Antoninho não pretendia ofender ninguém. Sabia que as pessoas se sentem muito infelizes quando são destratadas ou não são levadas em consideração. Por isso, falava o menos possível, apenas quando necessitava de algo ou quando se visse na obrigação de agradecer favores e obséquios. Nesse momento, rasgava os maiores elogios a quem o tivesse favorecido em qualquer circunstância, por mais insignificante que fosse.
Um dia, andando pela via pública, constatou uma aglomeração. Sua curiosidade o conduziu até lá. Mas, estando quase chegando junto ao grupo, deu-se debandada geral, pois o que ocorria era altercação entre pessoas. Diante da ameaça de se sacar alguma arma escondida, o populacho, “pernas pra que vos quero”, “deu às de vila-diogo” e se dispersou em correria. Surpreendido, Antoninho não reagiu à altura e se viu colhido por várias pessoas, sendo arremessado ao chão. Aparvalhado, não percebeu que caíra por sobre rotunda senhora, que não tivera a mesma ligeireza dos demais.
Que desagradável situação! Sem saber o que fazer, mas temeroso de ter ofendido a tal senhora, procurou levantá-la do solo, erguendo-a junto ao peito, na intenção de carregá-la para longe do tumulto. Não teve forças, porém, e caiu redondamente, trazendo aquele enorme peso consigo. E estatelado ficou debaixo do imenso volume inerme, dado que, pelo imprevisto do solavanco, a senhora perdera os sentidos. Foi a situação mais esquisita por que já alguém passou naquela comunidade. Os contendores esqueceram-se até da querela, principalmente porque perceberam que o gesto de buscar a arma não tinha sido bem interpretado, já que o tumulto tinha sido adrede preparado para facilitar a atuação de diversos batedores de carteira.
Diante do riso geral, Antoninho sentiu-se profundamente diminuído em sua humana consideração. Viu-se alvo dos motejos que nunca tivera coragem sequer de assacar contra quem quer que seja, mesmo em pensamento. De pronto, solidificou-se-lhe na mente que tudo o que antes pensara a respeito dos semelhantes estava errado, que a vida oferece inúmeras oportunidades de crescimento, mesmo quando aparentemente as atitudes possam parecer extremamente agressivas. De tudo se pode extrair alguma lição e Antoninho soube perdoar os irmãos que o ridicularizavam e admoestavam, por ter percebido finalmente que era merecedor de todas aquelas chacotas.
Eis como devem os encarnados encarar as recomendações dos que se atrevem a encaminhar-lhes do etéreo as mensagens, através das quais revelam as imperfeições e a necessidade de se porem a braços com o trabalho de regeneração.
Se cada um acender a susceptibilidade diante do próximo, quem poderá oferecer arrimo seguro em que se apoiarem as críticas construtivas? Ao contrário, é preciso que os encarnados se assegurem do valor das palavras de advertência dos espíritos que se sintam preocupados com seu desenvolvimento de vida sobre a face da Terra. Que todos se vejam na obrigação de se examinarem à luz da razão, segundo o prisma da verdade evangélica. Que não se sintam titubeantes, pois poderão, qual o Antoninho da história, ver-se às voltas com os problemas que mais desejariam afastados de si. É preciso aprender a ter a coragem de se desvendar, para que se possam adquirir definitivamente as virtudes que faltam.
Se, por acaso, a compreensão se vir embotada por reações desencadeadas pelo amor-próprio e nos sentirmos até envergonhados por estarmos diante de nossas debilidades, que usemos de toda a franqueza perante Deus e ergamos os pensamentos, em preces de muita humildade e respeito. Que saibamos reconhecer no Pai aquele sublime orientador que nos revelará definitivamente o caminho para a salvação.
Otávio (pela equipe).
Comentário
Outro grupo de aluninhos participou da transmissão. Produziram o texto, partilharam dos trabalhos de psicografia e produziram até esta observação. No entanto, foi Otávio quem providenciou a imantação, dando todas as instruções necessárias para que o trabalho chegasse a bom termo. Deste tipo de tarefa é que nascem os conhecimentos práticos que levarão os estagiários a dominar a técnica. Por isso, é preciso ter bastante paciência para aceitar as fraquezas dos textos e das imagens. Não se esperem obras literárias, por favor. Fiquemos somente nas tarefas da aprendizagem. Gratos.