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Cordel-->A ARTE DO IMPROVISO - II -- 07/11/2003 - 20:20 (José de Sousa Dantas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MELHORES MOMENTOS do 27º CONGRESSO NACIONAL DE VIOLEIROS
Campina Grande – PB, em 26/10/2003 (DOMINGO)

TEMAS DESENVOLVIDOS PELOS REPENTISTAS

·O deficiente
·Chorei olhando o retrato da primeira comunhão
·Só a pena de morte evitaria a seqüência do crime organizado
·Quando eu ia pra escola
·O que tem na feira livre
·Quer saber se eu sou sabido, teste meu conhecimento
·A mulher heroína do sertão, faz as lutas da casa e do roçado
·Objetos antigos
·A distribuição de renda
·A cantoria da feira também divulgou a gente
·Quando o sol despontou por trás do monte, eu já vinha voltando do curral
·O pescador
·João Paulo Segundo vem mostrando o exemplo de amor à humanidade
·As crianças da FEBEM
·Por favor não faça mais telefonema pra mim
·A ganância de Judas por dinheiro, fez vender o divino Salvador
·Depois que a festa acabou
·O preguiçoso
·Nunca deixou de existir preconceito racial
·Severino Ferreira hoje é saudade no cenário da nossa cantoria
·Aonde tem união

É de se admirar o trabalho desses mestres do improviso, OS POETAS REPENTISTAS, que sob inspiração divina, talento e experiência, arranjam palavras adequadas e desenvolvem, com criatividade e rapidez (são 17 segundos em média para cada estrofe,com várias estrofes), os temas inéditos, sorteados no ato, pensando, tocando, cantando e gerando versos edificantes, com RIMA, MÉTRICA, COERÊNCIA, CADÊNCIA, em várias modalidades da cantoria.
E para saborear e comprovar essa grandeza, leia com atenção e paciência o show de versos selecionados, mesmo sendo extenso o texto, mas vale a pena ler e conhecer.

O DEFICIENTE
Edmilson Ferreira (EF) e Antônio Lisboa (AL)

EF
O deficiente vive
dando alguns passos perdidos,
maus momentos são notados,
mais bocados são comidos,
num mundo que discrimina
aos menos favorecidos.

AL
Entre risos e gemidos,
deficiente se enrola,
quando é estimulado,
ganha a vida na escola,
e o que fica acomodado
se vicia na esmola.

EF
Deficiente se isola,
mas sonha com bom porvir,
no teatro da cidade,
não pode a peça assistir,
pela falta de um barranco,
para a cadeira subir.

AL
Deficiente é pra ir
a casa de um prefeito,
à porta do sindicato
e a do juiz de direito,
que na hora de votar,
seu voto é do mesmo jeito.

EF
Apesar de ser aceito,
pra político discursar,
se tem pra um canto que ir
algum transporte pegar,
não tem placa escrito em braile,
pra ele se orientar.

AL
Tem muleta pra levar,
para toda freguesia,
numa rampa na calçada
e o dinheiro na bacia,
isso não significa
que ele tem cidadania.

EF
Quando pega alguma via,
não pode mostrar seu plano,
quando o problema é mental
se interna ao longo do ano,
e é tratado como um doido,
mas não como ser humano.

AL
Deficiente tem plano
de fazer sua defesa,
cinco por cento das vagas,
tem direito em cada empresa,
mas o salário não cobre
a metade da pobreza.

EF
Vive ele com certeza,
e o sofrimento lhe ensina,
não pode ir pra congresso,
nem trabalhar na USINA,
a família é a primeira,
que aceita, mas descrimina.

AL
Ele vive a dura sina,
se humilhando a alguém,
na fila de alguma empresa,
nos portões do armazém,
e ainda vira chacota
das limitações que tem.

EF
O deficiente tem
limitações no seu leito,
merece cidadania,
ser tratado com respeito,
se pra alguns é diferente,
pra DEUS é do mesmo jeito.

