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Ensaios-->3. O ANJO DECAÍDO -- 10/02/2004 - 07:28 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando, no “Apocalipse” (12:7-12), lemos o episódio da rebelião dos anjos, temos a presciência do fato de que possam os espíritos de luz descair da divina bondade, mesmo tendo sido concebidos com elevadas graças de misericórdia. No entanto, as excelsas figuras angelicais, segundo o relato consagrado, ao terem tido inveja e ciúme do homem, se revoltaram por acreditarem-se postergadas pelo divino amor. Uma de duas: ou não tinham recebido o influxo do amor de Deus, sendo sua formação muito aquém do que nos fazem acreditar os livros sagrados; ou existe a possibilidade de seres apaniguados pela pureza mais sublime cometerem crimes que vilipendiem sua natureza superior, de modo a facultar-lhes o decesso na escala hierárquica que presidiria a organização existencial.

Ambas as hipóteses estão eivadas dos erros da humana prescrição de valores fundamentada na observação da organização social mal definida em que vivem os encarnados. Vejamos.

Deus, no que respeita à primeira hipótese, não teria sido equânime e justo em seu ato criativo, pois teria aquinhoado alguns seres de virtudes inatas, enquanto outros precisariam lutar para a conquista dos preceitos que os elevariam na hierarquia das criaturas. Aliás, o conceito de hierarquia, de prevalência de uns para com os outros, é que se constitui na interpenetração do humano saber em relação à verdade da criação. Se considerarmos que todos fomos criados pelo influxo do mesmo ato de amor, certamente haveremos de concluir que os anjos nem sempre existiram como criaturas superiores, ou deveremos conceber que, nós mesmos, seres imperfeitos, descaímos de nosso pedestal de harmonia para a desdita da dor e do sofrimento. Se anjos somos nós, decaídos, não haveria necessidade da criação dos homens e a Bíblia conteria informação falsa.

Há, pois, que considerar que os anjos tenham conseguido suas virtudes após muito pelejar por eliminar as suas cargas de imperfeições, nas quais a experiência determina crer em que todos incidamos por ato inerente à própria existência, já que, a cada avançar rumo ao Senhor, corresponde despojar de vícios e de erros que nossa curta visão nos obriga a adquirir.

A segunda hipótese, ou seja, a possibilidade de queda, é ainda mais fundamentada na nossa obtusidade material, pois, a todo momento, deparamo-nos com a corrupção dos organismos vivos, que se deterioram com o tempo e perecem, destruindo-se o invólucro material, desaparecendo a razão, o motor, o centro energético que o animava. Dessa conclusão de que tudo se desfaz, vem o conceito de que haja a possibilidade de que o que é bom possa sofrer a desdita de se transmudar em algo deletério e ofensivo.

Pois bem, o nosso arguto raciocínio deve ir além da observação do que ocorre na superfície dos organismos vivos. Se fôssemos capazes de observar o que ocorre na intimidade das células, verificaríamos que se constituem de elementos que não se empobrecem, que não se arruínam, que não sucumbem à influenciação do tempo. Se o aparato físico sofre os transtornos do tempo é porque assim determina a estrutura fisiológica que o sustenta, mas os seus componentes tão-só se dispersam para formar em outros conjuntos, favorecendo mesmo a organização de seres novos, que substituem os anteriores, cujos objetivos vitais foram alcançados e totalmente realizados. Sendo assim, não há, verdadeiramente, na natureza, possibilidade de retrogradação.

Se nossa dissertação pudesse ir mais adiante, discutiríamos aspectos novos de teorias modernas correntes entre diversos cientistas materialistas que imaginam a possibilidade de perda energética no Universo. Fiquemos na citação do fato, para demonstrar que não estamos alheios nem desatentos a esta argumentação. Pedimos vênia, contudo, para prosseguir em nossa linha de pensamento.

Considerando, pois, que não há retrogradação física estrutural senão aparente, desaparece o argumento relativo à possibilidade de o ser superior vir a descair, principalmente se concebermos o espírito com atributos divinos, entre os quais avulta o da eternidade imanente. Nesse caso, não há como conceberem-se anjos puros sofrendo o perjúrio da impureza. Seria mero contra-senso.

Conclusão lógica: a Bíblia errou quando levantou a tese da rebelião dos anjos, ficando a figura do anjo decaído como fruto da imaginação humana pervertida pela interpenetração de aspirações meramente materiais, na interpretação do texto sagrado.

Pode-se levantar a hipótese do erro bíblico?

