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Ensaios-->10. O BEM ETERNO -- 23/09/2003 - 06:46 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Lamentavelmente, poucos homens conseguem conceber a possibilidade da eterna bem-aventurança. Imagina-se que o paraíso seja estação de venturas, onde os seres realizam em plenitude tudo aquilo que desejavam fazer em vida mas foram obstados por qualquer razão. Assim, dependendo do ponto de vista, a eternidade promete ser vida em carne sem deterioração, onde os homens usufruem todos os prazeres que costumam precariamente conhecer. O gosto pela comida, pela bebida, o ócio, o sexo seriam quintessenciados e o paraíso passaria a ser a extensão desmesurada do encarne, onde os vícios poderiam ser exercidos sem o ônus do pecado ou sentimento de culpa. O vício do alcoolismo hoje — apenas para exemplificação — leva à cirrose hepática e à morte, além de todos os desconfortos físicos e sociais resultantes da bebedeira. Para muitos, o céu propiciaria condições de o indivíduo embebedar-se sem correr riscos pessoais. Poucos são os que conseguem ver no paraíso lugar de extrema paz e integral participação no direito inalienável da superior conquista de todos os quesitos morais, aonde só se pode chegar após muita luta e espírito de sacrifício, exatamente daqueles mesmos atributos carnais que hoje tanto são exaltados pelo comum dos mortais.

Há os que comem muito e desejariam ingerir alimentos indefinidamente: é o “pecado” da gula. Mas a ingestão de alimentos pressupõe corpo a ser alimentado, a ser nutrido com os ingredientes vitamínicos, protéicos etc. que mantêm o organismo vivo e em atividade. Se no etéreo não há corpo, como imaginar a necessidade de comer? O homem safa-se: a ressurreição após o juízo final dará ao corpo terreno contextura imortal e os seres poderão adentrar o paraíso com a organização material que atualmente ostentam.

Dito assim, pode até parecer verossímil, mas se nós nos ativermos à estrutura molecular e se soubermos ver nesse acúmulo de tecidos só pequena concentração energética, seremos invariavelmente levados a concluir que, se os átomos permanecem em equilíbrio estável, é porque existe princípio harmônico universal a que se dá o nome de alma, de espírito. Ora, a dualidade corpo/espírito não se manterá eternamente, dadas as injunções das leis físicas, as quais se contradizem diante do princípio da mutabilidade do ambiente pelo qual perambulam os encarnados. No momento mesmo em que se concebe o perecível imperecível, se derrui qualquer princípio lógico de raciocínio, pois o ser é, em essência, aquilo que o constitui e não o seu contrário. Seria o mesmo que se dizer que o ser será ser no não-ser. Indiscutível contra-senso.

Por isso, não podemos admitir qualquer possibilidade de se pretender tornar eternos os bens materiais. O paraíso, portanto, não conterá os bens que hoje faltam às infortunadas criaturas do materialismo consumista. É preciso suplantar esses desejos de ver na eternidade a extensão da vida na carne, mesmo porque, se o prazer pudesse ser estendido indefinidamente como realização integral do desejo, então, dentro em breve, transformar-se-ia em dor e desespero, pois o que realmente dá prazer é a satisfação de se chegar à culminância dele para, em seguida, o cérebro reconfortar-se com a lembrança de ter podido conseguir o que almejava. É o prazer de se ter prazer e a falta do primeiro limita o segundo, não sendo este, portanto, infinito, o que não permitiria a ele fazer parte dos bens que se usufruem eternamente.

Este longo discurso é a procura do conhecimento exotérico de que se pode capacitar o homem de sua própria concepção errada de paraíso. Se algum desprevenido leitor errar os olhos por estas linhas tão mal organizadas e, de repente, aperceber-se de que tem incidido em falsidades e em expectativas desprovidas de fundamento, no que concerne ao futuro da alma, ficaremos imensamente felizes por poder dar-lhe notícia de que o bem eterno que aguarda todas as criaturas é algo muito superior a qualquer fantasia que a mente humana seja capaz de conceber. O importante não é imaginar o céu; o importante é criar o paraíso através da conquista paulatina e sacrificial de todas as virtudes, às quais só se chega através da dor, do sofrimento, da sensação de perda dos atributos materiais, por meio do amor, concentração inequívoca de todos os princípios salutares do procedimento humano. Agir com justiça, com desprendimento, com euforia religiosa, na justa medida da necessidade de congraçamento com os irmãos em Deus e realizar com todo empenho a obra do Senhor, eis os ingredientes indispensáveis para que mais e mais obtenhamos os méritos que nos darão o conhecimento superior da eterna felicidade.

Pelejemos, pois, irmãos, por cumprir com nossas obrigações cármicas, reneguemos os benefícios enganosos do mundo material, busquemos seguir os ensinamentos de Jesus que obteremos permissão para sermos perfeitos, “assim como o Pai é perfeito”.



Comentário

Deu-nos o irmão Ovídio amostragem de como encaminhar texto no justo interesse do leitor encarnado, uma vez que lhe pôs à mostra o espírito interesseiro. Essa revelação das intenções dos encarnados, de suas idéias, de seus desejos, deve ser um dos princípios da escritura evangélica, principalmente para demonstrar, com segurança, o erro, a falha de formação moral a ser corrigida.

Por outro lado, é preciso fornecer os elementos comprobatórios de que os princípios errados estão desviando o pensamento dos encarnados dos reais caminhos que deveria percorrer e estão a provocar extravios sérios de conduta. O fato de se mencionar que o homem “cria o paraíso” foi deveras feliz, uma vez que é muito corriqueira a idéia de que a eterna felicidade é prato pronto a ser servido para aqueles que lograram cumprir meia dúzia de promessas feitas a santos ou a outras divindades do misticismo popular. É preciso acabar com essa idéia de que o paraíso se compra como qualquer bem na feira religiosa mais próxima.

Andou bem, portanto, o irmão Ovídio ao enfatizar a necessidade do trabalho sacrificial (sacrifício da hora presente quando o ser encarnado está muito afastado da verdade, mas gozo eterno de ventura, quando verificar que seu procedimento está pautando-se pelas diretrizes evangélicas).

O que queremos colocar como acréscimo à mensagem é o fato de que, uma vez admitida pelo leitor a autoria como espiritual, fica quase impossível de se conceber qualquer vinculação de ordem material com os compromissos de eterna felicidade impregnados pelo Pai na alma humana, pois a confiança na persistência da vida configura a crença em que o homem é essencialmente espírito, de sorte que o que nele for pó, pó permanecerá.

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