“Nossa Senhora”, “Virgem Maria”, “Mãe de Deus” são nomenclaturas que utilizamos para designar aquele espírito de linhagem superior a quem se atribuiu o encargo maior de guardar no ventre a carne excelsa do menino Jesus, o “Menino Deus”, o “Filho”, a “Segunda Pessoa da Santíssima Trindade”, nomes pelos quais conhecemos a figura maravilhosa do “Nazareno”, do “Mestre Galileu”, do “Cristo Redivivo”, do “Salvador dos Homens”.
Não importa, realmente, o que façamos para designar os espíritos, o que é essencial é o grau de respeito pelo qual os reverenciemos. Às vezes, o “João”, o “Antônio”, o “Alfredo” ou o “José” que dizemos contêm mais amor, mais carinho e simpatia do que se disséssemos ao acaso “Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Amantíssimo de Deus, Supremo Salvador da Humanidade” e quejandas expressões nascidas no meio urbano da sociedade humana, mais apropriadas para as bajulações serviçais dos suseranos diante da majestática figura do rei ou do imperador. A subalternidade dos homens, inclusive, sói eivar as expressões respeitosas de laivos de maligna inspiração, de modo que soam aos ouvidos de melhor percepção moral como verdadeiras e maliciosas ofensas.
Por outro lado, para se evitarem os exageros pernósticos dos devotos e demais ratos de sacristia, passou-se a tratar Jesus de “você”, Maria de “mãezinha” e Deus por “tu” ou “paizinho”, dando a essas expressões menores tonalidades afetivas de rebuscada intimidade, pecando por falta onde se deslizava por excesso.
Não importa o como chamar, o que importa é o sentimento envolvido. Esse é, realmente, o verdadeiro problema a enfrentar.
Quando o encarnado está diante de dificuldades e se dirige às entidades que julga em condições de socorrê-lo, ele o faz dos modos mais estranhos possíveis, desde a arrogância de quem arrota direitos até a subserviência de quem viveu na lama, parecendo dela ter sido criado. É bem verdade que a pequenez humana é infinita, mas existe em cada ser a dignidade da presença da divina centelha nele colocada no ato da criação. Assim, respeitar o Criador e os espíritos a quem se encarregou da administração sideral é de obrigação, do mesmo modo que se deve ver em si próprio o amor do Pai transformado em figura humana de extraordinária e respeitabilíssima complexidade e poder. Longe estamos de sugerir que devamos tratar as entidades superiores de igual para igual, mas, se não devemos exigir “direitos”, também não devemos resvalar para a sarjeta do vitupério.
Precisemos ou não do amparo das forças espirituais (e é quase impossível estarmos em situação de não precisar), abramos o coração e emotivamente solicitemos que os males possam ser aliviados, se diretamente, com o compromisso de saldar a dívida assim que possível, através do bem que possamos fazer ao irmão na dor; se indiretamente, por meio da insuflação de fluidos revitalizantes através dos quais nós mesmos possamos atuar para debelar as causas e curar os efeitos dos males que nos afligem, com a responsabilidade de emitir, por nossa vez, as vibrações mais poderosas da organização corpórea, perispiritual e espiritual, em favor dos irmãos imersos nas sombras dos sofrimentos umbráticos.
É essa estatura moral que pleiteamos junto ao querido leitor e não o estamos fazendo, veja bem, no sentido de não se ficar devendo favor algum, pois, é preciso saber, todo auxílio recebido penhora definitivamente o favorecido a seu protetor. Essa idéia de se estar quite porque se fez algo bom com a idéia do resgate da dívida é pobre jogo de interesses, fruto do comércio entre os encarnados, na sociedade dos homens. Diante de Deus, o compromisso de agir condignamente é eterno, de modo que todo aquele que se empenhar diante dos espíritos que se situam nas esferas que lhe são superiores somente reflete a dependência moral que se encontra perante Deus. Por isso, caro irmão, inste por tornar-se, você também, um protetor, arrebanhando para seu redil as ovelhas e cordeiros dispersos pelos frios e perigosos matagais dos crimes. Faça deles o seu povo, providenciando-lhes o agasalho moral que os aquecerá no inverno rigoroso da carne. Vibre para receber de volta a mesma vibração de amor.
Eis revelado o segredo do perfeito relacionamento que deve existir dentro e entre as esferas, de modo que, um dia, haverá somente grande círculo em torno do Senhor, sem filhos à direita ou à esquerda, mas uma única família abençoada.
Inicie já a ascensão, repetindo a prece do Pai. Trate-o por vós, tu ou você, mas faça-o contritamente, consciente de sua fragilidade e de sua força, mas, principalmente, compenetrado, convicto de sua responsabilidade diante da vida.
Em tempo. O título “Mãe em Deus” é tão-só sugestão do médium para substituir-se, na prece à “Virgem”, a controvertida expressão “Mãe de Deus”, que costuma acender os pruridos da sensibilidade à flor da pele de certos espíritas não compenetrados das verdadeiras virtudes evangélicas. Se você, caro amigo, hesitar, em dúvida diante da expressão, leia de novo a mensagem. (“Nota dos autores espirituais.”)
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