Diário de um pseudônimo (045) (2005/02/09)
Penfield Espinosa
09/02/2005
Já me perguntaram algumas vezes se, sendo solteiro, não me sinto sozinho ou solitário.
Naturalmente, quem perguntou isso era casado...
Sem querer pensar nas vantagens ou desvantagens do casamento, apenas sorri à guisa de resposta.
Conheço, é claro -- e eles também conhecem --, pessoas solteiras que vivem muito acompanhadas.
Não falo apenas de celebridades ou astros de rock, mas também de pessoas comuns, mais simpáticas ou gregárias do que a maioria, que vivem sempre acompanhadas. Posso citar o filme americano e dizer que essas pessoas são married to the mob, casadas com a galera.
Não sou tão gregário ou simpático. Sim, algumas vezes me sinto solitário.
Como Nelson Rodrigues bem sabia, isso não tem nada a ver com estar ou não acompanhado. Tem a ver com o fato de que, aos poucos, vamos nos colocando em posições muito peculiares ou particulares. E fica difícil comunicar isso aos outros.
Por exemplo, veja meu caso: advogado formado (vulgo bacharel), solteiro, baiano vivendo em SP, trabalho com informática -- pouca gente com essas características. Às vezes falta quem entenda o que sinto. Às vezes me falta o que se chama em psicologia social de peer pressure, ou pressão dos iguais.
Enfim, sinto alguma falta da turma, da galera, da mob, que eu tinha quando adolescente de fato. Dizia Erasmo Carlos em sua infelicidade: eu era um homem e sabia tudo.
Yeah, Erasmo, velho roqueiro:
Hoje só com meus problemas
Rezo muito mas eu não me iludo
Sempre me dizem quando fico sério:
'Ele é um homem e entende tudo'
Por dentro com a alma tarantada
Sou uma criança, não entendo nada.
S. Paulo, 09 de fevereiro de 2005
(Copyright © 2005-2009 Penfield da Costa Espinosa)
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