Querida Amélia:
O seu casamento trouxe muita alegria ao meu coração e hoje me ponho a pensar saudoso em nossas criancices de antigamente. Mas não venho com o intuito de trazer-lhe lembranças amargas, que a fase da infância, quando marcada pela tragédia familiar, é sempre desagradável para os adultos.
A perspectiva de ter sobrinhos póstumos, se assim posso exprimir-me, me enternece e me dá ganas de abraçá-la fisicamente.
Deus ajude a você em seus sonhos de vida em conjunto com uma pessoa escolhida e amada. Não vá mostrar a ele esta missiva, para que não fique magoado por você. Se o fizer, previna-o quanto à sua sabedoria espírita, porque deve ele espantar-se que alguém possa, estando do outro lado da vida, intrometer-se nos eventos do mundo.
Quando me imaginei a escrever para você, mulher de verdade (lembra-se?), tive a intuição de que não alcançaria desenvolver muitos temas de nossas antigas preocupações. Mas uma de caráter essencial está presente e é imprescindível para que você saiba que sou eu mesmo quem está aqui.
Fique, portanto, bem tranqüila, sabendo que passo bem e que me alegro fraternalmente com as conquistas do povo que abandonei há mais de dez anos.
Deus a proteja e lhe dê tudo quanto você merece.
Um beijo.
|