Uma vez li entrevista de um autor que dizia que nunca relia seus textos para não ser influenciado por ele mesmo.
Como discordo desta idéia, apresento-a de modo irônico: quase rio quando releio o parágrafo anterior deste texto. Talvez tenha sido apresentado de modo mais sério e refletido.
Entendo que um autor sério tem que reler seus textos para poder reescrevê-los e assim melhorá-los.
Na verdade, não pretendo retrabalhá-los: não sou um autor sério... e um diário não se reescreve. Termino por relê-los para ver como ficaram, para avaliar o quanto a escrita quase automática que pratico é capaz de gerar algo que preste.
Mas se estivesse escrevendo com a pretensão de gerar uma obra, tenho certeza de que teria que reescrever muito, que repensar muito. Ou então, equivalentemente, teria que cortar muito os textos, que jogar fora muita coisa.
Isto não é tão beletrista quanto possa parecer. Na indústria do disco, apesar de durar pouco mais de uma hora, os discos são gerados depois de um número muito grande de tentativas e erros.
Isto corresponde a jogar fora de partes de textos comentados antes.
Um disco ao vivo é, por incrível que pareça, semelhante a reescrever um texto já que, pela impossibilidade de tocar de novo as canções, resta apenas o tratamento dos engenheiros de som para se gerar uma obra mais refinada do que aquela que os microfones captaram durante o show.
Penso tudo isso a respeito das entrevistas que li de um músico e de um escritor que, mesmo que sendo talentosos, nunca se esforçaram ou se arriscaram.
Um deles chega a sentir culpa por ganhar bem demais, fácil demais. Outro se refugia em um ressentimento de gênio incompreendido.
Arte também é risco, também é perigo. Eu, muito mais covarde e muito menos talentoso do que eles, sei muito bem.
