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Ensaios-->14. A CONSTRUÇÃO DO TEXTO BÍBLICO -- 21/02/2004 - 06:04 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ao sentir inspiração, o médium se deixa envolver pelos eflúvios magnéticos da espiritualidade, de sorte que se põe a escrever segundo os impulsos que lhe são fornecidos ao cérebro ou, mais particularmente, ao centro intuitivo, de onde se expande para as vias de acesso ao aparelho de comunicação intelectual, no qual avulta de importância, para o que se requer, a capacidade de verbalização. Uma vez percebida a mensagem, o escrevente nada mais faz além de registrar os tópicos segundo a orientação que lhe vem chegando, ou por impulsos frásicos, ou por generalidades. No primeiro caso, as palavras vão organizando-se de acordo com os princípios paradigmáticos do idioma, sob influenciação espiritual. No segundo, o próprio médium encarrega-se de ir preenchendo as linhas, consoante o que vai percebendo do tema e conforme a tendência para que lhe é direcionada a atenção.

Casos existem de mediunidade mecânica, cada vez mais raros porque considerados inferiores, tendo em vista o aparato técnico de que se necessita lançar mão, especialmente na arregimentação de certos espíritos dóceis mas de qualidade ainda grosseira, no que respeita à semelhança que devem apresentar ao encarnado magnetizado.

Existe outra forma mais imperfeita de se obterem textos psicografados, mas largamente difundida. Esta se dá por via intuitiva em forma de inspiração, de modo que o médium dificilmente se apercebe de que o texto que produz seja de origem espiritual. Quase sempre os autores se espantam com a facilidade com que redigiram e pensam estar prenhes de inteligência ou dom superior. Esta qualidade é mais visível no trato de certas atividades artísticas, especialmente nos campos da música e da poesia.

A nossa maneira de transmitir a este nosso instrumento é a da informação parcelada das frases, de modo que, muitas vezes, obtém ele a notícia do que se irá dizer um instante antes da escrita, com o intuito de preveni-lo para a correção sintática e para a intelecção do desenvolvimento lingüístico mais apropriado para que o trabalho ganhe em harmonia e perfeição. Às vezes, damos a entender o nosso ponto de vista a respeito da questão em destaque, de maneira que o nosso intuitivo se inteire do tônus a ser propiciado à frase, buscando, em seu repositório de vocábulos, aqueles que melhor traduzam as nuanças de nossos pensamentos, tendo em vista o grau de emoção que desejamos imprimir ao contexto.

Neste instante, estamos adotando variante de nossa modalidade, pois estamos ditando tão-só a palavrinha a ser redigida, a fim de proporcionar ao escrevente total segurança quanto à responsabilidade do discurso. Isto impedirá, certamente, que ele possa acreditar estar participando da redação do texto. Agora mesmo, tenta adivinhar quais os próximos termos a serem por nós solicitados e se surpreende quando, na expectativa de escrever determinada palavra, no último instante, diversificamos a solicitação e ele se vê obrigado a escrever algo com o que não havia atinado. Esta não é a melhor maneira, pois acrescenta ao ritmo do trabalho certa apreensão criada pelo temor de errar ou pelo receio de obstaculizar a seqüência do ditado.

Este longo preâmbulo servir-nos-á para introduzirmos o tema delicadíssimo anunciado em nosso título, ou seja, a construção do texto bíblico.

De início, devemos afirmar que a Bíblia, ou seja, a coletânea dos livros sagrados da sabedoria hebraica, conforme nos explica o étimo do vocábulo, o que pode ser comprovado por quem conhece a língua grega, contém todo tipo de escritura, dadas as interpolações possíveis à vista das diversas tradições e códices de que se serviram os copistas e os diferentes tradutores. Mesmo o texto mais original, aquele mais legítimo e próximo da letra do autor, ainda esse pode ter sofrido alterações sutis, de modo a não mais representar a intuição, a idéia, o pensamento original. Que dizer, então, de determinados trechos em total desacordo com o pensamento primitivo, dada a interferência conscientemente realizada por agentes de certas facções religiosas, muitas politicamente interessadas em desvirtuar a intenção primeira por não configurar os princípios doutrinários necessários, para que sua tese filosófica prevalecesse e ganhasse foros de cidadania religiosa?!

Presta-nos de exemplo o salmo de número vinte e dois, atribuído ao rei Davi, em seu versículo dezoito. Lê-se ali:

Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica deitam sortes.

Na mesma página de nossa edição, existe chamada para a seguinte anotação: “22.18: Mt 27.35; Mc 15.24; Lc 23.34; Jo 19.24”. (“A Bíblia Sagrada.” Op. cit., p. 575.) Para quem se abalance a ir verificar de que tratam os textos aludidos na chamada, devemos informar que os versículos se repetem nos quatro evangelistas. Nada haverá de se estranhar se considerarmos que o salmo 22 adverte sobre a vinda do Messias. Então, é natural que a previsão se confirmasse e que o fato se verificasse relativamente a Jesus, o que tornaria óbvia a observação de que o prenúncio se tenha realizado.

