Nas trovas que componho, vejo um crime:
O de jamais tornar sutil, sublime
O sentimento d’alma que viceja.
Melodramáticas, as rimas dão
Certo desgosto bobo ao coração.;
Raríssima esperança benfazeja.
O espiritista gosta que se anime
O coração, com verso que só rime
Dentro das leis do carma e do evangelho.
A redenção se põe no fim do drama,
Após provar o homem que mais ama,
Morrendo o sofrimento, por tão velho.
Quando enalteço, em versos, o mistério,
Dou-lhes um tom soturno-cemitério,
Que até o meu cadáver se arrepia.
E tudo deve ser simples, bonito,
Como dizer que o Pai, lá no infinito,
Preserva a Criação, como poesia.
Perseverar no bem é o compromisso,
Como noss’alma há de manter o viço,
Se tudo dermos ao que mais precisa.
Por isso, o verso tem de ser formoso,
Para tornar sereno e puro o gozo
Do despertar do amor que realiza.
Notável o capricho que se estima,
No milenário desta rude rima,
Quando estivermos prontos e perfeitos.
Não é assim que espera o nobre amigo,
Distante já do risco ou do perigo
De ter os sons da trova insatisfeitos?!
Como será, então, o doce canto
Deste poeta, que será mais santo,
Pois regredir não cabe na existência?
Talvez a dor do povo esteja ausente,
Perdida já, no tempo, eternamente,
Ou compreendida pela consciência.
Aquilo que me traz tão envolvido
Não há de comportar nenhum: — “Duvido!” —,
Que a mente sentirá todo o esplendor
Do pensamento certo e vitorioso,
Pois a Verdade há de prover o gozo
Do sentimento eterno, em paz e amor.
A luta, agora, é trágica, é humana,
Que a carne nos ilude e nos engana,
Enquanto os vícios são prioritários.
O pelejar na lei é desta esfera:
No Mundo, o mais que existe é triste espera,
Que os outros nos parecem só otários.
Aos poucos, bem aos poucos, vamos indo:
Os versos são tacanhos, um é lindo
E é esse que nos traz tanta alegria.
Os males nos transtornam e a delícia
De um momento sublime, sem malícia,
Nos dá a idéia do que o bem seria.
Não sente o amigo a falta antecipada
Do verso que se acaba, pois mais nada
Existe para além desta sextilha?
Pois, ore ao Senhor, com devoção,
Que as rimas benfazejas voltarão,
Porquanto a luz do amor nas almas brilha.
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