A tarde que termina com poema
É tudo o que se pede, num bom tema,
Em que a justiça e a fé se complementam.
Se trova se fizer com muito amor,
Periclitante o verso, quanto for,
Os nossos bons leitores sempre agüentam.
Se nosso Pai do céu nos reservou
(E este é pobre exemplo que lhes dou)
A perda de quem muito nós amamos,
Vamos pensar que, um dia, cá no etéreo,
Encontraremos doce refrigério:
Produzem muitos frutos estes ramos.
Façamos curta a espera e estudemos.
Nas águas do dever, os toscos remos
Calejarão as mãos de quem trabalha.
Ao ocupar a mente o sentimento,
Exige que haja dor cada momento,
Perdendo-se, por ócio, tal batalha.
Ergamos forte muro, p’ra defesa
Do amor, do bem, da luz e da piedade,
Sem suspeitar que Deus se desagrade,
Por sermos pobrezitos, nesta mesa.
Não faça por favor, por caridade,
Mas tenha, na virtude, tal firmeza,
Que o coração não julgue ser proeza
A justa comoção que a alma invade.
Juntos, havemos de chegar ao Pai,
Pois, nessa hora, a lei que sobressai
É da fraternidade universal.
Para fazer que a hora mais se apresse,
Vamos rogar-lhe a bênção, numa prece,
Consolo de esperança inercial.
Premissa de trabalho, a caridade
Deverá ser total, pois persuade
Que a dívida é recíproca, afinal.
Quem pode nos dizer que é filho único,
Fenômeno do etéreo, mediúnico,
Em parto de um acaso virginal?
Geração espontânea não existe,
Se existiu, isso é coisa do passado.
Hoje em dia, ao nascer, já foi gerado
E, se nasce, é que muito, muito insiste.
E o que faz ao nascer? Lança o seu brado,
Como o pássaro, exige o seu alpiste.
Adulto, nos aponta o dedo em riste,
Que fiquemos quietinhos, deste lado.
Mas o dia, o tal dia chega e o leva
E o transforma em espírito de gente.
Sendo mau, nada enxerga em meio à treva.
Continua o berreiro ensurdecente,
Inda mais, pois faz parte de uma leva.
O que quer? Reencarnar, naturalmente.
O bulício do povo é mesmo triste.
O coração da gente não resiste
E corre p’ra ajudar o sofredor.
Paciência, se não der sua atenção:
Cumprimos, parcialmente, a obrigação,
Em versos muito pobres, sem valor.
Um dia, a nossa rima frutifica
E a luva desse tapa é de pelica,
Que o belo nos disfarça a opinião.
Palavras desusadas geram clima
E a recriminação logo sublima
O sentimento nobre do perdão.
No fundo, tudo é sempre muito igual:
Há que fazer o bem, jamais o mal,
Que o reino do Senhor é a perfeição.
Se a nossa inteligência não permite
Saber onde se põe o seu limite,
Que sirva a caridade à salvação.
No fim, eu me encontrei comigo mesmo,
Porém, já não caminho mais a esmo,
Pois o meu rumo agora está traçado.
Jesus é que me pôs no bom caminho
E me conduz, na vida, com carinho,
Dizendo que o poema está de agrado.
Perturbarei o povo se disser
Que a rima que versejo é de colher
Para afastar quem gosta da matéria?
É que, ao fazer a trova, bem comprovo
Que, na linguagem simples, mais “estrovo”,
Pois toda ajuda é triste, na miséria.
De qualquer modo, dei o meu recado.
É pena se juntei mais um pecado
Aos tantos que somei durante a vida.
Valei-me, bom Jesus, na hora extrema
Em que devo fechar este poema:
Chave do amor que trouxe para a lida.
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