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Ensaios-->Diário de um pseudônimo (005) (2004/04/14) -- 11/05/2004 - 03:40 (Penfield Espinosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Diário de um pseudônimo (005) (2004/04/14)

Penfield Espinosa



14/04/2004

Por uma volta qualquer do destino, acabei ficando do lado de lá de uma câmera.

Quero dizer: hoje há muitas câmeras do tipo que os americanos chamam de surveillance e que talvez os especialistas brasileiros nomeiem como vigilância. Acabei vendo o que elas vigiam: nós mesmos.

Fui vistar um cliente e o serviço de informática que tive que fazer, por umas poucas horas, era exatamente na mesma sala onde as câmeras mostravam suas imagens.

Disparei a nova rotina que fui instalar e durante algum tempo observei seus resultados na tela de um dos servidores da empresa. Aparentemente tive sucesso e a rotina entrou em uma fase calma, com poucos avisos. Continuei acompanhando-a, pois sou um profissional cuidadoso. Quase perfeccionista.

Neste ponto, teve que sair da sala o funcionário da empresa que acumula as funções de operador dos servidores e das tarefas ligadas às câmeras de vigilância.

Como já presto serviços para esta empresa há alguns anos e, além disso, tenho certa camaradagem com este funcionário, não houve problema em que eu permanecesse na sala.

Continuei a monitorar minha própria rotina. Como ela estava bem sucedida e silenciosa eu, sozinho na sala, desviava os olhos de tempos em tempos para acompanhar as câmeras.

Sendo já o começo da noite, as câmeras mostravam apenas o mobiliário vazio: os funcionários já haviam deixado suas suas salas.

Assim, nada acontecia, tanto na tela dos computador que eu devia monitorar, como nas telas de câmeras que eu não devia monitorar...

E eu não poderia abandonar meu posto de vigilância. Enfim, a chamada monotonia vigilante.

De repente, uma das câmeras, posicionada na saída da empresa passo a mostrar uma moça. Provavelmente uma funcionária que saiu mais tarde e esperava uma condução para ir embora.

Por alguma razão -- tédio, talvez -- aquela moça, mostrada com a pouca resolução de que as câmeras de surveillance são capazes, despertou minha atenção.

Não digo paixão, não digo interesse sexual -- apenas pura reflexão. Acredite o leitor se quiser.

Ela tinha a mesma idade que eu, trinta e poucos anos.

Pensei então:


O interesse que ela me causa não será pela beleza, que a câmera não mostra. Como uma caricatura, vejo apenas um esboço de seus traços. Posso ver que ela é séria, é profissional. Posso ver que ela é parecida comigo.

De certo modo, vejo dela menos o sex-appeal do que sua similaridade comigo.

Moça monitorada minha irmã, minha semelhante.


De repente, a porta se abre e vejo entrar o funcionário que me acompanhava. Desvio o olhar da tela para ele, que faz algum gracejo.

Falamos.

Quando olho de soslaio para a câmera, a moça velada não está mais lá.

S. Paulo, 14 de abril de 2004
(Copyright © 2004-2007 Penfield da Costa Espinosa)




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