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Ensaios-->45. 24.o Relato — A CAMINHO DA LIBERDADE -- 25/01/2004 - 08:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Eu não queria ficar quieta, mas me obrigaram a permanecer aqui, respeitosamente, a aguardar por este momento de paz. Sinto que estou bem, mas não acredito em que não vá ter alguma recaída logo mais. O pessoal é bonzinho, mas muito forte e poderoso. Não sei como conseguiram tirar-me das mãos dos malfeitores que me obrigavam a fazer muitas maldades e prejuízos a tanta gente.

Como é que poderia agradecer o que estão fazendo comigo?

Em vida, não fui nada boazinha. Logo que pude, saí de casa à cata de aventuras. As primeiras foram sexuais. Depois entrei para o mundo das drogas e me viciei. Consegui afastar-me do vício, depois que estive internada, mas fiquei presa ao tráfico de entorpecentes, tendo de cumprir muitas tarefas para não ser denunciada ou assassinada.

Nessa vida permaneci muito tempo, até que me amasiei com um traficante. Foi a minha liberdade, porque ele me afastou do comércio e passou a me proteger. Mas eu não tinha jeito mesmo e logo botei chifres na cabeça dele.

Quando pensava que estava numa boa, tudo caiu de repente na minha cabeça e eu me vi do lado de cá, numa tremenda escuridão, confusa, sem saber o que me acontecera. Uma noite fui dormir e não mais acordei. Acho que fui assassinada enquanto dormia.

Pobres dos meus dois filhinhos ainda pequenos! Nunca mais soube deles. Não que eu os amasse com aqueles transportes de profundo amor maternal. Mas gostava deles, pois eram parecidos com os pais (um era filho de meu marido e o outro não). Tenho medo que ele, meu marido, vá ler o que estou dizendo e possa fazer mal ao pequeno. Não vou dizer se era o mais velho ou o mais novo, para que tenha pena dos dois.

O irmão escrevente está dizendo que esta é a história de “Filomena Marturano”, mas eu não sei quem é essa figura.

Não importa, o que fiz está feito e devo sofrer as conseqüências, Os crimes dos vícios, já paguei na escuridão, mas o que fiz a pedido dos perseguidores, temo que venha a merecer grandes castigos.

Persegui muita gente e disse para que fizessem muita bobagem. Quase sempre faziam e, quando não aceitavam as sugestões, mandava outra pessoa fazer mal a eles. Nunca perdi nenhum caso, pois nunca apanhei quando voltava para o grupo. Vi muitas mulheres apanhando, por não conseguirem cumprir as obrigações.

Se não apanhei lá, acho que vou sofrer aqui, nas mãos das pessoas que estão sabendo de minha mente maldosa. Quando estava na Terra e a polícia apanhava as prostitutas, elas começavam a gritar para comover as pessoas. Acho que deveria fazer o mesmo, mas não consigo sequer me mexer. O máximo que consigo é fazer o moço ir escrevendo o que vou pensando.

Que acho de Deus ou Jesus? Eu não sei porque nunca vi nenhum. Um dia, fiz a primeira comunhão; para isso, precisei confessar os pecados para o padre. Quando contei para ele que ia com os moleques, ele me deu uma tremenda de uma “bronca”. Depois que eu cresci, desejou ir comigo também. Não estou mentindo, não. Foi por isso que nunca mais entrei na igreja. Sei lá! Os padres eram muito malandros. Tinha uns que apareciam lá em casa para comprar cocaína e davam umas boas “cantadas” na gente. Religião era coisa para tirar dinheiro dos tontos.

Nunca conheci ninguém em quem confiar. Nem meus pais eram pessoas confiáveis. Meu pai, principalmente, um dia correu atrás de mim para me pegar. Se não fosse esperta, hoje estaria aqui contando outra história. Minha irmã, coitada, não teve a mesma sorte.

Pois bem, até que acho que existe alguma força poderosa, pois o que tenho visto de bonito na vida revela que alguém teve cabeça para bolar tudo isso. O céu, as estrelas, o Sol, a Lua, o mar, tem muita coisa muito grande no mundo e eu acho que isso não apareceu sozinho. Mas também penso que existe muita maldade. Até o Cristo, que me diziam ser o filho de Deus, foi crucificado e vazaram até o coração dele.

Minha avó tinha um quadro em que Jesus tinha o coração para fora. Sempre achei muito esquisito, mas eu era bem pequena. Não acho que alguém possa levar o coração do lado de fora. Isso eu nunca vi.

Se o coração era apenas o símbolo do amor, do afeto que o Cristo sentia pela humanidade, isso eu nunca pensei. Acho que deve ser isso. Quer dizer que deu a vida por todos nós, pela nossa salvação? Mas eu não vejo ninguém se salvando. É porque não cumprem os ensinos dele? O que foi que ele ensinou? A amar uns aos outros.

O que só vi foi muito ódio. O meu marido, acho que me amou. Eu gostava dos meus filhos, mas o que queria mesmo era aproveitar a vida. Quem eu acho que aproveitava a vida? Não conheci ninguém. Cristo não aproveitou. Bom, se trouxe os ensinamentos, quer dizer que cumpriu a obrigação.

