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Ensaios-->24. 15.o Relato — O ACENDER DE UMA ESPERANÇA -- 03/01/2004 - 08:33 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando me trouxeram até aqui, à força de poderosa argumentação, não sabia que tinha de esperar tanto tempo. Disseram-me para aguardar pacientemente, para que pudessem fazer o médium interromper as suas divagações fantasiosas, para se colocar à disposição. Pois bem, aquilo que vocês chamam de preces e de vibrações positivas, para mim não passou de pura superstição, com o médium tomando água dita fluidificada ou magnetizada e concentrando o pensamento no mundo espiritual. Agora que estou ao lado dele, estou verificando que mal e mal consegue apanhar pequeníssima parte do ditado, obstando todas as idéias que procuro incrementar-lhe no cérebro, selecionando algumas com que mal consegue preencher algumas poucas linhas.

Pede-me calma, porque seu punho já está doendo, e interrompe o meu fluxo energético para restabelecimento de seu vigor físico, em flagrante desrespeito pela grandiosidade deste momento em que me apresento para a comunicação. Se persistir não dando total atenção ao que lhe estou a ditar, vou pedir permissão para ir-me embora.

É verdade que, ao se fixarem as palavras nas respectivas frases, estão ganhando colorido e estão a exprimir idéias bem claras. É, então, por isso que se deve ir mais lentamente? Pois bem, conformo-me à situação e ponho-me aos cuidados dos irmãos para o interrogatório que julgarem necessário.

Não há perguntas? Posso relatar o que bem quiser, desde que fale a verdade a respeito de minhas aventuras?



Eu sempre fui um sujeito que gostou de cuidar de mim mesmo. Estão sugerindo-me que era egoísta. Pode ser, mas a pretensão era de tornar-me um dândi, através da garridice da indumentária, do brilho das idéias e das façanhas do caráter. Durante a mais tenra idade, quando me caíram às mãos várias obras inglesas do século passado, encantei-me com as figuras nobres e notavelmente glamourosas dos “gentlemen”, que combinavam o “savoir-faire” à mais profunda elegância, através de mentalidade refinada e inteligência pronta para o revide no campo das idéias, em perfeita sintonia com o meu esporte predileto, a esgrima.

Foi com essa ilusão de me tornar figura excêntrica no meu ambiente, que me vesti de negro e me tornei o mais perfeito grã-fino na tosca sociedade provinciana em que vivia. Peixe fora d água, os meus conterrâneos começaram a perseguir-me, principalmente porque minhas posses não me garantiram a aquisição de mansão onde pudesse resguardar-me da curiosidade vulgar.

De excêntrico que gostaria de ter sido, só consegui ser inusitado; de galante mancebo, só me acoimavam de pedante e me julgavam efeminado.

Retirei-me dali enojado com tal receptividade e profunda insensibilidade e fui tentar a sorte em centro de maior riqueza material e cultural.

Guardei no fundo do baú as roupagens de grande senhor e submeti-me a toda espécie de arrogância e de prepotência de patrões e até de companheiros de trabalho; mas consegui vencer, principalmente porque se engraçou pelo meu jeito a filha do patrão, avançada em idade, é justo reconhecer, mas pessoa simplória, cujo único anelo na vida era não se deixar ficar para titia. Esse esplêndido arranque financeiro fez-me retornar aos sonhos da adolescência e pude, finalmente, dar curso aos planos de tornar-me pessoa preeminente na sociedade paulistana.

Ajudou-me muito na consecução dos objetivos a querida parceira, cuja coquetaria e afetação casavam perfeitamente à minha ânsia de grandeza social.

Brilhamos nas festas e esbanjamos à farta a herança que, finalmente, nos chegou à mão. Foram dias de luzidia projeção no mundo efêmero das comemorações mundanas. Partilhamos das casas mais ilustres, conhecemos as pessoas mais gradas e os políticos mais poderosos.

O que não quisemos ver foi a derrocada das finanças. De repente, as contas bancárias murcharam como balões a cujo ar de súbito se dá vazão e, mais ainda, os débitos das somas emprestadas não puderam ser cobertos com o produto das vendas das propriedades. Sobreveio a falência física e, como nada possuíamos no campo moral, não nos foi possível sustentar-nos espiritualmente, degringolando-se a união baseada em aparatos e lantejoulas.

