Não porque eu me sinta o deus Loki da mitologia nórdica, responsável pela trapaça, traição e mentira. Não porque eu seja mais mentiroso do que a maioria. Muito menos -- definitivamente não -- porque eu seja um pseudônimo de quem quer seja. E não eu mesmo.
Mas sim porque eu, como todo humano, tenho que lidar com minhas frustrações, com as frustrações que causo ao desejo dos outros.
A mentira, consciente ou inconsciente, é a forma que todos nós usamos para lidar com essas frustrações ou com a solução delas, a solução dos dilemas éticos e emocionais. Ou simplesmente dos dilemas causados pela diferença de pontos de vista e expectativas que temos dos outros.
Uso a palavra 'nós' não para me ocultar por trás da maioria, ou por trás da suposta condição humana.
Uso nós para me lembrar (e aos leitores) de que não sou pior do que todos outros.
Mas não me esqueço meu papel de devoto do deus da mentira. De Loki, de Mercúrio/Hermes e dos nossos Saci Pererê e Exu.
Saber disso tudo e aceitar não me traz de volta o sono perdido. Mas me ajuda a pensar em outro tempo, outra humanidade, onde essas contradições -- essas mentiras ! -- possam ser resolvidas. Ou pelo menos aliviadas.