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Ensaios-->47. 26.o Relato — INCONFORMISMO PREJUDICIAL -- 27/01/2004 - 08:05 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando essas bênçãos de Deus estiverem descaindo do céu, eu também gostaria de poder fazer jus a recebê-las. Se a prece do médium for poderosa como foram belas as palavras que ouvi, certamente será atendido.

Eu também, em certa época da vida, rezei muito para Deus e também por intermédio de muitos santos e pais-de-santo. Não sei se alguma vez fui ouvida.

Querem saber se dizia as orações com fervor e se acreditava em que seria atendida. Acreditava, sim, tanto que paguei todos os compromissos, as chamadas “obrigações” pelos serviços prestados. Só que acreditava mais quando se tratava de fazer maldades, quando queria prejudicar alguém. Quando ficava doente ou algum de meus filhos, se não fosse atrás dos remédios da farmácia, nós acabaríamos morrendo.

Aliás, foi assim que vim parar deste lado de cá, pois fui ferida em briga com uma vizinha e não cuidei do ferimento. Ele foi infectando e eu procurei um pai-de-santo, que me deu uma porção de mezinhas e me mandou colocar cinza misturada com teia de aranha na ferida. Quando dei entrada no hospital, estava tudo gangrenado. Os médicos chegaram a cortar a perna, mas do hospital meu corpo foi direto para o necrotério e eu para a escuridão.

Eu vivia em Salvador, na Bahia, por isso conhecia bem o som dos atabaques.

Desde pequena, freqüentava, toda de branco, certa tenda da Umbanda. Tudo lá era maravilhoso. Foi lá que conheci o pai dos meus filhos. Só que era casado e, por isso, precisei juntar-me a ele.

Durante um bom tempo, fui muito feliz. Quando consultei os búzios, os orixás me disseram que eu teria um período bom e outro ruim, mas o período ruim iria depender de minha atitude diante da vida. Um dia, meu “marido” me abandonou e eu fui atrás de um malefício.

Sabia que, no meu terreiro, não conseguiria nada. Então, procurei outro pai-de-santo, que me atendeu a troco de muita obrigação. O meu marido se meteu em briga e desencarnou. Eu fiquei muito agradecida: se ele não era para mim, que não fosse para ninguém. Não prestei atenção, porém, em que o malfeito podia voltar-se contra mim e que um dia o espírito dele podia querer vingança.

Não precisou muito para que a mulher por quem me abandonara me atacasse em emboscada e me ferisse como acima descrevi. Ela tombou sem vida na hora e eu me refugiei na casa de parentes. Por isso é que não deixei trazerem médico, só o preto velho. Foi a minha ruína.

Deste lado de cá, encontrei os dois que despachei, o primeiro através do “trabalho”, a segunda, por minha peixeira. Mas não estavam juntos. A única coisa que os unia era o ódio contra mim. Eu mesma, às vezes, os pegava brigando e, outras vezes, nós nos uníamos e íamos perseguir o pai-de-santo que nos tinha enganado a todos.

Nessa vida, fiquei durante muito tempo. Acho que mais de dez anos, porque, outro dia, vi meu filho mais velho que está homem feito. Fui levada até lá por um amigo que está presente. Foi por causa disso que concordei em chegar até aqui, bem longe de minha terra. Eu queria ir ao terreiro que freqüentava, mas me disseram que precisava de purificação, que não podia chegar lá porque ia perturbar os trabalhos. Quando soube disso, chorei bastante, porque percebi o quanto havia perdido.

O meu amigo me disse que eu não tinha prestado atenção nos avisos que as palavras dos orixás me diziam. Sempre pensava que eram para as outras pessoas e, quando a mãe-de-santo me passava as mãos pelo braço, ficava toda arrepiada, pensando que era a felicidade que estava garantida.

O que não entendi bem foi a extensão, o tamanho do meu crime e qual a responsabilidade que tive em tudo isso, porque sempre fui pessoa muito boa e sempre trabalhei para dar sustento e educação para os filhos.

No que precisarem de mim para ajudar nos serviços, eu conheço bem alguns pontos para dar tranqüilidade ao ambiente e trazer felicidade ao “cavalo”. Sei que está tudo em paz, mas, se quiserem, não vou fazer-me de rogada.

Dizem para fazer a oração final, antes de partir. Pois tentarei, desde que consiga um pouco da vibração do médium na prece de abertura dos trabalhos.

