O ruído de um motor pode ser mais belo do que uma música. Esta não é uma afirmação de um futurista italiano (viva Marinetti !) do começo do século. É de um baiano que não gosta de música axé (eu mesmo) e que ficava impressionado com o quanto os motoristas de ônibus de Salvador tocavam esse ritmo nefasto no sistema de som de seus ônibus, na época do carnaval.
Eu entendia que isso era questão de contexto. Mas ficava assustado com a possibilidade de ouvir axé fora de hora. Imagina ouvir isso o ano todo ?
Felizmente, o movimento roqueiro de Salvador era muito forte e não deixava isso ocorrer. Santo movimento roqueiro.
Isto é algo que os paulistas e paulistanos não sabem: há muitos e bons roqueiros em Salvador. Para cada Raul Rock Seixas, para cada Marcelo Nova, Salvador tem outras tantas bandas muito boas, desconhecidas do Sul. Aliás, o que vem para cá nem sempre era o melhor de lá. Apenas o que a industria cultural quer.
Enquanto escrevo, tenho um pensamento ruim. Como seria a vida de uma pessoa se todo dia de manhã fosse acordada com música axé ? Ou -- muito pior -- tivesse que escutar uma hora de música brega, sertaneja (breganejo) em seu ônibus para o trabalho ?
Qual a produtividade ? Qual o humor desse ser torturado ? Tolkien diz que seres angelicais (os elfos), se excessivamente torturados, tornam-se demônios porcos e grosseiros, os orks.
Pensando bem, ouvir axé baiano no carnaval não é tão ruim assim. Existem coisas piores.