Mas vamos encarar as passagens evangélicas do ponto de vista, por exemplo, de israelita descrente de que Jesus tenha sido, verdadeiramente, o Messias. Que teria a nos afirmar relativamente às passagens acima assinaladas? Certamente, iria aceitar os dizeres das Velhas Escrituras como reflexo da própria intenção do salmista e iria profligar os textos evangélicos, acoimando-os de inverídicos. Mais ainda, poderia até supor que os evangelistas, de caso pensado, teriam transcrito o entrecho para dar autenticidade aos seus relatos. Poderá, se zeloso for dos princípios morais, para confirmar as suas assertivas, buscar outros entrechos igualmente extraídos dos textos antigos, segundo seu ponto de vista, para o que não precisaria procurar muito, pois são inúmeros os aproveitamentos que se verificaram.

Que diriam um católico ou um protestante a respeito da posição do israelita? Diriam que os evangelistas ou presenciaram ou obtiveram informações de testemunhas fidedignas para registrarem o fato em seus escritos; ainda mais, que foram assistidos pelo próprio Jesus, filho de Deus, interessado em que a divulgação de sua peregrinação e de seus ensinamentos se desse do modo mais real possível. Desta forma, o texto do salmo se configuraria em real antevisão do que iria acontecer vários séculos depois. Só não seriam capazes de explicar convenientemente o mecanismo da predição, limitando-se a dizer que deve ter sido por inspiração de Deus.

Como reagiria um verdadeiro e estudioso espírita à vista dos textos e diante dos diversos argumentos apresentados? Em primeiro lugar, acreditaria que tudo fosse verdadeiro, ou seja, o salmo evidenciou fato que ulteriormente se confirmaria. O que não aceitaria era a presença do Pai junto ao salmista, preferindo evocar a figura de espírito de estirpe, linhagem ou categoria superior. Poderia duvidar da existência de verossimilhança entre o que se disse previamente e o que realmente ocorreu, imaginando que teria havido influenciação mediúnica no momento da crucificação, de modo a se concretizar, sem que os soldados percebessem, os fatos aludidos, favorecendo dessa maneira a confirmação da previsão. Nesse caso, poderia até admitir que os evangelistas, inspirados pelas mesmas entidades, fossem buscar no salmo a legitimidade de sua explanação, crentes de que, em sendo Jesus o verdadeiro messias, por certo o que a ele anteriormente foi referido deveria ter acontecido. Desse modo, tudo se justificaria por meio da influenciação mediúnica.

Como o caro amigo leitor vê o presente problema? Sente que há alguma razão em algum dos pontos de vista? Está tentado a aceitar parte da argumentação judaica e parte da visão cristã? Até que ponto é admissível supor-se que nenhum dos evangelistas tenha realmente incluído o fato em suas narrativas e que a interpolação possa ter-se verificado depois, durante a composição dos códices medievais?

Para nós, o amplo desenvolvimento que demos ao exemplo está inteiramente fora de foco. Não nos interessa saber se houve previsão, se esta se realizou, se os evangelistas copiaram, se houve intuição mediúnica, se houve ou não acrescentamento posterior. O que nos importa é o ponto em si: há algum ganho de profundo valor moral ou espiritual nos trechos citados? A leitura deles nos faz melhores, de modo que nos compenetremos das virtudes de que nos devemos apossar para dar à nossa vida o curso programado, destinando-nos ao fim colimado para o nosso encarne? Teremos algum valioso aprendizado, de sorte a nos favorecer o nosso relacionamento com os semelhantes?

Quanto à construção do texto bíblico, no frontispício fornecemos a nossa posição. Há ali de tudo, inclusive inspiração de espíritos bem imperfeitos. Faz isso com que a Bíblia desmereça de nossa confiança ou perca a importância que lhe possamos ter atribuído como obra representativa da religião, como relicário de conhecimentos do mundo e da existência em relação com o Criador? Certamente, não.

A Bíblia continua a ser para nós o livro dos livros, aquele que lemos e relemos e cujos ensinamentos nunca chegamos a assimilar inteiramente. A feição que adquire, após ter sido submetido à nossa percuciente análise ou àquela de que é capaz o amigo leitor, é a de obra superior mas hermética, que necessita de justa interpretação em seu sentido mais literal, para que possamos compreendê-la do ponto de vista moral e espiritual. Não bastam, para isso, as perquirições de caráter histórico, geográfico, religioso e filosófico; não será suficiente a pesquisa exegética mais profunda; há a necessidade da visão crítica da fé fundamentada no experimentalismo e na teoria espírita, para que se possa adentrar no valor cármico do texto, ou seja, aquele que se lhe foi atribuído para que a obra verdadeiramente represente o guia infalível da conduta humana.

Vamos, portanto, caro amigo, abrir os olhos e aceitar de viva fé tudo o que se contiver de mais perfeito no texto sagrado, afastando todos os pensamentos que possam constituir-se em percalço para o nosso desenvolvimento, tudo o que venha a obstar que nos aperfeiçoemos e nos purifiquemos. Façamos como o Cristo, que tomou dos antigos o que lhe ofereceram de melhor, mas expurgando tudo o que significava entrave para a evolução, para a redenção, para a salvação.

Oremos todos juntos, mais uma vez, para obtermos de nossos guias as inspirações mais seguras, sempre que estivermos diante do texto sagrado. Recebamos deles os pensamentos mais preciosos para a compreensão da vida, através do ensino bíblico, mas façamo-lo pelo esforço de nossa dedicação, de nosso interesse e de nosso trabalho, sem esmorecimentos, cientes de que este será o caminho para a construção de nossa própria mensagem de amor, justiça e caridade endereçada para o próximo, o que significará, iniludivelmente, que compreendemos a lei maior impressa no texto sagrado, pois, agindo assim, estaremos a demonstrar que amamos a Deus sobre todas as coisas.

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