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Ensaios-->2. RISCO CALCULADO -- 15/09/2003 - 08:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando João se atreveu a perquirir dos espíritos a respeito do futuro, sabia que corria o risco de obter informações falsas. E assim foi. Disseram-lhe, no terreiro que freqüentava, que iria conseguir muito dinheiro, constituiria saudável família, com numerosa prole, teria sucesso em todos os empreendimentos e desencarnaria provecto, rodeado pelo amor de todos os companheiros, parentes e familiares.

No entanto, ao atingir trinta anos de idade e não passando de reles amanuense, cuidou de desconfiar da previsão e, de novo, solicitou dos espíritos informações a respeito do porvir. As observações foram totalmente desencontradas: disseram-lhe que não teria qualquer sucesso na vida, que não contrairia matrimônio, mas que teria alguns descendentes de ligações espúrias, até com mulheres casadas.

Desacreditando da primeira versão, aventurou-se, talvez porque lhe agradasse a perspectiva, a amasiar-se com a filha do patrão, mulher de vida fácil, desquitada e madura nos embates da existência.

Não demorou para que se envolvesse em diversos crimes, precisando até refugiar-se em outro estado da federação. Ali, temendo ser descoberto, mudou de identidade e passou a responder pelo nome de Roberto. Encontrou emprego em firma em célere desenvolvimento, crescendo com ela, e, obtendo dos patrões cargo de muita confiança, progrediu financeiramente, conseguindo amealhar pequeno pecúlio, o suficiente para estabelecer-se por conta própria. Casou-se com moça de bons princípios e formou família.

Nesse meio tempo, a antiga companheira localizou-o na nova moradia e passou a abiscoitar-lhe, por meio de chantagem, boa parte do rendimento. Desesperado, João, agora Roberto, procurou pôr fim à situação de desequilíbrio financeiro em que estava imergindo e arquitetou plano de homicídio, para se descartar da antiga amásia. Para isso, procurou pessoas que, por dinheiro, fariam a parte “suja” do projeto. No entanto, no entabular do negócio, tendo revelado o nome da vítima, foi imediatamente assaltado pelos assassinos, que o eliminaram incontinênti. Por extrema coincidência, estava contratando o ex-marido da amásia.

Eis João chegando ao além. Como fora acontecer-lhe semelhante desastre? Não estivera em contacto com os espíritos? Não lhe disseram que progrediria financeiramente e que morreria em idade avançada? É bem verdade que, de outra feita, obtivera informações bem diferentes. Mas mesmo estas não condiziam com o que lhe ocorrera na verdade. De um modo ou de outro, tinha a certeza de que tudo fizera de acordo com os prognósticos, correndo riscos bem calculados segundo as previsões. Por que, então, nada dera certo?

Tais interrogações ficaram largo tempo sem resposta. Após demorada passagem pelos subterrâneos do Hades, conseguiu licença para sair do abatimento moral para ascender a lugares menos onerosos para o espírito, por interferência da esposa e dos filhos, a quem tratara com real carinho e desvelo. Não demorou para obter lugar em instituição hospitalar, onde se pôs a recuperar-se das defecções morais, condicionando-se para receber o influxo de orientações que lhe restabeleceriam a saúde perispiritual.

Durante o internamento, afligia-lhe o fato de ter dado ouvidos a predições, pautando o procedimento pelas orientações obtidas. Aos poucos, foi compreendendo que havia sido enganado e passou a procurar quem foram os verdadeiros autores das enganosas profecias. Duvidara, de início, da honestidade dos médiuns, mas descartou tal possibilidade, tendo em vista que os resultados que alcançara estiveram, aqui e ali, muito próximos do que lhe haviam dito. Então, começou a desconfiar das orientações espirituais, temendo que tivesse sido mal encaminhado por entidades perversas, estreitamente ligadas a ele em encarnações anteriores.

