No último fim de semana assisti em Brasília a um grande jogo de basquete entre o Brasília e o Flamengo. O ginásio todo em festa com o Brasília ganhando folgadamente do rubro negro, nosso maior rival. Já no final do jogo um torcedor flamenguista, inconformado com a derrota do seu time, resolveu estragar a festa atirando bombas na torcida brasiliense. Foi um corre-corre geral. Felizmente ninguém saiu ferido. A polícia, numa perseguição espetacular, conseguiu prender o incendiário em desembalada carreira dentro do ginásio. O placar eletrônico marcou a vitória do Brasília por 93 a 74.
Infelizmente, essa não foi a primeira vez que presenciei guerra entre torcidas. Uma delas foi no Maracanã, no dia da vitória do Vasco sobre o Flamengo. O confronto dos times pela vitória foi no gramado. Mas a guerra das torcidas para eliminarem-se mutuamente foi do lado de fora, a céu aberto.
Outra, foi no jogo do Gama - ex-grande time de Brasília, contra o Flamengo. Naquele dia, com o grande Romário em campo, a torcida do Gama vergonhosamente cassou implacavelmente qualquer pessoa que estivesse usando roupa, adereço, meia ou camisa com algum vestígio vermelho, a cor flamenguista. A cena mais apavorante foi de um rapaz sendo espancado só porque sua mochila tinha vermelho na alça. Nada que o insinuasse flamenguista.
Estou citando o Flamengo por coincidir ser este time em campo. Não entendam que pretendo fazer qualquer julgamento ao comportamento dos flamenguistas. Tanto é verdade que no último parágrafo citei a selvageria dos torcedores do Gama.
Se formos falar mal de torcidas temos exemplos ruins em quase todos os times brasileiros. Quem não se lembra dos enfrentamentos entre cruzeirenses e atleticanos em Minas Gerais? ou Corinthians, Palmeiras e São Paulo? Inclusive com a morte de um jovem torcedor no último jogo entre Corinthians e Palmeiras e a morte de torcedor do paulista aqui em Brasília, no jogo entre São Paulo e Goiás, em 2008.
Fiz essa introdução para protestar contra a decisão do Governo brasileiro e do Congresso Nacional em aceitar as condições da FIFA de autorizar o comércio de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa de futebol de 2014.
Os caos que citei, as brigas que assisti, as pessoas ensangüentadas que vi e as mortes dos torcedores, foram provocadas pela euforia com a derrota do time, misturada, com certeza, as bebidas alcoólicas vendidas nos estádios.
Desde quando o jogo fica mais interessante se o torcedor estiver bêbado? Por que o consumo de álcool deve ser estimulado num ambiente já carregado de emoção? Por que arriscar a vida dos brasileiros para agradar a FIFA?, que logo após o jogo vai embora com os lucros adquiridos as custas do nosso suor e sangue?
Sabemos como o nosso sangue ferve quando a seleção brasileira está em campo. Por que estimular ainda mais nossa juventude consumir álcool? A Copa seria o momento de darmos uma lição ao mundo mostrando que não aceitamos nossos jovens embriagados se matando em frente as câmeras do mundo inteiro.
A nossa justiça já é bastante frouxa em punir esses vândalos dos estádios e os motoristas embriagados que matam cada vez mais todos os dias nossos compatriotas. Diante de tão pouco caso, por que as autoridades insistem em não proteger nossos jovens? O Brasil tem gasto alguns milhares de reais em campanhas publicitárias tentando inibir o consumo de álcool, além de outros tantos reais em atendimentos a feridos que chegam aos hospitais vítimas de motoristas embriagados. Pensões a famílias que perderam entes queridos, empresas que a cada dia perdem trabalhadores que não conseguem se livrar do vício do álcool. Famílias esfaceladas pelo álcool fácil e barato vendido, propagado e estimulado a cada esquina deste país.
Estaremos embriagados de emoção com a vitória da nossa seleção. Até precisamos da Copa. Precisamos? Com certeza não precisamos de uma Copa que nos entonteça.
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