— Dia das Bruxas. Eis-nos transubstanciados em espírito escrevente, prontos para pespegar uns sustos nos mortais, pondo-lhes fogo às moradias e levando-os à alucinação.
Era isso que se poderia esperar nesta data, antevéspera do Dia de Finados, em que os mortos são reverenciados com muito amor e carinho.
Entre os dois, Todos os Santos, data festiva da religiosidade católica, mas celebrada com muito amor por quantos tenham a lembrança da excelsitude dos seres que se evangelizaram e que um dia perlustraram os ínvios caminhos da Terra.
Em que dia se sente você melhor? Treme de medo no dia de hoje, temeroso de que lhe venham puxar o dedão do pé à noite? Vibra de orgulho por ter tido a felicidade inaudita de usufruir a companhia de algum ser santificado por procedimento de superior categoria evangélica? Deixa rolar lágrimas de saudoso afeto pelas criaturas amadas que se distanciaram para outras esferas, mas cuja presença se sente nas vibrações de muito amor que perpassam o coração?
No primeiro caso, será justo estar apreensivo, se se deixou perder no mundo das imoralidades e das perversões, da maldade e do crime. Ainda que o pecado tenha sido bem pequenino, ainda que a indecisão se tenha dado em átimo de segundo, se a consciência pesa, é possível ter-se a sensação de que algum fantasma se erguerá esta noite para a indefectível acusação:
— Você pecou! Você deve pagar por isso! — evidentemente com a tétrica e lúgubre entonação necessária para o efeito do mistério e do medo.
Se, metafisicamente, algum ser ectoplásmico se levantar diante de sua apavorada figura, segure-se na prece e eleve os pensamentos a Deus, na certeza de que, por mais feia seja a criatura, por mais horrenda e disforme, e talvez mesmo por mais demoníaca e fantasmagórica, aí quanto mais amor está a pedir, quanto mais em misericordiosa atitude de confraternização. E se você conseguir estabelecer contacto e puder demonstrar o caminho da luz, mais você conseguirá adentrar o mundo dos santos, daquelas mesmas criaturas que serão veneradas no dia de amanhã. Quem sabe mesmo, ao transitar no tempo, iniciando-se pelos terrores de um dia de bruxas, você termine iluminado e sereno junto a entidades santificadas e reconfortadoras!
Pois bem, amanhã teremos o Dia de Todos os Santos. Se você não estiver afeito às leituras de suas biografias, não saberá que de lutas e de sacrifícios se revestiram suas peregrinações até o momento excelso de se constituírem em fanais de glória para quantos consigam espelhar-se em seu exemplo. Não saia de casa amanhã, durante os momentos de lazer e de repouso. Deixe-se embalar por profunda meditação a respeito dos valores e virtudes que guindaram esses seres à espiritualidade superior. Estabeleça rigorosa comparação com seu atual procedimento. Certamente, você se espantará por encontrar tantos pontos em comum e se inquirirá do porquê não ser considerado, você mesmo, ser superior, se tantas são as qualidades inerentes à sua personalidade. Aí verá que talvez lhe falte o essencial: o espírito de sacrifício, de desprendimento e a virtude da caridade. Mas isto será bem pouco e você firmará a decisão de superar essa deficiência e se comprometerá diante da vida a obter sucesso nesse novo empreendimento.
Para auxiliá-lo, vamos indicar-lhe a primeira leitura, que deve ser feita de modo sábio e ponderado, se possível na companhia das pessoas que lhe são caras, sempre em dias predeterminados, em horário estabelecido com rigor: de Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, tendo ao lado, para as devidas consultas, os Evangelhos dos Apóstolos e demais obras da doutrina espírita, concernentes à codificação: O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Para leituras subsidiárias, sugeridas no momento por alguma inspiração mediúnica intuitivamente captada, qualquer obra de Emmanuel da série Caminho, Verdade e Vida ou, de André Luís, Conduta Espírita. Na prateleira bem próxima, outras pérolas da literatura espirítica prontas para a compulsação necessária.