Desfez-se o casal em idade bem madura. A cara consorte refugiou-se em casa da parentela rica, a qual me repudiou como causa que fora da perda de parte da fortuna da família, assim como se me foi atribuído também o banho de lama que sapequei no nome “honrado” de minha esposa.

Por esse tempo, fui levado à barra dos tribunais e, como não possuía lastro financeiro, acabei condenado. Humilhantemente para mim, fui obrigado a aceitar a ajuda da família de minha mulher no pagamento dos débitos restantes, do advogado e do alvará de soltura, com a condição de me manter distanciado da cidade.

Para mim foi integral ruína. Passei a conviver com a bebida, com quem mantivera relações antes e para quem dediquei o que me restava de dignidade e compostura. Orgulhoso mendigo, esfarrapada criatura, não hesitei em perambular pela rua, vivendo da fé pública, inteiramente preso pelas armadilhas morais que meu egocentrismo foi capaz de elaborar, no fundo do cérebro.

Sem consciência do momento, deixei-me arrastar para a sarjeta, sem ter quem pudesse vir soerguer-me e, um dia, afastei-me de minha carcaça, para ir habitar as regiões do Umbral, de onde chego para esta manifestação.

Relendo as páginas que escrevi, pude perceber que muito do desejo de demonstrar-me superior aos outros claramente transparece em meio ao empolamento do estilo; sinto reconhecê-lo pobre e desmaiado, diante daqueles textos que incendiaram minha púbere imaginação.

Percebo que minha arrogância, ao adentrar este ambiente, só permitiu aos companheiros a minha caracterização moral e vejo que estou desguarnecido para enfrentar as acerbas críticas estampadas em suas sisudas fisionomias.

Abrem-se em largos sorrisos as doces faces para demonstrarem-me que me equivocava. Afirmam-me
que o olhar severo não significa recriminação mas concentração no trabalho.

Pois bem, amigos, se é esta a paz que vou usufruir daqui para frente, só lhes poderei agradecer compungidamente o favor que me prestaram e o ânimo novo que estão a insuflar-me na alma. Sei que não mereço a confiança de todos, por ter tanta estrepolia cometido em meu encarne de sofreguidão material. Reconheço-o, mas peço vênia para aceitarem esta declaração de propósitos e admito, resignado, minha reintrodução no báratro, se minha vontade não for suficiente para conter-me os impulsos de grandeza e megalomania.

Não sei se conseguirei de pronto humilhar-me como deveria, pois sinto o coração bater descompassado, ao verificar que o linguajar prima pela literatice e a mente se deixa arrostar pela vernaculidade.

Dizem-me para orar com fervor. Temo que tenha sido exatamente essa a minha falha mais acentuada, pois as preces, eu as conhecia de cor e as repisava constantemente ao pé do altar, preocupado, contudo, com o vinco da casimira inglesa e com o verniz lustroso dos borzeguins. Como se pode notar, fazendo blague — perdoem-me, por favor —, um bom inglês diria: o uso do cachimbo faz a boca torta.

O povo todo me aclama o ponto de vista mas me recomenda contenção e modéstia, pois quem não está a respeitar o sagrado ambiente sou eu mesmo e não o médium, em sua preparação para o ditado.

“Mea culpa”, irmão. Aceite-me as escusas mais sentidas, perdoe-me o tê-lo feito trilhar pelos ínvios caminhos de estapafúrdia mentalidade e, acredite, prometo que, um dia, voltarei com o coração propício para transmitir mensagem mais apurada, segundo os ensinos evangélicos, que os companheiros me dizem que deverei aprender.

Como último pedido deste antigo esmoler das ruas de Fortaleza, mantenham-me, amigos, bem lúcido e acordado, apaguem-me da mente a memória dos eflúvios alcoólicos, com que tentei fazer submergir a minha capacidade intelectual, e me deixem curtir o sofrimento e a infelicidade com esta mesma disponibilidade mental de agora, quando sou capaz de perceber que de minha atitude, e só dela, é que depende o arrostar a que devo submeter-me de minhas culpas. Sei que me arrependerei de tudo de ruim que pratiquei na vida, mas tenho a certeza de que jamais renegarei este pedido. O que mais lhes peço é bastante coragem, para enfrentar os momentos de crise, e vergonha na cara, para reconhecer os deslizes.

