Quando vou para o trabalho, não deixo de achar interessante o balê da troca de olhares entre os ocupantes dos carros parados em semáforos -- viram? sou paulistano, escrevo semáforo em vez de sinal ou sinaleira, como os outros brasileiros -- ou no congestionamento.
Acho interessante ver os outros motoristas e passageiros se olhando. Mas não chego a achar interessante ser olhado. Na verdade, nem mesmo olhar.
Gosto apenas de ver as pessoas trocando informações através de seus olhares. Mas evito olhá-las diretamente.
Não gosto de ser olhado.
Hoje reparei nisso porque quando vinha para o trabalho, uma mesma senhora -- de quarenta e muitos anos -- esteve comigo em praticamente todas as paradas do trânsito. Ela me olha de modo talvez discreto, mas sempre presente: era só minha fila andar para ver dali a pouco o nariz do carro dela me alcançar outra vez.
Não sou paranóico e, ao longo de meu caminho, não havia muitas alternativas. Por isso, não me impressionei com essas seguidas coincidências.
Parei para tomar café da manhã em lanchonete que me pareceu reconfortante. Não, não me lembrou nenhuma casa, onde tenha morado ou não.
O fato que me surpreendeu foi que quando saí de lá para vir ao trabalho vi a mesma pessoa no mesmo carro parando nos mesmos sinais.