As dúvidas que trago no meu peito
Não devem perturbar o bom leitor,
Pois tudo o que vier aqui compor
Deve ter a chancela clara: “Aceito.”
É preciso atender ao instrutor
E demonstrar, para esta rima, jeito.;
E não sair jamais insatisfeito,
Tudo fazendo alegre e com amor.
Por isso, eu preferi o bom soneto,
Para dar forma rápida ao meu tema,
Pois não consigo calcular sexteto.
Aqui, o meu melhor estratagema
É comprovar que logo eu me arremeto,
A dar uma forcinha p’ra quem rema.
Se estivermos, um dia, preparado,
Para vir demonstrar o nosso agrado,
Pelo efeito do verso no leitor,
Iremos reagir em harmonia,
Para dar do melhor, nesta poesia,
Que hoje está a causar grave estupor.
Provado pela norma de Jesus,
Que sentimento ótimo produz
A quem se compenetra do dever,
Viremos para o estímulo do amor,
Enovelado, embora, nesta dor,
Que a trova não traduz, por bem-querer.
Aceita, bom amigo, o nosso verso
E faze o coração ficar imerso
Em sentimentos puros, virtuosos.
Não há autor que fique só de longe,
Guardado no mosteiro, feito monge:
Queremos cá sentir os mesmos gozos.
A gente que mantém a alma pura
E que, para o autor, bem assegura
Estar interessada nos poemas,
Consegue usufruir todo o carinho
Que sai de nossa mente em desalinho,
Porém, co’as vibrações de amor supremas.
É importante assim esta leitura?
Talvez não seja tanto mas nos cura
A dor de um compromisso inacabado.
Se o verso sai da alma com ardor,
Requer um sentimento do leitor
Simpático ou, ao menos, com agrado.
O duro é vir trazer esta lição
Sabendo ser mui pobre, de antemão,
Contudo, necessária e oportuna.
Senão vão desprezar esta poesia,
Pensando que um qualquer melhor faria,
Ao transformar o médium em tribuna.
Quisera estar mais ágil no pensar,
Conquanto cá viesse devagar,
Para dispor os versos no poema.
O tema não vai dar para obra-prima,
Contudo, a caridade encontra rima
Na cordialidade do meu tema.
Pedir perdão é pouco, nesta hora,
Que o verso o sentimento muito explora,
Querendo que o meu povo se apiade.
Mas, se o poema for incinerado,
Como saber se não será do agrado
De quem age por bem e caridade?
Nós vamos ficar só mais um pouquinho,
Pois cada verso bronco é um espinho
Que sai de nossa carne magoada.
Talvez perturbe a gente que nos leia,
Por ser a dura rima, pobre e feia,
Contudo, quem compôs já não se enfada.
Percebes, bom leitor, toda a importância
Que tem, para este autor, essa constância
Com que te comprometes com as trovas?
Os versos não se escrevem para a gente,
Mas para demonstrar que a turma sente
O mesmo amor que tu também comprovas.
Eu falo pela equipe que se agrupa.
No formigueiro, eu sou somente a pupa
Que estremeceu e quis participar.
Eu vou agradecer e vou-me embora,
Deixando o meu abraço a quem demora
A pôr de volta o livro no lugar.
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