Certamente, pois o texto dos livros são controvertidos e muitos apontam caminhos inteiramente opostos. Admitir-se que a Bíblia não contém nenhum ponto falho é aceitar como verdadeiros fatos absolutamente ausentes na natureza, necessitando-se atribuir a seres humanos poderes divinos, como o fato, por exemplo, de haver quem suspenda a caminhada do Sol pelo espaço sideral. Por outro lado, a cada passo, há a necessidade de obrigar o Senhor a suspender sua infinita misericórdia para possibilitar ao povo judeu massacrar seus inimigos, ou ainda a derrogar a imutabilidade das divinas leis para favorecer o aparecimento dos milagres, que apenas enaltecem o misterioso poder que teriam os prestidigitadores que pretenderam maravilhar os contemporâneos com seus feitos extraordinários.

Aceitar-se a rebelião dos anjos é não acreditar na justiça divina e, por via de conseqüência, é não admitir a existência de Deus, pelo menos segundo a concepção que a Bíblia nos dá.

Esmiuçando o argumento para fazer bem acessível a todos, diríamos que um deus que não seja onisciente, onipotente e onipresente, que não seja infinitamente bom e justo, seria incapaz de criar universo que tende para esses atributos, pois se fundamenta em leis imutáveis e irreversíveis. Acreditar em deus que possa ser imperfeito, pois que praticou ato de profunda injustiça ao criar seres absolutamente distintos quanto ao nível de sua perfeição, é mistificar a idéia da eternidade, fazendo-a reger-se por princípios meramente humanos. Acreditar em deus que não seja Deus é materializar a condição superior da inteligência abrangente da centelha divina instalada no âmago da consciência; é não acreditar em Deus.

Quem é capaz de conceber que algum ser de condição superior descaia do paraíso celeste para formar, nas profundezas do báratro, inferno em que se prendeu para o eterno sofrimento, está propenso a descair até de sua humana condição, para se ver envolto em problemas de curta extensão, de modo a facilitar o acesso a seu coração de todas as malícias e viciações.

Cuidado, pois, irmãos, com o que seu coração seja capaz de aceitar, sem que sua razão tenha oportunidade de discutir! Se a nossa linha argumentativa lhe parecer falha em algum ponto, por julgar que estamos procedendo sem a devida cautela e respeito para com os textos sagrados, cuidado para não serem enganados pelos pontos mais obscuros da exegese textual, pois aí seus corações se abrirão para os falsos profetas, que se habilitarão a fazer fermentar em seus cérebros a dúvida e a perversidade!

Se em dia absolutamente calmo, com a mente aliviada, vocês forem capazes de acompanhar o nosso raciocínio, aceitando dele as verdades espirituais mais evidentes, estarão aptos a rejeitar muitos dos tópicos puramente fantasiosos contidos nos livros sagrados, expurgando-os dos males que ali se infiltraram por força das realidades sociais, intelectuais e morais que o bom senso rejeita, como, só para citar caso de passagem, o fato de se permitirem vários conúbios para os varões ou ainda o sacrifício cruento de vidas humanas.

Há que se ter prevenção com relação à obra mediúnica; é certo. Mas não podemos fechar os olhos só por tratar de tema bíblico. Ao contrário, neste caso é que precisamos utilizar todo nosso potencial intelectual, pois, sem que a fé se ilumine pela razão, não progrediremos um passo na direção da casa do Senhor.

Lembremo-nos sempre da voz de Jesus quando nos pregava, no Sermão da Montanha, exaltando os humildes. Sejamos humildes, nós mesmos, para receber, sem falsos resplendores, a verdade espiritual. Não nos deixemos levar pelas veleidades congregantes que nos determinam aceitar às cegas certos princípios contrários à natureza. Se é bem verdade que hoje somos divididos em homens e mulheres, por estarmos encarnados, não sejamos cegos para o fato de que tal divisão é meramente material, com a precípua finalidade reprodutora. O sexo, portanto, deve ser alijado de nossa concepção de espírito. Sendo assim, é impróprio reger todo nosso procedimento religioso e, por conseqüência, social, como se sempre iremos portar conosco o nosso aparelho reprodutor. Ajamos principalmente como criaturas de Deus e, secundariamente, como partícipes da sociedade humana. Não foi à toa que Jesus nos pregou que o primeiro e maior mandamento está em “amar a Deus sobre todas as coisas”, ficando em segundo plano o fato de termos de “amar ao próximo como a nós mesmos”.

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