Suave entorpecimento tomava-lhe a mente. Não sabia bem o que seria aquela agradável sensação de abandono. Era a primeira vez que adentrava o sagrado recinto da casa de evangelização e já percebia os eflúvios espirituais emanados pelos espíritos guardiães por sobre todos os que, de coração puro, pretendiam auxiliar nas tarefas do socorrismo fraterno. Fora levado pela carinhosa esposa, que conseguira dele delicada anuência, dada a necessidade moral por que estava passando.
Dificuldades financeiras levaram-no a endividamento. Não sabendo como resgatar as promissórias, empenhara a palavra, no sentido de contribuir com sua participação para crime que o isentaria do pagamento da dívida. Mas, antes que se concretizasse o ato criminoso, seu coração, não habituado a deslizes que subtraíssem bens de pessoas inocentes, se confrangeu, incitando a consciência a se rebelar contra as disposições mentais que favoreciam a perpetração do crime. Encorajado pela compostura moral da querida esposa, referiu a ela o que se passava, tendo recebido palavras de reconforto e de esperançosa crença na possibilidade de receber ajuda da misericórdia divina. Foi com essa disposição moral que se permitiu guiar até o centro espírita freqüentado pela consorte.
Ao receber o impacto da benignidade espiritual, sentiu percorrer-lhe o corpo longo estremecimento, borbulhando-lhe a pele como se subitânea emoção lhe tivesse atingido o cerne emotivo da personalidade. Impressionado pela paz que sentiu, favoreceu a aproximação dos espíritos de luz que orientavam os trabalhos do dia. Tratava-se tão-só de sessão de estudos e de passes magnéticos regeneradores do perispírito. Entretanto, temendo pela sorte do marido, a mulher confidenciou ao doutrinador de plantão os seus receios. Em prece surda, elevou este pedido de auxílio aos amigos da espiritualidade. Sem demora, entreteceram eles alguns laços magnéticos e, impondo-os por sobre a cabeça do necessitado, vibraram intensamente em amor, de sorte que conseguiram insuflar-lhe na mente a firme e corajosa decisão de repudiar os malefícios que iria empreender, bem como de se afastar dos elementos que o haviam envolvido naquela trama sinistra.
Ao deixar o ambiente de paz, foi assaltado por inúmeras questões relativas à execução de seu plano de regeneração moral. Vinham-lhe à inteligência razões de toda ordem que o obrigavam a admitir, no mínimo, que os problemas a serem enfrentados por se recusar a participar da má ação eram, de certo modo, muito superiores, muito mais dificultosos do que se consentisse em prosseguir com o plano criminoso. Sua consciência, no entanto, advertiu-o de que poderia estar sendo alvo da maldade de entidades sofredoras, incapazes de se manter afastadas da criminalidade. Expôs à mulher as hesitações mentais, obtendo prática resposta: chegados à casa, abriram “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e leram capítulo que, por “coincidência”, lhes trouxe a inspiração para superarem todas as dificuldades.
Foi assim que Honorato se tornou fiel discípulo de Jesus, transformando-se em um dos mais persistentes colaboradores das obras assistenciais do centro espírita, contribuindo ainda para as aulas e demais atividades do socorrismo mediúnico. Hoje, descartado dos liames carnais, compareceu a este cantinho, para trazer a sua lembrança e a sua emoção. Graças a Deus!
Exercícios
Vamos ao roteiro de análise do texto do Honorato, estimado discípulo e amigo, que aquiesceu com grande agrado a oferecer sua experiência de vida, para que pudéssemos elaborar a unidade de ensino. Vamos rogar aos céus que iluminem a inteligência do valoroso colaborador, para que possa continuar proporcionando ao grupo as luzes de seu saber. Muito obrigado, irmãozinho!
Responda com profundo respeito.
1. Que sentiu quando, pela vez primeira, adentrou o círculo de centro de estudos e de confraternização espiritual? Defina a sensação com abundância de minúcias.
2. Qual foi o recurso argumentativo que o convenceu a se aproximar desse centro? Passava por alguma crise existencial? Qual? Por quê? Livrou-se dela? Compreendeu-a? Angustia-se ainda só em lembrar-se do fato? Por quê?
3. Recebeu algum dia amparo para a solução de algum problema? Conte o caso, dedicando especial atenção para seu procedimento antes, durante e depois do ocorrido. Se tiver algum tipo de constrangimento, não se manifeste, mas procure conhecer qual a causa e elimine-a. Somente quando a pessoa for capaz de referir-se a si mesmo como se fora um terceiro é que terá, de fato, extirpado pela raiz o mal que a aflige.
4. Saberia caracterizar com precisão de que tipo foi a ajuda magnética recebida por Honorato na sessão de “passes” espirituais? Defina-o para os colegas. Talvez, ao responder a esta questão, vá necessitar de compulsar algumas obras especializadas. Faça-o.
5. Por esta você deveria estar esperando: que mensagem d O Evangelho serviu de guia para que Honorato pudesse suplantar as dificuldades? Cite-a e comente os mecanismos de argumentação necessários para fazer a consciência compenetrar-se de que não deveria ceder às pressões deletérias dos credores.
6. Foi por solicitação nossa que Honorato suspendeu a narração dos acontecimentos naquele ponto. Pedimos-lhe que prossiga o enredo a partir do momento da leitura d O Evangelho até o desfecho feliz. Não se esqueça de que havia duas complicações para serem resolvidas: a pressão dos credores e a dívida. A pedido do escrevente, solicitamos aos alunos que não dêem a Honorato a possibilidade de ganhar nenhum prêmio lotérico. Isto é, tudo deve fluir de modo natural para um indivíduo amparado espiritualmente.
7. Caso não tenha percebido, fizemos passar em branco até aqui a participação da esposa nos acontecimentos. Elabore questão a respeito do procedimento dela e peça para um dos companheiros responder. Teremos, assim, várias interpretações do comportamento feminino. Ao final das discussões, faça com o grupo oração de agradecimento ao Senhor pelos atributos específicos destinados às mulheres. Em seguida, avance o estudo perquirindo a respeito da sexualidade em função do lento progredir humano, evidenciando os aspectos positivos das encarnações como homens e como mulheres.
Comentário
Cremos que estes exercícios tenham sido suficientes. Queremos agradecer toda a colaboração do escrevente. Saiba que sua ajuda não só foi aceita como também foi estimulada, porque sabemos de suas qualidades como orientador de grupos de estudo. Não acredite, porém, que os temas tenham sido determinados por ele aleatoriamente. A sua participação se restringiu à justa medida técnica do desenvolvimento da “lição”. Gratos lhe ficamos pela boa vontade e esperamos tê-lo de novo a serviço de Jesus na próxima semana, uma semana especialíssima (Semana Santa), pois enseja inúmeras oportunidades de recolhimento espiritual e favorece penetração maior dos estímulos morais elevados, no sentido de encaminhar encarnados ou sofredores à compreensão da realidade da existência, em função da paixão e dos ensinamentos do Cristo.
