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Ensaios-->GASTON BACHELARD UM POETA DO MUNDO -- 05/06/2005 - 19:48 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
GASTON BACHELARD, UM POETA DO MUNDO,
DO ESPAÇO E DO DEVANEIO

João Ferreira
Brasília, 7 de abril de 2005



O pensador francês Gaston Bachelard(1884-1962) é autor de uma enorme produção filosófico-científica e um dos gurus da epistemologia e da metodologia filosófica contemporânea. Sua característica principal é a de ser um autor anti-racionalista, que teve o mérito de não dar muita bola ao soberbo pedestal racionalista vigente em seu tempo herdado dos séculos XVIII e XIX. Seus livros oferecem ao leitor o atalho da sensibilidade e da poeticidade para a compreensão do mundo. Faz isso utilizando a metodologia fenomenológica sugerindo a valorização da imagem poética das coisas e da imaginação colocando-a a serviço do que interessa à vida e ao bem-estar do homem no mundo. François Dagognet o definiu como “o homem do poema e do teorema”. Queria dizer que Bachelard, além de profundo pensador era também um homem tocado pela sensibilidade e pela poeticidade do mundo. Por outras palavras, é um homem que embora tivesse lidado com os mais altos problemas da ciência e da filosofia, conseguiu humanizar a atitude do homem frente ao mundo. É por esse motivo que em suas abordagens, Gaston Bachelard não é tido como um “filósofo de rigor” tendo em vista os atributos que Husserl dera para os cultores da Filosofia. Mas é certamente um filósofo de vocação especial, um poeta do mundo, do espaço e do devaneio, um pensador que pelos seus conhecimentos físicos, filosóficos, dialéticos e epistemológicos conseguiu introduzir na concepção original do mundo a imaginação poética, tornando-se um alquimista do sonho. Sua filosofia é referencialmente uma filosofia viva. Tão viva que a linguagem e a retórica com que a expôs têm merecido estudos especiais e especializados em várias áreas do conhecimento.

Obedecendo a essa metodologia, Bachelard torna a matéria física um espaço da imaginação e da emoção dando assim, ao seu leitor, a possibilidade de introduzir na vida quotidiana “imagens do espaço feliz”. Seu livro A Poética do Espaço está entre suas obras mais famosas. Ele trabalha as imagens da vida que atraem e tocam a sensibilidade de uma vida ideal. É uma obra que valoriza os espaços “vividos” e os “espaços amados”, como a casa, a cabana, a gaveta, o cofre, o armário, o ninho, a concha, a miniatura e a imensidão íntima. No símbolo da casa, o homem reconhece a intimidade e a proteção. Bachelard desenvolve a idéia do abrigo, do refúgio e da proteção acendendo todas as luzes fugidias do devaneio. A casa é a maior força de integração para o pensamento,para a lembrança e para o sonho. Nessa integração,o princípio de ligação é o devaneio. Devaneio que é sonho, fantasia, imaginação, calor íntimo, felicidade , bem-estar, alegria. Graças à casa, grande número de nossas lembranças são guardadas. A casa é um refúgio e também um arquivo.Dentro da casa ou a complementar a casa, há ainda o porão, o sótão, os cantos da casa. Eles podem também representar pedacinhos desse refúgio e dessa memória. A casa é o resguardo. Todo o ser humano se resguarda na proteção de sua intimidade, de sua memória, alongando indefinidamente os espaços de seus devaneios e sonhos.

A Poética do Espaço é um livro contrastivo. Talvez porque o homem comum tem da vida uma visão muito materialista e positivista, muito carnal, muito cousal, a maneira otimista e alegre como o autor encara os espaços amados e nega relevo aos espaços da hostilidade e do ódio, tornam Bachelard um autor de tremendo sucesso. É um dado da sociologia das comunidades a evidência de que falta ao homem comum a sensibilidade para penetrar o mundo da imagem poética, o mundo da sensibilidade e do devaneio. O homem comum não tem a ousadia de tentar ultrapassar a casca e a superfície das coisas. Perante esta evidência, Gaston Bachelard tenta chamar a atenção para a fronteira do oculto,aquela fronteira sensacional capaz de desafiar o mais orgulhoso dos homens. Falando da poética do espaço, ele coloca em destaque os espaços privilegiados, os espaços amigos, os espaços habitados, morados, desejados, imaginados e poetizados. Os espaços que têm valor de intimidade. Espaços com interioridade. Dentre todos, a casa, espaço de intimidade protegida. como cantinho da vida, como primeiro universo depois que o homem sai do útero e do colo materno. A imaginação humana trabalha esta proteção e este abrigo construindo paredes com sombras impalpáveis e se reconforta com ilusões de proteção, ou também, inversamente, treme atrás de grossos muros, duvidando das mais sólidas muralhas.

Por seu lado, as gavetas, os cofres e os armários são igualmente imagens da intimidade,. verdadeiros órgãos da vida psicológica secreta, pela intimidade que têm..

O ninho e a concha são imagens primordiais que despertam em nós um primitivo esconderijo de vida. A concha é toda essa dialética do ser livre e do ser acorrentado. Do sair e do ficar.

Como poeticidade da casa, existem os cantos e os cantinhos: “Todo o canto de uma casa, todo o ângulo de um quarto, todo o espaço reduzido onde gostamos de encolher-nos, de recolher-nos em nós mesmos, é para a imaginação, uma solidão, ou seja, o germe de um quarto, o germe de uma casa” .Depois, a miniatura. O jogo da extensão, da dimensão métrica. Mas o grande espaço é “a imensidão íntima” , que se torna uma categoria filosófica do devaneio. Devaneio que comporta todas as ressonâncias da contemplação da grandeza. Ressonâncias que agilizam a imaginação que por si só pode aumentar ilimitadamente as imagens da imensidão: “A imensidão é o movimento do homem imóvel. A imensidão é uma das características dinâmicas do devaneio tranqüilo”.”“Na alma relaxada que medita e sonha, uma imensidão parece esperar as imagens da imensidão” “A imensidão íntima é uma intensidade, um mergulho nos espaços infinitos”. Sentir a imensidão é “descobrir em nós a alegria expansiva de contemplar...o engrandecimento de nosso espaço íntimo”.

João Ferreira
7 de abril de 2005

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