CHOREI OLHANDO O RETRATO DA PRIMEIRA COMUNHÃO

AL
Fiquei emocionado,
olhando a fotografia,
daquele primeiro dia,
depois de ser batizado,
como eu não tinha pecado,
não foi pequeno o perdão,
e o padre da região
não pôde chamar-me chato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

EF
Eu vendo a foto na frente,
tirei certas conclusões,
vendo as modificações,
de velho pra adolescente,
me achei tão diferente,
fazendo a comparação
parecia um ancião,
vendo a foto de um novato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

AL
Lembrei a idade que eu tinha
de sete anos de vida,
e a família reunida
na porta duma igrejinha,
dum lado estava a madrinha
de outro era o meu irmão,
uma vela em minha mão
e os pingos dela num prato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

EF
Eu estava impressionado,
olhando a igreja franca,
vestindo de roupa branca
e um bom sapato calçado,
um fotografo foi chamado
pra bonita ocasião,
que retrato do sertão,
além de bom, é barato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

AL
Eu estava bem na frente
dos companheiros de turma
e é bom que nunca mais durma,
lembrando o tempo de ausente,
e eu era um adolescente
hoje sou quase ancião,
nessa modificação,
eu só consegui maltrato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

EF
Chorei na minha guarida,
diante a foto normal,
eu no período atual
vendo o começo da vida,
a calça ficou perdida,
a meia e o cinturão,
o quadro eu pus no salão,
a vela eu joguei no mato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

AL
É bom que eu lembrando vá
do meu retrato pequeno,
em cada traço moreno,
comparado a Jeová,
daquele tempo pra cá,
houve uma transformação,
troquei de religião,
mas nunca quebrei meu trato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

EF
Mamãe nele me dedica
milhões de felicidade,
e na nossa comunidade,
não havia festa rica,
a máquina era Yashica,
o fotógrafo era seu João,
eu fiz calo no dedão,
do aperto do sapato.
Chorei olhando o retrato
da primeira comunhão.

SÓ A PENA DE MORTE EVITARIA A SEQÜÊNCIA DO CRIME ORGANIZADO

EF
Nesse imenso país continental,
que os direitos de muitos são negados,
poucos vão ao degraus mais elevados,
da enorme pirâmide social,
e pra chegar ao mais alto pedestal,
tem pessoa que tem se rebelado,
feito tráfego de droga, assassinado,
a sem terra, empresário e bóia fria.
Só a pena de morte evitaria
a seqüência do crime organizado.

AL
Só a pena de morte o tempo inteiro
resolvia o problema da nação,
mas não tinha que ter o coração
e nem também o problema do dinheiro,
que as questões lá do Rio de Janeiro,
em Brasília, Pará e todo Estado,
tem corruto comprando deputado
e delegado a vender delegacia.
Só a pena de morte evitaria
a seqüência do crime organizado.

EF
O discurso mantém a elegância,
e a promessa de agir reforça a tática,
entre ser prometido e posto em prática,
tem milhões de quilômetros de distância,
é preciso cobrar mais militância,
dos políticos que nós temos votado,
e a pressão aos homens do senado,
pra o país conquistar democracia.
Só a pena de morte evitaria
a seqüência do crime organizado.

AL
Só a pena de morte, coisa séria,
resolvia o problema do país,
pra o Brasil se torna bem mais feliz,
e para o povo não ter essa pilhéria,
não podia também haver miséria,
nem mendigos e nem descamisado,
que um país que só tem desempregado,
ninguém pode gritar cidadania.
Só a pena de morte evitaria
a seqüência do crime organizado.

EF
O País tá repleto de bandido,
a matar do mais velho à criança
é preciso um projeto de mudança,
isso aí já foi muito prometido,
esse tema tem sido debatido,
e no discurso demais foi explorado,
FERNANDINHO tem o fone liberado,
pra ligar para o tráfego todo dia.
Só a pena de morte evitaria
a seqüência do crime organizado.

EF
Só a pena de morte dava acesso,
pra o povo da terra ter mais paz
e acabar com diversos marginais,
isso aí todo dia eu rogo e peço,
e quando chega um projeto no congresso,
ele é mais que depressa engavetado
rabo preso de muito deputado,
NÃO É ESSE O PAÍS QUE EU GOSTARIA.
Só a pena de morte evitaria
a seqüência do crime organizado.

QUANDO EU IA PRA ESCOLA: Em 7 linhas

AL
Não consigo me esquecer
de quando eu ia pra escola,
a professora educada,
cadernos numa sacola,
faltando oportunidade,
eu troquei a faculdade,
na profissão de viola.

EF
Foi na nossa fazendola,
aonde eu aprendi ler,
tinha quadros pra pintar,
palavra para escrever,
vendo livros no estande,
o sonho de ficar grande
e a vontade de aprender.