Fixando o pensamento nesse aspecto, procurou os instrutores e expôs minudentemente todas as reflexões e suspeitas. Como resposta, obteve apenas vagas idéias de que poderia estar certo mas que outras poderiam ter sido as causas do desvio de rota. De preciso mesmo, só conseguiu como orientação que deveria estudar mais o procedimento à época das consultas aos “pais de santos”.

Voltando ao hospital, passou a rememorar os momentos em que lhe assaltaram as idéias de querer saber o futuro. Da primeira vez, estivera prestes a contrair matrimônio com pobre garota, conhecida desde a infância, compromisso que desfez ao saber do “brilhante” futuro. No caso seguinte, o motivo que o levou a nova consulta foi o fato de querer confirmar a antiga alusão a possível fortuna, desejo esse, como vimos, inteiramente frustrado. Encascou-lhe na mente a desconfiança de que teria sido realizada a primeira previsão, se não tivesse desfeito o noivado à porta do casamento. Provavelmente, pensava ele, por influência da desilusão provocada na noiva e na família é que a sorte teria sido mudada.

De novo, ei-lo diante dos instrutores. De novo, a receber notícias vagas, sem definição da real resposta insistentemente requerida.

— Foram as suas atitudes, disseram-lhe eles; não qualquer malfeito de ninguém.

Mais uma vez imerso na consciência, João pôde vasculhar guardados mais íntimos e desenterrou fato que lhe parecera até então muito insignificante: o desejo de conhecer o futuro, de arquitetar a vida na segurança do conhecimento dos sucessos previamente haurido, quando o de que realmente necessitava era do conhecimento de si mesmo, das virtudes, do trabalho em favor da correção dos desvios da personalidade. Assim, desejando não correr riscos, correu os riscos mais perigosos e terminou a passagem pela Terra, sem ter conseguido progredir centímetro.

Sabia agora que tudo fora inútil e que necessário seria recomeçar do ponto anterior, da estaca zero, acrescendo-se aos débitos mais aquele do vazio da encarnação anterior. Tendo compreendido, finalmente, o grave erro que cometera, comprometeu-se, de si para consigo mesmo, a tudo realizar segundo os recursos que vierem a estar ao alcance da mão, sem atrevimentos esotéricos que nada acrescentam à vida dos indivíduos a não ser dúvidas e desconfianças.

— O futuro, concluiu, advém da conjugação dos vários elementos que vão e que vêm, no eterno refluxo dos acontecimentos. O hoje é que é eterno e, se a pessoa vive integralmente cada momento que passa, estará formulando futuro de total esplendor. Vamos, portanto, enfrentar o dia-a-dia na inteira confiança de que estamos crescendo em méritos e de que tudo nos decorrerá segundo o que espera de nós a Divina Providência.

Hoje, João é dos mais assíduos da turma na apresentação de trabalhos e estudos, preparando-se avidamente para o próximo encarne, que promete ser bem diferente do anterior.



Comentário

Retrato da derradeira encarnação, João Roberto nos trouxe sua luta pela compreensão do que motiva a vida nos diversos lances que a compõem. Chegou à conclusão de que fora culpado pela sorte adversa e não esteve inteiramente longe da realidade. Entretanto, não nos forneceu todos os elementos para que pudéssemos chegar a conclusão definitiva a respeito do acerto das idéias. Por exemplo: omitiu qual teria sido a formação no lar, que conhecimentos obtivera a respeito do espiritismo que praticava, quais eram as intenções ao freqüentar o centro, além da perquirição do futuro, e assim por diante.

Não estamos a alijar dele as responsabilidades, mas estamos querendo congraçar a elas outras tantas de diversas outras criaturas com as quais conviveu e das quais tirou proveito ou foi explorado. Se pensa que voltará só ao campo de provas da Terra, engana-se de novo. É preciso saber que estará enturmado com a mesma gente e que deverá oferecer a todos o apoio de sua clarividência e o carinho de seu afeto, sem o que correrá o risco de cair nas mesmas armadilhas.

Que esta nova encarnação se dê com todos os riscos calculados, é o que lhe recomendamos, agora, porém, sob a excelsa luz da compreensão evangélica da vida. Oremos para que tudo lhe dê certo.

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