Não acho que minha obrigação era vender maconha nem tóxico. Acho que devia ter feito outras coisas, principalmente ajudado outras pessoas. Não estou inventando isso agora. Quando tinha dinheiro, dava para minha mãe. Mas meu pai bebia tudo.

Eu devia ter livrado minha irmã da vida — entendeu? Mas não pude com ela e nunca deixei de xingá-la por ter deixado meu pai abusar dela. Eu queria que fosse embora e, quando foi, caiu na vida. Mas eu não tirei ela de lá. Acho que isso eu fiz de mau.

Outra coisa que errei foi ter botado chifre no Wilsinho (não importa o nome — ele não vai saber o meu). Se era traficante, era também bom pai e sempre dizia em casa — um belo sobrado ao sopé do morro — que os filhos iriam estudar. Ele brincava muito com as crianças, pois não era viciado; só fumava um pouquinho, de vez em quando.

Acho que, se voltasse para lá, iria fazer tudo bem diferente.

Eu não quero é voltar para a escuridão. Faço qualquer coisa para não ir para lá de novo. Não estou mais com vontade de gritar e, se quiserem mostrar o caminho de outro lugar, onde possa viver em paz, eu vou.

Que vai acontecer com os malandros que me exploravam? Vão encontrar outra? Isso é o que não falta.

Devo fazer uma oração. Sei várias que repetia lá no escuro, mas nunca adiantou nada. Estão dizendo que adiantou, já que estou aqui. Pois bem, sendo assim, vou rezar uma ave-maria e um padre-nosso. Acho que isso seja suficiente. O amigo escrevente vai escrever ou rezar comigo? Então, reze agora.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Veja que lindas preces nós rezamos. O ambiente ficou todo iluminado. Acho que é porque o pessoal tem muita força. Agora vou saindo, confiante em que estou em boas mãos. Sinto que a minha vibração não foi muito boa durante a oração e que perturbei até o irmãozinho. Não faz mal. Prometo voltar um dia para agradecer bem convenientemente. Fique com Deus!



Comentário

A irmãzinha que acaba de deixar o posto nos foi recomendada pela mãe, que nos procurou no intuito de livrá-la dos perseguidores. A mãe nos diz que a moça foi muito bonita e que despertou a cobiça de inúmeros homens. Se tivesse talento, teria sido artista famosa. Fez até testes para uns programas de televisão, mas o que os homens queriam era aproveitarem-se dela. Como não tinha escrúpulos, deixou-se levar para onde eles queriam, principalmente no intuito de tornar-se fornecedora de drogas. Essa maldade, contudo, não era só dela, porque estava nas mãos dos traficantes.

Como disse, o casamento tirou-a das ruas, mas não lhe deu nenhuma garantia de desenvolvimento moral. O marido não era tão boa pessoa assim; só queria apresentar uma mulher bonita onde aparecesse. O que ocorreu é que acabou apaixonado e pai extremoso. Quando soube da infidelidade da mulher, enciumou-se e assassinou-a, pois achava que lhe pertencia, como algo com que tivesse despendido muito dinheiro.

Este comentário está descritivo porque queremos frisar que a irmãzinha contou história inteiramente verdadeira, coincidindo exatamente com o que a mãezinha nos declarou.

Partirá daqui para as tradicionais providências de internação em hospital especializado e matrícula em escola adequada ao seu nível de escolaridade e de capacidade. Somente após o descerramento da consciência para a admissão das culpas e para o competente arrependimento é que se iniciarão as tentativas de caracterização de sua real personalidade, para avaliação do melhor destino a lhe ser dado. Por ora, era o que podíamos adiantar.

Quanto aos vínculos carnais que manteve na última peregrinação, deixou de cumprir todos os tópicos, pois sua destinação era para o socorrismo fraterno no campo da enfermagem. Dos hospitais passou bem longe, a não ser na qualidade de paciente, mercê dos desvios que teve desde pequenina. Mas, se essa foi atenuante a lhe amenizar o grau de culpabilidade, certamente se terá vingado da sociedade malsã, contribuindo para a perpetuação dos crimes e das mazelas. Não adiantou um passo sequer no rumo das virtudes.

Trabalho grande irá ter a mãe, altamente compromissada com ela desde encarnes anteriores. Aliás, esses intrincados vínculos em que a família está encerrada, tem como base a figura paterna, cuja missão tem sido a de orientação, mas que não consegue jamais conter os impulsos da mais baixa animalidade, o que está ocasionando prejuízo existencial para todo o grupo. Por isso se está dando a presente oportunidade para a amiguinha. Queira Deus se torne, com a ajuda da mãe, a protetora dos filhos, ainda na presente encarnação deles, para que se possa dar alguma estabilidade ao grupo que ora está principiando a formar-se, para garantir aos demais membros a possibilidade de existências na carne mais proveitosas.

Como se vê, é importantíssimo para todos que o trabalho da mãezinha obtenha êxito junto à filha. Oremos para que isso ocorra, de molde a facilitarmos, com nossas vibrações de muito carinho e compaixão, que o ânimo das duas se ajuste ao trabalho que se espera delas.

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