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Ensaios-->7. UM DIA NEBULOSO -- 14/02/2004 - 07:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Diz a Bíblia que Deus chamou Jeremias para ir ao templo, em seu nome, para advertir os homens de que seriam dizimados da mesma forma que o pote que ali o profeta arremessaria ao chão (Jeremias, 19:1-15). Dito e feito. Mas o povo repudiou os dizeres do enviado e segue a narrativa de modo que, ao final, tudo se conclui conforme a previsão.

Eis que o Senhor aparece vingativo e totalmente dominado pelas paixões humanas. Teria verdadeiramente Jeremias ouvido a voz de Deus? Acreditar nessa hipótese é, no mínimo, dar à Divindade papel bem mesquinho de guardião do templo, mesmo que em seus aspectos místicos e no que respeita às funções eclesiásticas. Ver no espírito que teria incentivado a atitude do profeta a figura do Criador é desprestigiar a excelsitude e a magnificência do divino poder. Deus seria tão pobre de expressão que não iria, ele mesmo, realizar os feitos diretamente? Deus necessitaria de porta-vozes para anunciar o que de pronto poderia fazer? Teria Deus descido de seu pedestal de glória para derrogar a lei e determinar a destruição de pobres e imperfeitos mortais?

Certamente, tudo não passou de ilusão criada pela mente obcecada do ancião ávido por salvar o povo das maléficas influências estrangeiras, que estavam a descaracterizar as tradições judaicas, introduzindo cultos alienígenas, entre os quais se imiscuía a oferenda de sacrifícios humanos cruentos. Era necessário pulso forte para conter os ímpetos da multidão. Era necessário que houvesse autoridade a quem atribuir a responsabilidade da interferência nos inúmeros interesses daqueles que se locupletavam com o comércio dos objetos sacros.

E essa condição de resguardo deveria ser preservada nos escritos básicos da religião, para servir de freio a futuras defecções. A palavra escrita, comprovada pelos fatos relacionados e postos ali à guisa de exemplo, ganha força de verdade e, quando lida durante as funções religiosas, na hora do culto nos templos e igrejas, adquire o tom de solenidade e de consagração, que o aparato litúrgico ampara, tornando-se, para o fiel ignorante, o retrato indiscutível da vontade divina.

Lido o trecho acima aludido nos templos evangélicos, irá soar na mente dos crentes mais insensatos como a tonitruante voz de fera criatura, jamais como a palavra de Deus. Que dizer, então, se levássemos a mesma leitura para dentro de uma de nossas casas espíritas, no momento mesmo da desobsessão? Evidentemente, nem os espíritos mais impuros ali reunidos poderiam aceitar que o Senhor em pessoa pudesse prometer aos infiéis de sua igreja que

...os faria comer as carnes de seus filhos e as carnes de suas filhas...,

mesmo que se pudesse compreender tão-só em aspecto figurado o dizer ali inscrito.

Então a Bíblia se equivocou? O sentimento de Jeremias talvez fosse o mais santo possível, pois sua intenção era a de atemorizar o povo para fazê-lo de novo trilhar os caminhos da antiga fé religiosa hebraica. Pode até ter ocorrido de ter ouvido a recomendação por via mediúnica, não precisando mais do que adornar as palavras com cores mais fortes, propendentes ao fim visado. O que não faz sentido é acatar a dissertação ameaçadora como provinda do ser a quem se atribuem a mais absoluta condição do amor e da justiça.

Em nossos comentários aos temas bíblicos, estamos acrescentando alguma palavra de regeneração espiritual concernente ao temor que todos temos de ferir o que de sagrado se possa conter no teor de sua mensagem. No caso específico deste texto, repugna-nos sobremodo ferir a idéia de que a figura exponencial do profeta, respeitosamente elaborada em nossa mente na forma de provecta criatura, dada a imagética tradicional, possa ter incidido em falha tão gritante que simples argumentação possa demonstrar com extrema facilidade. Cremos, no entanto, que nenhum de nós, esclarecido pela visão humanitarista da cultura espírita, poderia transformar-se em arauto de algum espírito que nos viesse propor chegarmo-nos aos nossos semelhantes para reproduzir-lhes tal discurso, culminando por, simbólica mas efetivamente, quebrar botija, em gesto de absoluta violência. Após Jesus, não mais a nossa consciência aceitará não ver em nossos semelhantes o nosso próximo, a quem devemos amar e esclarecer e não argüir e condenar.

Leiamos o Salmo 79 e supliquemos juntos:

Assiste-nos, ó Deus e Salvador nosso, pela glória do teu nome; livra-nos e perdoa-nos os pecados, por amor do teu nome. (Salmos, 79:9.)

Saibamos buscar nos livros santos os trechos que nos exaltarão diante do Pai e repudiemos aqueles que nos estimulem para a concepção do deus guerreiro, do deus dos exércitos, do deus da vingança e do espólio. Saibamos orar as preces de resignação e de conformação e acrescentemos o nosso pedido de compreensão e de sabedoria. Saibamos eleger os textos verdadeiramente sagrados que se espargiram por todos os livros, para dar curso ao sentimentos que nos elevarão perante o Senhor e para capacitar a nossa mente a adquirir os conhecimentos que nos elucidarão o propósito da vida e da existência. Sejamos condescendentes e jamais aviltemos os trechos que julgarmos incompatíveis com a verdadeira moral em curso nos planos espirituais superiores. Procuremos entender as suas motivações e os seus objetivos, mas não nos integremos em seu espírito, para não nos vermos emaranhados pela obtusidade de sua construção. Saibamos reconhecer os méritos e os deméritos, mas não expendamos julgamentos a respeito de seus atributos. Não vilipendiemos a mentalidade daqueles que um dia tiveram a necessidade de ouvir palavras tão duras, pois pode ter ocorrido que nós mesmos estivéssemos revestidos daquela carne, naquele tempo de iniqüidades. Do mesmo modo, não critiquemos quem ainda hoje necessite de correntes tão fortes para prender os seus instintos de maldade. Se nós temos discernimento para a blandícia de Jesus e se somos capazes de receber o influxo de consolação do Espiritismo, saibamos agradecer a Deus sua benignidade e misericórdia, pois sem elas ainda estaríamos ouvindo exortações candentes e cortantes, como as que se produziram pela voz de Jeremias.

Abramos o coração para os nossos semelhantes e dediquemos a eles o melhor dos esforços. Um dia, todos juntos, entoaremos hosanas ao Senhor, no mais puro estilo bíblico e lhe diremos:

Senhor, eis-nos aqui perante vós, para vos exaltar e glorificar. Aceitai a nossa oferta de amor e reservai para o vosso povo redimido lugar em vosso Paraíso. Deserdai-nos, Pai, se tivermos sido injustos para convosco. Honrai-nos, porém, com vossa bênção, se nossa fé nos salvou. Dai-nos o direito de cidadania celestial e enchei o nosso coração de júbilo por termos, enfim, compreendido a Verdade. E fazei de nós os vossos servos mais fiéis. Assim seja.

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