Preciso confessar que nem tudo narrei das peripécias da vida e que pratiquei alguns crimes que o “romance” que pretendia escrever iria esconder.

Vejo, sem surpresa, que os amigos estavam a par de tudo. Resta-me, então, implorar para que me seja dada oportunidade, no devido tempo, de ir rogar perdão aos desafetos, especialmente à amada esposa, que deixei estendida em poça de sangue — dizem-me que não preciso relatar esse episódio, mas minha consciência não me permite sonegar a informação, pois me queria fazer passar por quem não era —. É bem verdade que não morreu com meu ataque de ciúme e histeria, mas o crime me repercute no coração como se perpetrado tivesse sido inteiramente.

Benditas lágrimas estas que sinto escorrerem-me pelo rosto e benditos os irmãos que conseguiram vibrar em meu favor. Ainda me resta pequenino fôlego para instar aos confrades para que rezem a “Oração do Pai”, em agradecimento pela minha recondução ao caminho do amor e do bem, pois sinto que não me afastarei mais de Jesus, cruciantes e lancinantes sejam os horrores que deverei enfrentar. Procurarei compenetrar-me do valor da prece e prometo fazer todo o possível para rezar junto, apesar da mente opressa e do coração angustiado.

Fiquem com Deus!



Prece ao irmão necessitado

Senhor, dai-nos a mesma desenvoltura vocabular apresentada pelo irmãozinho sofredor, para que nós possamos expressar o sentimento de muito amor e de muito respeito pelo seu sofrimento. Fazei com que saiba transformar esse seu brilhantismo intelectual em força e em luz para a aquisição dos bens morais que lhe faltam. Sabemos, Senhor, que nosso julgamento é falho, é imperfeito, mas cremos que este irmãozinho está realmente convicto de que deve mudar, absorvendo os ensinamentos evangélicos, para que venha a tornar-se mais um de vossos fiéis servidores. Obrai, portanto, Pai Amantíssimo, em favor dele, designando equipe de luz para orientá-lo e auxiliá-lo na longa escalada que terá pela frente para recomposição perispiritual. Fazei com que sua arrogância e egoísmo feneçam, sob a implacabilidade da fé, da esperança e da caridade. Se esse for o desejo de vossa misericordiosa vontade, Senhor, assim se faça, para vossa honra e glória. Assim seja!



Comentário

Querido médium, não se negue a aceitar os nossos agradecimentos e os encômios por tão destemida vitalidade mediúnica. Sabemos das dificuldades deste apanhado de mensagens de espíritos tão imperfeitos, que mais desejam fugir de nossas “garras” do que, realmente, receber o influxo dos ensinos de Jesus, que, por nosso intermédio, necessitam absorver.

Mantenha-se, pois, atento para captar as vibrações reais expedidas pelas entidades, de sorte a deixar suas personalidades rigorosamente caracterizadas. Se preciso for, reproduza até as expressões mais vulgares; apenas não dê curso aos sentimentos que revestem. Mais tarde, poderá adequar o texto para leitura pública, se assim se julgar necessário. Não se aborreça com as manifestações mais violentas e indague sempre de si mesmo qual a força moral, qual a virtude evangélica mais conveniente para opor à manifestação estapafúrdia (como disse o amigo sofredor desta tarde).

Vá, aos poucos, reproduzindo os textos para editoração, sem se preocupar com notícias da editora. Tudo virá a seu tempo a compor o quadro imaginado pelos roteiristas a quem cabe deliberar a respeito deste trabalho. Mantenha a fé em que tudo irá ocorrer segundo os princípios morais mais elevados, que a todo momento estamos citando, e confie em que o futuro nos dará razão.

Volte para suas tarefas rotineiras e aguarde para amanhã novas manifestações. Fique na paz do Cristo—Jesus, nosso mais severo guia mas seguro protetor!

Augusto (pela equipe).

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