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Ensaios-->22. A COSTUREIRINHA -- 23/11/2003 - 07:31 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Dias inteiros sentada diante do constante sobe e desce da agulha, encompridando intermináveis tecidos, emendando peças diáfanas da fantasia: eis a costureirinha a intercalar sonhos ao trabalho incessante. À noite, cansada, arreada, sem desejos de vida, entrega-se ao mais profundo sono e sonha com príncipes e castelos. Seu espírito, contudo, desprende-se do corpo e paira liberto através do éter, buscando lenitivo para sua aflição existencial. Na manhã seguinte, ei-la desperta sob o peso da responsabilidade e de volta célere para a prisão. Trabalhar é preciso, prover o sustento da família, do pai alcoólatra, do irmão enfermiço, da mãe atarefada e cuidosa: 'Que sina, Deus meu! Que sina!', pensa, enquanto cuida do filho e recebe os maus-tratos do marido. Um dia, falta-lhe a filha ao trabalho, adoece, perde o emprego. Ei-la a desesperar: 'Queira Deus jamais aconteça!' E segue lamuriosa mas ferrenha no penoso labor.

Entrementes, a costureirinha, a sonhar, segue a rotineira labuta, dia após dia, noite após noite...

Que desfecho esperar para esse quadro de sofrimento? Vamos fazer o pequerrucho crescer e se marginalizar, martirizando a mãe e sobrecarregando a irmã de preocupação? Vamos assassinar o velho em litígio de rua, de molde a desencaminhar a esposa no próprio vício da embriaguez? Vamos casar a costureirinha com o patrão, separá-la da família e arruinar-lhe o futuro espiritual? Vamos dar sumiço na mãe, internado-a em manicômio, enclausurando a filha em círculo de desgraças e tragédias?

Não. Vamos fazer entrar em cena, qual medievo príncipe, jovem trabalhador das docas, bronco e robusto, acostumado aos mais penosos misteres, dotado de sensibilidade, contudo, para perceber o drama familiar da jovem. Levado pelo pai desde a mais tenra infância a freqüentar centro doutrinário kardecista, possui o dom da mediunidade desenvolvido e, embora não afeito a estudos aprofundados, sabe distinguir com sabedoria o bem do mal, o falso do verdadeiro, o real do imaginoso. Tomado de amores pela costureirinha, traz-lhe a esperança da vida. Unidos em matrimônio, sabe dar a ela a tranqüilidade de lar perfeito. Assegura-lhe ao pai assistência junto a entidade de alcoólicos anônimos. Faz internar-lhe o irmão em clínica caritativa administrada por irmãos espíritas. À mãe, reserva missão em centro espírita, junto ao qual deverá responder por várias atribuições do socorrismo fraterno, de molde a ela mesma receber os fluidos evangélicos regeneradores do caráter mórbido: acender-se-lhe-á no coração a chama viva da esperança.

Eis a história que gostaríamos de ter ouvido contar na última transição pela carne. Lamentavelmente, a literatura só nos encheu de dramas baratos, ao final dos quais só restavam a desesperança no gênero humano e a fatalidade do sangue derramado. Um só suspiro de felicidade nos teria feito caminhar mais seguros pela senda de espinhos. Mas qual, tal como nas novelas policialescas, os filmes e noticiários o mais que faziam era abrir feridas, fender crânios, arruinar fortunas, esconder o céu e escancarar o inferno. E por ele fomos profundamente tragados. Em vida, imitamos a fantasia; depois de mortos, aspirávamos a concretizar a realidade, mas aquela a que nos acostumáramos. Nossa instrução era mínima e nossa intuição sufocada pelas lágrimas do desespero de só ver infortúnio por toda parte.

Agora, quando sentimos restaurados os compromissos com a verdade, por mérito de seres muito compreensíveis encaminhados por Deus, em ato de misericórdia para o qual até hoje não sabemos como contribuímos, vemo-nos necessitados de retribuir a luz recebida, enviando, através desta meditação, o exemplo, exercício de profundo respeito e consideração pelo humano devir, na expectativa de poder auxiliar a algum fatigado leitor que se faça deixar envolver pela mal alinhavada história da costureirinha.

E se alguém que nos estiver lendo for responsável por divulgação editorial ou jornalística de enredos criados ou verdadeiros, que medite a respeito dos aspectos morais evangélicos do que for dar ao público, para que não ocorra que as pessoas só se deparem com tragédias sanguinolentas, em que a excelsitude do Pai fique resumida à criação de monstros, de assassinos e demais tipos da teratologia dramática ou da realidade mais abjeta.

Oremos, caro amigo, para que se faça a luz onde houver trevas, na doce expressão franciscana, e que se despertem para a vida aqueles corações amargurados por tormentosos males. Que cada costureirinha deste mundo possa coser à sua a vida de príncipe encantado pela luz do evangelho do Cristo!

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