O que reconheço aqui é que é tudo bem parecido com os trabalhos de que participei no terreiro. Lá também a gente pedia para as entidades respeitarem a vida e para ajudarem os necessitados. A gente não pedia para que ninguém estudasse nos livros, mas para que decorassem os cantos e as orações e que comparecessem com o coração bem puro.

Quando tinha alguém doente ou espírito sofredor, a gente pedia para o santo correspondente ao seu ascendente que lhe desse proteção. Agora estou recebendo muita proteção e agradeço aos irmãozinhos a força que sinto estar voltando para a minha cabeça.

Peço perdão pela forma errada que comecei a manifestação, pois pensava que o que se passava aqui era só “perfumaria”, água-de-cheiro para agradar os espíritos e mais nada. Agora vejo que o trabalho é sério e fico contente por poder voltar à antiga crença.

Dizem que não estou recuperada e que preciso desenvolver mais os meus poderes. Se for preciso estudar e trabalhar, podem contar que vou começar desde já, pois uma das coisas que queria na vida era me transformar em santa de terreiro. Dizem que terei de me adiantar muito para chegar até lá. Pois eu me proponho a fazer de tudo para isso.

Gostaria de ouvir a preleção do orientador e esclarecer a quem ler a minha mensagem que as palavras foram traduzidas para o dialeto do moço que está escrevendo e que, se fosse por mim, iria usar a linguagem própria do terreiro. Senti falta do marafo e da dança, mas sei que aqui só se bebe água.

Gostaria de ter podido ajudar com a minha presença e sinto muito por não ter trazido nenhuma novidade para ninguém. Agora me despeço e rogo a Deus que dê proteção a todos, para que continuem trazendo gente necessitada como eu de esclarecimento e de lenitivo para a dor. Peço que tragam também o meu marido e sua amante, porque acho que iriam ganhar muito vindo aqui e eu também, porque não iriam mais perseguir-me.

Isaura.



Comentário

Gostaríamos de dizer que a amiga Isaura realmente se transformou durante a transmissão, recompondo o perispírito de forma surpreendente. Parece que recebeu certos influxos de antigos companheiros desencarnados com quem trabalhou na Umbanda. Sentimos de modo estranho essa ascensão, uma vez que a encontramos totalmente isolada e desamparada, já que se recusava terminantemente a ser auxiliada pelos conhecidos, por certo por vergonha do que realizou em vida, em detrimento de todo o ensino que deveria ter aprendido no terreiro.

Essa a causa primeira de ter acedido em acompanhar-nos, tendo exigido antes provas de nossa força, tanto que precisamos levá-la a visitar o filho. Antiga freqüentadora dos centros espiritistas, desconfiava de que pudesse ser enganada por mistificadores, que se aproveitariam de seus serviços especializados para a consecução de objetivos espúrios.

Tranqüilizada e resolvida a cooperar, ficou fácil infundir-lhe a coragem necessária para a determinação de rever e enfrentar os antigos confrades. Tendo resgatado os males que cometeu em seu desatino de amor-próprio ferido e daquilo que considerava justa proteção aos filhos, agora partirá para nova existência de caridade e de ajuda fraterna, principalmente no que respeita aos desafetos e às entidades que desrespeitou quando abandonou o terreiro. O trabalho será penoso, porque começa o momento do remorso, que só a compreensão da culpa acarreta. Mas tem o auxílio pronto das entidades amigas, que lhe propiciarão as indicações exatas do que fazer e do como proceder.



Vá em paz, querida amiga, e receba de Deus influxo de amor em forma das bênçãos que você desejou ao introduzir-se na mesa mediúnica. Deus a abençoe, cara irmã, e lhe dê as luzes necessárias para que prossiga de modo reto sua caminhada rumo à eterna felicidade!



Ao irmão leitor, devemos esclarecer que nos chegam notícias de nossos superiores segundo as quais os socorristas não chegaram ao acaso ao local em que estava Isaura. Foram para lá encaminhados por via intuitiva, a pedido dos mentores do grupo a que pertencia a irmãzinha. Como se vê, nada no plano espiritual ocorre ao acaso. Será que na matéria haja algo a que se possa denominar coincidência? Fique a inquirição para ser respondida pelo amigo interessado em deslindar o mistério da vida.

Adeus, bom amigo. Reze pelas infelizes criaturas nomeadas na mensagem-auxílio e faça-o com a costumeira vibração de amor e solidariedade.

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