Aproxima-se o dia da partida.
O povo já se arruma para ir
E suplica ao confrade Wladimir
Que pense, um pouco mais, em sua lida.
Não há como escapar do devenir,
Que, assim, é que se leva cada vida,
No amor do companheiro que convida
A que se possa sempre progredir.
Jesus já nos espera lá no Alto,
Mas não iremos dar um grande salto,
Pois devagar se vai à outra esfera.
Um dia, o povo chega aos pés de Deus,
Somente bem depois que forem seus
Os atributos que a virtude gera.
Vou refletir muitíssimo no bem,
Pois, até hoje, dei tolo desdém
Ao compromisso sério da virtude.
Reconhecendo que essa lei vigora,
Tal esforço jamais é fora de hora:
Quem pensa diferente mais se ilude.
Eu quero desejar felicidade
Ao que a fazer o bem se persuade,
Independente desta história minha.
Assim mostrou Jesus em doce apelo
E disse-nos Kardec que fazê-lo
É obrigação do povo que caminha.
Não pare, meu amigo, no caminho
E diga: — “Do Senhor eu me avizinho,
Pois sofro, sem qualquer reclamação.”
A vida que se leva aqui na Terra
Uma verdade lógica descerra:
Não há como fugir de dar a mão.
O lote das estrofes sempre aumenta,
Que é farta a nossa messe de escansão.
Nem todas, com certeza, à luz irão,
Mas uma só das minhas me contenta.
Vou pôr neste soneto o coração,
Que a luz do descortino não me isenta
De ter um certo orgulho que acrescenta
O medo de que o verso seja vão.
O meu caro leitor não desanima
E pede mais calor à minha rima,
Fremindo p’ra que tudo dê bem certo.
Aí, eu chego ao fim, desenxabido,
Porque perdi do tema o bom sentido,
Estando o seu amor aqui bem perto.
Querendo descartar-me deste verso,
Busquei dar-lhe um sentido mau, perverso,
Fazendo qualquer coisa de improviso.
O mestre olhou-me sério para a rima
E disse, com afeto, ali, em cima:
— “Compadre, a rima tem de ter juízo!”
E disse mais: que a vida não permite
Que o mal estabeleça o seu limite,
Mas que a virtude sempre prevaleça.
O verso mau queimei ali, na hora,
E tento ver se o próprio aqui melhora,
Conquanto seja rude esta cabeça.
Falei do meu trabalho com orgulho,
Mas não fui longe ou fundo no mergulho,
Por me saber restrito a certos temas.
Tivesse a experiência superior,
Demonstraria todo o meu vigor,
Em rimas de virtudes quase extremas.
Como sente o leitor o meu esforço?
Considera possível, neste corso,
Divertir-se, aprendendo algo de bom?
Ou salivei à toa o meu latim,
Pois foi a rima apenas pobre fim,
Não chegando a doutrina a dar o tom?
Então, vai perdoar-me o bom amigo.
Corri o risco de enfrentar perigo,
Sem alcançar um verso só perfeito.
A rima até que esteve trabalhada.;
O tema repetido é que me enfada,
Que o bem que a gente faz quer ver aceito.
Vou pedir ao leitor para que reze,
Mesmo que este trabalho nunca preze
E veja em tudo isto só bobagem.
Mas alegria é tema para o verso,
Quando se encerra o dia, aqui imerso
Nesta escansão de amor aos que reagem.
Eu vou pedir, enfim, a Jesus Cristo,
E nisto eu bato o pé, me esforço, insisto,
Que numa só estrofe caiba tudo.
As leis do amor, que a vida purifica,
Hão de tornar noss’alma muito rica,
Se unirmos o trabalho com o estudo.
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