Se da reflexão de amanhã lhe brotar tal decisão, estará mais apto para enfrentar o dia seguinte, o Dia de Finados, pois poderá sentir o frescor do hálito do irmão que partiu e que agora retorna em espírito para lhe agradecer as preces e o carinhoso afago sentimental. Se lágrimas escorrerem saudosas, que sejam lágrimas de muito amor, na ventura revivida pela mente, em seu poder de evocação, e na ternura reavivada no coração.
O tema de hoje nos serviu para explanação do ponto de vista muito comum entre os espíritos nestas datas tão significativas, especialmente aquela em que a recordação dos mortos faz elevar efusivas vibrações de muito reconforto e harmonia. Que saiba cada um dos mortais reconsiderar o próprio padrão de vida, refazendo os vínculos rompidos com os ideais da encarnação. Que cada um dos irmãos leitores consiga para si pequenina vitória vibratória, unindo-se em espírito aos entes queridos para que, incorporados, possam fazer filtrar de um para outro as forças energéticas revitalizadoras. Que dessa união fraterna nasça para toda a humanidade mais uma fonte de perene energização do ambiente, que a decisão de ser melhor e cada vez mais perfeito indefectivelmente provoca no âmago da alma de cada ser. Que dessa união entre os planos possa renascer o paraíso perdido, desejo que se encontra tão profundamente abalado pelos anseios de destruição e poder que grande cópia de mortais expande em ondas vibratórias de baixa freqüência e de abertura de canais com os seres que infestam os mundos inferiores.
Vamos superar isso tudo. Vamos trazer para nós esses infelizes, através de nossa vigilância e de nosso ardor socorrista. Se é verdade que nem todos estamos aptos a enfrentar as forças do mal, façamos pelo menos por aderir em intenção aos grupos que se destinam ao resgate de amor que se efetua neste nosso plano existencial. Já diversos exemplos deixamos registrados de desempenho em prol dessas criaturas perdidas pela insensatez de se acreditarem melhores que os outros. Muitos outros seres traremos para demonstração de que é possível salvar mesmo os que cometeram os crimes mais ignominiosos. Mas, para isso, precisaremos do apoio que conseguirmos reunir junto aos encarnados, por meio de suas preces purificadas pelos sentimentos evangélicos mais sublimes, hauridos nos ensinos de Jesus, nosso Mestre e Supremo Instrutor. Iniciemos desde já o serviço e reservemos para esse restabelecimento espiritual alguns minutos todo dia, orando com fervor e oferecendo as vibrações mais santas, sem medo de desvirtuamentos, na convicção de que muito estaremos ajudando o socorrismo ativo dos grupos encarregados de trazer à luz a esses seres que erram na escuridão.
Juntos poderemos chegar à consecução desse objetivo que visa, antes e acima de tudo, dar condições de resgate aos seres que perderam sua identidade de criaturas de Deus e que se fantasiam hoje de bruxas, de demônios e de monstros.
Oremos, irmãos!
Deus, infinitamente bom e misericordioso, insuflai-nos na alma o poder da fé, a coragem da esperança, o destemor da confiança, o alicerce da sabedoria, a paz do amor, a força da solidariedade, a firmeza do descortino e, principalmente, o zelo da caridade. Dai-nos os recursos morais e o reconforto da vibração amiga dos companheiros e iluminai-nos o caminho, para que consigamos resgatar das trevas da ignorância, da ignomínia dos crimes, da pobreza do egoísmo, os irmãos sofredores. Acendei-nos no coração a chama sagrada do dever cumprido, para que façamos com ela a tocha que nos revelará a alegria de termos ao lado, pujante e forte, saudável e evoluído, aquele mesmo irmão que um dia fomos retirar das profundezas abissais do báratro. E prodigalizai-nos as vossas bênçãos, Senhor, para que mais e mais irmãos se confraternizem conosco nesta aventura existencial, para que todos juntos adentremos o vosso reino de amor.
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