar uma vida tranqüila junto à natureza. Não se importa com o dinheiro e também não pretende envolver-se com nenhuma mulher; por isso deseja ficar só e desliga-se completamente do mundo exterior, refugiando-se na floresta. Não era um homem bonito, mas atraente. Além disso, era sincero, pouco exigente em matéria de amor e, apesar de dominar o inglês, prefere usar um dialeto vulgar.
Clifford é um homem rico e poderoso. Dono de Wragby, da mina e da vila, casou-se com Constance e logo depois foi para a guerra retornando mutilado e impotente. Obrigado a viver numa cadeira de rodas. Por isso, não têm ligação sexual alguma com a esposa. Depois de curar-se dos ferimentos, passa a dedicar-se à literatura. Incentivado, porém, pela enfermeira, ele abandona a literatura e entrega-se à administração de sua mina. Apesar de tradicionalista e aristocrático, é capaz de admitir que a esposa tenha um filho de outro homem para continuar sua linhagem. Contudo, o seu status social não o impede de ter um comportamento infantil do início ao fim da obra.
Sra. Bolton é a enfermeira contratada para cuidar de Clifford. É uma viúva e tem duas filhas adultas. Ela acredita que todos os homens não passam de bebês. E é com esse comportamento que ela vai influenciar o paciente. Logo de início, ela conquista a confiança e a atenção do patrão. Além disso, ela é uma mulher que gosta de fofocar sobre a intimidade de todos os moradores da vila. Inclusive é ela quem espelha pela vila a notícia de que Constance está grávida e que o filho provavelmente não era do esposo. Ela também é uma mulher de grande bom senso e dona de certo cepticismo.
Esses personagens, na verdade, formam dois pares: Constance/Mellors o casal saudável e Sra. Bolton/Clifford o casal doentio.
Além desses personagens, há os personagens secundários como: Sir Malcolm, pai de Constance, que é um homem sensual e aberto, e responsável pela educação liberal da filha; Michaelis, o primeiro amante de Constance, é um homem atirado, cínico e dissimulado que não conseguia satisfazer sexualmente a parceira por ter ejaculação precoce; Tommy Dukes, amigo de Clifford, é um homem culto, valoriza mais a contemplação que a especulação filosófica e admite que o sexo é importante nas relações entre homens e mulheres; Leslie Winter, o padrinho de Clifford, é um velho aristocrata conservador que acredita nas teorias racistas em voga no início do século; Hilda, a irmã mais velha de Constance, que não admite relacionamento entre pessoas de classes diferentes e, mesmo assim, ajuda a irmã a se encontrar com Mellors.


TEMPO E ESPAÇO

O tempo é rigorosamente cronológico, cobrindo um período de mais ou menos um ano. Começa com o casamento de Clifford e Constance em 1917 e vai até a carta que Mellors escreve para a amante, na primavera seguinte.
A vida das personagens está condicionada aos ciclos naturais. Apesar da ausência específica de datas, é possível concluir que a narrativa é linear.
O espaço é aberto. Essa parece ser uma preocupação do autor, pois há uma clara distinção entre espaço social e natural e que chega a ser quase uma oposição. Enquanto o primeiro é sempre pesado, feio, deprimente e opressivo o segundo é belo, saudável e agradável.
Apesar de que não há quase sempre descrição detalhada dos ambientes fechados, eles sempre refletem a personalidade de seus habitantes. Além disso, o autor adota sempre uma perspectiva realista em relação ao espaço social e suas mudanças não passam despercebidas ao narrador.
O livro é narrado em terceira pessoa, com o narrador demonstra saber tudo do começo ao fim da obra. Ele, por sua vez, adota uma posição favorável às mulheres. Em alguns momentos, ele partilha as mesmas sensações e os mesmos ideais com as personagens.

MENSAGEM

A obra faz uma clara distinção entre os dois tipos de relacionamento, nos dando a impressão que a intenção do autor foi justamente nos levar a optar entre um e outro. Ou seja, você poderá optar pelo relacionamento Constance/Mellors ou pelo Sra. Bolton/Clifford.
No primeiro caso, está o relacionamento saudável, representado pelos Amantes. A união entre os dois rompe com todas as convenções sociais. Constance e Mellors são, a bem da verdade, apenas um homem e uma mulher que desejam levar ao limite todas as possibilidades de sua união. Isso é confirmado pela plena satisfação sexual que obtém nos contatos físicos. E é justamente essa satisfação que mantém estável emocionalmente o relacionamento entre os dois.
No segundo caso, está o relacionamento doentio entre o paciente e sua enfermeira. Isso fica evidente pelo tratamento que ela dispensa a Clifford, tratando-o como um bebê e por optar pela intimidade doentia com ele a se casar com outro homem.
Diante de tantas evidências apresentadas no romance, é possível afirmar que a ligação entre o primeiro casal é fruto de suas inclinações naturais, enquanto a ligação do segundo casal é resultado de seus desvios emocionais que podem ser entendidos como regressão. Isso nos leva a entender o porque da preocupação do autor com na caracterização psicológica dos personagens. Essa caracterização não é nada mais nada menos que uma forma de mostrar a afinidade associativa. Afinidade essa que faz com que pessoas semelhantes no comportamento psicológico tendem a se aproximar uma da outra.
Acreditando nessa afinidade, o autor quis mostrar que nenhuma convenção social é capaz de impedir que duas pessoas semelhantes se aproximem. Mesmo quando essas duas pessoas são de classes, nível cultural e estilo de vida tão diferente. Sabendo-se que Lawrence era um homem culto, ele pode ter sido influenciado pelas teorias de Freud ao escrever este romance; uma vez que a ênfase dada ao sexo na construção da personalidade é produto das teorias freudianas.


CONCLUSÕES

A conclusão que se chega ao final da história é que o livro é uma obra que se aproxima do Realismo. Isso pode ser afirmado pelo tratamento dispensado ao espaço social e a traição. Este último, porém, não tem a importância na obra como teve no Realismo. Outra coisa que a diferencia um pouco do realismo é a conduta dos personagens com relação à raça e meio. Aqui o que importa são as necessidades sexuais do casal Constance/Mellors e não os outros detalhes.
Outra coisa importantíssima é se o livro é uma obra pornográfica ou não. Essa é uma controvérsia difícil de resolver; mas, se analisarmos bem a obra e todo o conjunto das obras do autor, é possível chegar a conclusão de que não. O livro “O Amante de Lady Chatterley”, apesar das descrições de atos sexuais, não é uma obra pornográfica. Isso fica evidente na diferenciação que o autor faz ao descrever o sexo antes e depois do início do relacionamento entre Mellors e Constance. Ao verificarmos, fica evidente a diferença entre o ato físico e sentimento que o envolve. Ou seja, o autor quis mostrar que fazer sexo sem amor é uma coisa e fazer amor é outra totalmente diferente.
Para finalizar, também é possível afirmar que a proibição à obra é mais resultado dos preconceitos da época do que o conteúdo da obra.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui