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Ensaios-->40. 21.o Relato — O QUE O DINHEIRO NÃO PODE COMPRAR -- 20/01/2004 - 07:02 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O gesto não está atrapalhando mas a postura mental, sim. Eu não vim até aqui para ser ridicularizado por ninguém e você, pedindo “luz” para os protetores para oferecer aos amigos que estão chegando, ofendeu-me muito, pois eu sou dos mais sabidos que já apareceram por aqui. Venho em nome de Deus, que me permitiu revelar muitas coisas aos pobres mortais. Durante meu último encarne, freqüentei as aulas nas melhores escolas e hoje posso dizer que meus conhecimentos se ampliaram sobremodo. Veja que bela palavra: “sobremodo”, quer dizer que foram muitos, estando agora deveras avantajados. Pobre seria se não soubesse reconhecer a minha própria capacidade. Veja que bela letra possuo: clara, precisa, lógica, coerente com o meu saber; grande e poderosa para dar ao leitor a exata idéia da magnitude, da grandiosidade de meus conhecimentos em todas as áreas do saber humano e espiritual.

Vou descrever minha vida, para demonstrar o meu progresso.

Eu nasci em berço de ouro; a fortuna de meus pais contava-se em vários milhões. Se transformada em valores atuais, daria para comprar prédios de diversos andares, podendo enchê-los todos de moedas. Perguntam-me se poderia enchê-los de ouro. Evidentemente não. Vocês acham-me tolo ou simplesmente não estão acreditando em mim? Pois vou continuar.

Desde pequeno, fui acostumado a dormir com as criadas, de modo que bem cedo pude conhecer os prazeres sexuais.

Se o escrevente continuar vigiando os meus termos, vou suspender o relato. Eu bem sei empregar conceitos morais elevados e, por isso, não vou desandar a terminologia.

Pois bem, o fato de ter tido enormes facilidades com as mulheres, pois sempre as comprei a peso de ouro, não me importando com as quantias gastas, fez com que me desiludisse do casamento e, por isso, não constituí família. Foi o desespero de meus pais, já que eu era filho único e não teria herdeiros a quem deixasse a administração da fortuna.

Isso desequilibrou minha família, fazendo com que minha mãe tentasse engravidar com idade avançada. Meu pai não admitia a hipótese de eu me recusar a ter descendentes e, já octogenário, viúvo recente, contraiu novas núpcias na tentativa, aliás frustrada, de conseguir outro rebento a quem deixaria a fortuna.

Da minha parte, não admiti a situação e exigi do velho que fizesse claro contrato matrimonial para não vir a ser espoliado. De nada adiantaram os meus rogos e vi-me forçado à atitude extrema de eliminar a minha madrasta, para evitar a dissolução da riqueza. Infortunadamente, o crime que programei incluía a morte também de meu pai, pois fiz com que o casal despencasse de alto rochedo, em estrada ínvia, para o que desajustei os freios do automóvel em que viajavam freqüentemente, sempre com a jovem a dirigir.

Meu pai era um pobretão espiritual cujo único interesse na vida era o dinheiro.

Eu não pensava nem sentia como ele, porque gostava de viver bem, no meio de muito luxo, cercado de pessoas inteligentes, comprando só artigos muito caros, inclusive as obras de arte dos artistas mais afamados. Lia os livros da moda, mas não me esquecia dos clássicos, para o que contratava professores para me explicarem o valor de cada obra.

Sinto que tudo isso tenha passado como fogo-fátuo e tenha terminado o meu poder, no momento de minha despedida. É verdade que, ao morrer, deixei bem formulado testamento, incentivando a criação de entidade capaz de manter intactas as propriedades, de sorte que meu último ato de vida foi realmente caritativo, havendo várias cláusulas que protegiam o ensino e a pesquisa e outras que destinavam os lucros a instituições de assistência, sob a vigilância de grupo administrativo superiormente remunerado, para que a fundação pudesse manter o nome da família por milênios, se a civilização humana conseguir subsistir por tanto tempo.

Essa foi a fórmula que inventei para aplacar os remorsos por ter suprimido a vida de meu pai, crime que não foi descoberto pelas forças policiais mas que me atormentou pelo restante dos meus dias, especialmente porque eu era sensitivo, capaz de ouvir as acusações que me faziam no fundo da consciência.

Ao encontrar-me aqui com meu progenitor, verifiquei que me perdoara desde logo e percebi que a perseguição de que fui alvo foi por ter-me deixado apanhar nas malhas de espíritos maldosos que infestavam a família da jovem que foi o objeto principal do desavisado gesto. Aliás, essa perseguição ainda não cessou, apesar de decorridos cerca de oito anos do meu desencarne.

Hoje não estão aqui mas, certamente, ao sair, irei encontrá-los. O que faço para afastá-los de mim é oferecer-lhes dinheiro, muito dinheiro, pois eu lhes prometo que reencarnarão como administradores de minha fortuna na Terra. Como todas as tentativas dão em nada, voltam cada vez mais furiosos, ficando as tratativas cada vez mais difíceis e penosas.

Quanto à minha mãe, ainda não tive oportunidade de encontrar-me diretamente com ela, mas tenho recebido sua visita espiritual, pois não me sai da cabeça sua imagem, sempre procurando consolar-me e pedindo para eu rogar ao Senhor a suspensão de minha pena.

Eu não rezo porque temo perder a oportunidade de voltar à Terra como presidente da fundação que criei justamente com essa finalidade. Eu sabia da reencarnação, através das muitas leituras esotéricas que fiz, e vários magos me prometeram a possibilidade de me fazer voltar à Terra, toda vez que quisesse, na figura que achasse melhor, desde que não cedesse aos rogos de quem intentasse desviar-me do objetivo.

Várias vezes estive visitando mulheres em condições de engravidar, para ver se me aceitavam no ventre, para facilitar aos orientadores o meu retorno à companhia que me elevará à presidência, mas até agora nenhuma atendeu ao meu pedido, mesmo com a oferta de grandes quantidades de dinheiro e imenso prestígio.

Acho que existe alguém impedindo a realização de meus desejos, tanto é assim que o tempo está passando, os magos estão envelhecendo e cada vez menos têm cuidado de cumprir as regras estabelecidas nos contratos que assinaram de providenciarem o meu regresso. Eles sabem as condições, caso não consigam cumprir as obrigações: irão haver-se com quantos espíritos maldosos serei capaz de confabular para imprimir o necessário castigo aos irresponsáveis. Mas essa é idéia que não passa pela minha cabeça, pois tenho a certeza de que se cumprirá o destino indelevelmente inscrito no carma pelos orientais que comigo trabalharam.

Estão a me dizer que não são os mortais que ditam o destino, que, se assim fora, não haveria pobres no mundo. É que não estão amparados pelas forças especiais do etéreo. Se eu já me encontrei com alguma? De fato, não, mas devem estar muito ocupadas providenciando o meu retorno. E se não existirem? Mas eu vi os trabalhos sendo realizados e os magos me provaram, através do relato de suas próprias encarnações passadas. Eram falsas? Como se pode provar isso? É simples de falar e difícil de fazer. Eu não vi nada; eles é que me disseram e me mostraram os livros em que as experiências estavam relatadas. O papel aceita qualquer coisa.(1)

Eu deveria ouvir a voz de minha mãe? E tudo que arquitetei, para quem vai ficar? Agora está em boas mãos mas eu queria voltar para lá, para ter tudo de volta. E perder a oportunidade de progresso? Que progresso? Espiritual. Mas isso não significa nada para mim. Claro que significa, pois estou adquirindo outra personalidade, mais confiante, mais cordata, mais reconhecida, menos arrogante, mais feliz... Pois eu acho que é possível ser tudo ao mesmo tempo. O que eu ganhei deste lado da realidade, além de desespero e dor? Só a expectativa de me livrar do sofrimento voltando para a Terra, para as minhas riquezas.

Certamente eu li os Evangelhos e conheço a passagem citada de que os bens enferrujam se guardados no fundo da terra. Mas eu fiz tudo para que a fortuna se preservasse e usei todos os recursos das leis e da mais apurada tecnologia. Foi com o intuito de demonstrar que Jesus se enganara, que era possível retornar à Terra em outro encarne, podendo prosseguir do ponto em que parasse. O princípio era razoável, mas eu errei no momento de acreditar que conseguiria mandar no meu destino...

Quer dizer que não vou poder realizar o meu projeto? Quer dizer que tudo que fiz deu em nada? Quer dizer que perdi a oportunidade da vida para crescer espiritualmente? Sinto que não vou poder acreditar em nada disso... O mais é pura ilusão de encarnado?

Que tem o perdão de meu pai a ver com tudo isso? Foi ele quem me reconduziu à luz e ao sossego de agora. Sentia-se culpado pela má formação de meu caráter. Mas ele é que se deixara seduzir pelo dinheiro. Não é verdade, pois ele não herdou a fortuna, mas erigiu-a com muito trabalho, constituindo o império financeiro com a ajuda da herança de minha mãe. Isso é verdade, mas ele vivia só para ganhar dinheiro. A vida dele é a vida dele e a minha e a minha, de modo que eu não posso julgá-lo. Mais um ensino bíblico.

Eu não aceitava Jesus, pois confiava nos magos orientais. Sempre considerei o Mestre Nazareno simples arrivista político que utilizou a religião para disfarçar o ataque às hostes romanas e às elites judaicas. Esse pensamento é muito comum, encontradiço em quem deseja manter o “status” econômico. É verdade.

Então, que se espera de mim agora? Que me encontre com meus pais e deixe que eles cuidem de mim? Eu já uma vez fiz isso e veja no que deu... Se for essa a deliberação de todos, eu me submeto, mas não acredito que vá reconhecer neles qualquer autoridade sobre mim.



Neste instante, se revelam os progenitores aureolados de intensa luminosidade para imprimir ao orientando a sensação do poder. Sente ele agora que a demonstração de rebeldia tenha sido inócua inteiramente e se deixa subjugar pela evidência do momento cármico. Chora copiosas lágrimas de arrependimento e promete seguir os conselhos paternos à risca. Deixa todo o grupo o nosso meio e dirige-se à câmara de recomposição perispiritual que estava adrede preparada para receber a infeliz criatura.



(1) A partir do parágrafo seguinte, a vibração energética emitida pelo espírito começa a sofrer alteração, que vai afetando a caligrafia, até descaracterizar totalmente a escrita inicial firme e segura. (Nota do Médium.)



Comentário

Devemos esclarecer que o grupo se compões de várias equipes socorristas, que se uniram para os efeitos “pirotécnicos” aplicados, para que o sofredor pudesse saudar os pais no mesmo diapasão que os via na Terra na infância, ou seja, grandes e poderosos.

Quanto à personalidade do socorrido, podemos revelar que se tratou de encarne totalmente falido. O espírito em questão, em débito por orgulho, acreditou poder resgatar as dívidas por meio da benemerência que desenvolveria, caso se lhe fossem dados recursos materiais. Veio mais com a missão de estender aos semelhantes o conforto possível, para possibilitar-lhes o acesso ao conhecimento das virtudes evangélicas. Ao invés disso, tornou-se mais orgulhoso, culminando por praticar o maior crime: o de sonegar às criaturas que o acompanhavam o ingresso à carne, evitando procriar. Os espíritos que pensava serem os vingadores da madrasta, eram antigos desafetos que deveria amparar em encarne reconciliador. Celibatário, frustrou várias perspectivas de realizações pessoais.

Pensamos ter esmiuçado o caso a contento. Nunca é bom estimular demais a imaginação do leitor, no sentido de torná-lo desconfiado de que seu encarne esteja envolto por episódios da mesma forma rocambolescos. O caso deste irmão é especialíssimo; em geral, as pessoas têm sucessos menos espetaculares e resgates menos complexos, embora todos estejamos cercados de espíritos amigos que formam verdadeira confraria e de outros tantos que se constituem em adversários, a quem devemos conquistar pelo trabalho, dedicação e espírito de confraternização. Só depois que eliminarmos todos os inimigos, através da transformação deles em leais e sinceros companheiros de todas as horas, é que mereceremos a atenção de encarnes puramente missionários, para crescimento espiritual, no sentido da aquisição dos bens morais que nos abrirão as portas do círculo seguinte.

Outra observação que deveremos fazer é a renovação da orientação a respeito da prece. Como a nós não se enseja a oportunidade de discorrer a respeito, durante a doutrinação, fica-nos a preocupação de que o leitor possa supor que tudo o que fazemos esteja só dentro dos aspectos técnicos do socorrismo. Nada disso. O tempo todo elevamos o pensamento a Deus e constantemente recebemos do Alto os influxos da divina luz, através das preces dos superiores. Da mesma forma que o médium suspende o trabalho para revigoramento magnético através da oração, nós também nos revezamos na assistência doutrinária, para que todos os componentes do grupo refaçam as energias por meio da prece. A par disso, como anteriormente informamos, existe o grupo da oração, que permanece concentrado durante todo o transcurso dos trabalhos, de molde a dar sustentação magnética ao grupo de operadores do aparelho.

Esperando que o caso do irmãozinho possa despertar no amigo a consciência em torno dos deveres cármicos que todos trazemos ao encarne obrigatório, deixamos o aparelho, para nos fixarmos nas atividades socorristas que se estão verificando em função do difícil resgate do irmãozinho, devido às condições bastante sofridas que apresentou. Devemos ressaltar este aspecto, pois o maior sofrimento que pode sentir o espírito que desperta para a verdade é verificar que voltou do encarne em condições menos dignas de quando se encarnou, mormente se o objetivo era grandioso, o que incrementa mais ainda a dor e a frustração. Façamos, pois, as preces de arrimo ao trabalho do grupo.

Certamente, no momento da leitura deste longo texto, o irmão terá recebido toda a assistência necessária e estará perlustrando caminho mais ameno. Mesmo assim, bom amigo, não se esqueça de elevar o pensamento ao Senhor, para que o caso do assistido possa vir a representar séria advertência a quem se esquece dos compromissos, por se vir na posse de consideráveis riquezas materiais. Façamos pelos irmãos o que pudermos, independentemente das vestes que trajem na presente encarnação: todos somos igualmente filhos de Deus.

Paz e fortuna, bom amigo, na companhia do Senhor!

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