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Ensaios-->33. PORTA ABERTA -- 04/12/2003 - 06:36 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Costumeiramente, ouvimos dizer que às igrejas cabia deixar abertas as portas, para que os passantes em dificuldade pudessem, ao adentrar o templo, alcançar lenitivo para seus males. Hoje em dia, se procurarmos os templos católicos ou os evangélicos, nem sempre toparemos com as portas acolhedoramente abertas. Parece que está vigorando outro princípio adotado pelas religiões provindo da palavra de Jesus: “Batei que se vos abrirá.” E assim se justifica o fato.

Entretanto, lá estivemos e presenciamos a insólita situação de alguém ter insistentemente batido mas nada se abriu. A caridade parece, pois, ter recebido hora certa para atender. E isto, por certo, não depende dos oficiantes, dos responsáveis pelas bênçãos ou pelos cultos, mas sim porque a sociedade como um todo está produzindo verdadeiros aleijões morais que não perdem vaza para “arrecadar doações” e amealhar riquezas alheias a partir do furto qualificado até o assalto premeditado e organizado.

Ai daquele que precisar de porta aberta para obter das autoridades eclesiásticas conforto para a dor, lenitivo para o sofrimento. E, na verdade, se a porta for aberta, aquele que entra furtivamente, com a intenção de roubar, deveria fazê-lo no intuito de solicitar dos espíritos ali presentes que lhe dessem apoio à decisão de se livrar do desiderato criminoso. Mas esses não sabem orar. Esses são irresponsáveis pelo seu ato de vida. Esses são a escória mais temível a assombrar as noites de insônia dos pobres mortais comuns, que não têm como defender-se dos abusos e das retaliações sociais.

Seria oportuno que os homens de bem estivessem com as portas dos corações abertas, quais tabernáculos de amor a guardar a excelsa figura do Pai, para acolher também os afetos que cada semelhante tem condições de manifestar. Mas os homens encerram os corações em cofres pesados, hermeticamente fechados, escondidos, de sorte a dificultar ao máximo o acesso a eles, temerosos de se exporem à visitação importuna daqueles seres que, não reconhecendo o valor da própria vida, usam de violência para destruir a vida dos semelhantes.

Tudo que estamos a descrever pode parecer injurioso para a massa humana ordeira e trabalhadora, sofrida e perseguida, mesquinhamente menosprezada pelos poderosos entronizados nos altares governamentais, financeiros, religiosos, em suma, configurados em imagens sacratíssimas para reverência das coletividades, mas distantes, ausentes e intocáveis. Evidentemente, os crimes a que de início fizemos menção são praticados por gente de pequeno ou nenhum valor diante da sociedade dos homens, mas a existência dessa gente, como já dissemos, se deve à incúria dos poderosos.

Como agir para que se possa, de novo, abrir as portas dos ambientes sagrados? Utilizando a chave do 'Batei e ser-vos-á aberto', pois é preciso ir de porta em porta, de coração em coração, levando a mensagem do amor, da benquerença, da fé, da esperança, oferecendo-se para receber ofertas, dando para obter de volta compreensão, afeto, solidariedade e respeito.

Sabemos que estamos maltratando o bom leitor, que se desespera ao ler de novo as obrigações que tão reiteradamente se registram, de maneiras diversificadas, é verdade, mas sempre incentivando o mesmo procedimento, a mesma reação, a mesma postura moral diante da vida. Sabemos disso e pedimos vênia para voltar à carga ainda inúmeras vezes. É que raciocinamos assim: se até a dura pedra se deixa perfurar pela insistência do insignificante pingo d água, por que os frágeis corações e as moles carapaças humanas não se vergarão ao constante apelo da espiritualidade? Serão os humanos tão insensíveis que jamais se condoerão das condições infelizes em que os irmãos estão arrojados, quais resultados inferiores das anomalias e deformações mais vis da capacidade dos encarnados de considerar os miseráveis como verdadeiros micróbios, cuja virulência a que mais serve é causar cancros e doenças sociais endêmicas, constituindo-se em eterno perigo para aqueles que têm o condão de abrir e fechar as portas do mundo?

Perdoe-nos você, caro amigo, se lhe estamos pintando quadro horroroso da mente humana. Mas se da análise que você for capaz de fazer do estágio da atual sociedade lhe advierem à mente as mesmas negras cores com que pincelamos a nossa tela, pode estar certo de que muito provavelmente irá concordar conosco quando dizemos que, se os corações permanecerem fechados, a ruína humana se fará completa. É preciso que nossa sensibilidade seja tocada pela dor do próximo, mesmo que esse próximo se constitua em verdadeiro inimigo social. Veja bem, não estamos levantando direitos humanos individualizados. Não é esse o nosso ponto de vista. Estamos interessados, sim, em que a sociedade como um todo receba tratamento mais igualitário, mais próximo das diretrizes emanadas da Divindade.

Se só Deus é perfeito, não se faça disso desculpa para não tentarmos, também nós, aperfeiçoar as relações sociais. Alteremos as leis e façamo-lo à luz dos mandamentos de Deus, sob os sagrados auspícios da bondosa voz de Jesus. Aceitemos convictamente a descriminação daqueles que se vêem na contingência de assaltar os templos, na ânsia de buscar ali riquezas materiais. Amparemos os suicidas do amor, quando arruínam famílias inteiras com o assassinato dos chefes e dos membros econômica e afetivamente ativos. Façamos de tudo para impedir que o desespero se assenhoreie da mente das pessoas.

E como fazer tudo isso, sem despojar o cidadão comum dos recursos de defesa? Como conseguir suplantar a criminalidade, sem colocar em risco a segurança da população? Cada qual fazendo por abrir as portas de seu coração, cada qual inscrevendo-se em clubes de serviços assistenciais, cada qual realizando tarefas de amparo e de socorrismo fraterno, cada qual objetivando na vida facilitar o acesso de todos aos bens produzidos, cada qual lutando por conseguir no âmbito de sua atuação que os miseráveis sejam menos miseráveis e que os potentados sejam menos poderosos.

Eliminando-se os vícios, acabaremos com os viciados. Extinguindo os crimes, terminaremos com os criminosos. Para isso, necessitaremos dedicar, cada um de nós, o máximo de atenção e de empenho. É preciso trabalhar pela consecução desse plano de vida e não apenas ficar aguardando, imperturbavelmente, que tudo se realize espontaneamente, como se ainda fosse possível admitir-se a intervenção divina, para que cada ato da vida venha a se definir, a se concretizar, em torno desse ideal. Se nós não nos atrevermos, se nós não ousarmos, se nós não começarmos já a nos esforçar no sentido da vitória do bem sobre o mal, não nos restará da vida muito com que contar para progredir na senda do Senhor.

Abramos, irmão, o coração e façamos nele adentrar a figura de Jesus, para podermos suportar as pressões que, certamente, iremos sentir no momento em que bem compreendermos que fomos nós que obrigamos que as portas se fechassem. Oremos fervorosamente para não ensandecer e adentremos, nós mesmos, os corações dos guias e protetores, cujo agasalho é sempre certo e cujas portas jamais se fecham.

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