AL
A escola deu pra ter
toda a vida que eu vivi,
a cartilha aonde eu lia,
cada lição que aprendi,
tudo que via anotava,
e cada cartilha eu sonhava,
que o futuro estava ali.

EF
Na escola que eu aprendi,
eram bonitos seus tetos,
ansiava como todos
um dos maiores projetos
me tornar algum bolsista
e tirar meu nome da lista
de milhões de analfabetos.

AL
Escola foi dos projetos
que eu sempre tentei zelar,
respeitava o professor,
a outros questionar,
e antes de usar viola
às carteiras da escola,
eu nunca deixei quebrar.

EF
Eu ia para estudar
não pra crescer minha renda,
nossa família era pobre,
mas vivia na fazenda,
mas outros sem privilégio
iam às vezes pra o colégio,
pelo fato da merenda.

AL
A escola foi a tenda
melhor do interior,
eu cheguei a me inspirar
na vida do professor,
que pra ensinar vive louco,
como o salário era pouco,
eu me tornei CANTADOR.

EF
Eu era bom ouvidor,
sem atitude mesquinha,
hoje em dia eu agradeço,
mas devo a cultura minha,
a Maria Concebida,
aos pais que me deram a vida
e à professora que eu tinha.

AL
Eu também entrei na linha
do repente educativo,
minha escola do passado
inda está no meu arquivo,
e com essa esculhambação,
acabaram a educação,
mas eu continuei vivo.

EF
Eu era quase um cativo
e a volta por cima dei,
comecei no ABC,
e à faculdade cheguei,
pra meus pais não foi surpresa
saí de lá com certeza
mais cidadão do que entrei.

O QUE TEM NA FEIRA LIVRE
Moacir Laurentino (ML) e João Lourenço (JL)

ML
Eu sendo nordestino,
a feira livre conheço,
velha calça desbotada,
camisa pelo avesso,
sapato de várias marcas,
banana por todo preço.

JL
Eu juro como conheço,
feijão e farinha fina,
sabão de barra e de coco,
macarrão e margarina,
café, pão, bolacha, broa,
corda, trempe e lamparina,....

ML
Numa feira nordestina,
tem verdura e tem mamão,
e onde tem casa de couro,
chapéu de couro e gibão,
que das feiras do passado,
guardo a recordação.

JL
Na feira tem uma latada,
com refresco e café quente,
com sandália, fumo, prego,
cebola, carne, aguardente,
camisa, calça, sapato,
brinco, marrafa e corrente.

ML
Batata, milho, semente,
arroz, jerimum, feijão,
gergelim e rapadura,
bota, correia, cilhão,
arame, chibanca, enxada,
foice, machado e facão.

JL
Camisa, mandapulão,
cabresto, canga, cangalha,
pote, cambito, peixeira,
balde, pilão e navalha,
urupemba e alguidar,
cachimbo e chapéu de palha.

QUER SABER SE EU SOU SABIDO, TESTE MEU CONHECIMENTO

ML
Sertão e topografia,
se quiser me perguntar,
a cultura popular,
nisso eu tenho garantia,
conheço geografia,
novo e velho testamento,
eu conversando sou lento,
mas na viola, atrevido.
Quer saber se eu sou sabido,
teste meu conhecimento.

ML
Tenho na minha cantiga
os costumes da Suécia,
e alguns sábios da Grécia,
templo, monumento e biga,
as coisas de Roma antiga,
guardei no meu pensamento,
relembro a todo momento,
pra cantar desenvolvido.
Quer saber se eu sou sabido,
teste meu conhecimento.

JL
Posso dar explicação,
que OSAMA praticou,
quando a torre derrubou,
sem nenhuma precisão,
foi fazendo um avião,
se acabar igual o vento,
deu uma de violento
e vai se acabar escondido.
Quer saber se eu sou sabido,
teste meu conhecimento.

JL
Quer ter uma explicação,
dos improvisos que faço,
sobre a vida do cangaço,
do ilustre Lampião,
que matou pelo sertão
de Pombal até São Bento,
chamam o de homem bento,
isso eu chamo é de bandido.
Quer saber se eu sou sabido,
teste meu conhecimento.

ML
Quer saber o meu valor,
pergunte sobre os troianos,
e ainda com quantos anos,
morreu nosso Salvador,
de um grande cantador,
de Francisco Nascimento,
se está no esquecimento,
eu cochicho em seu ouvido.
Quer saber se eu sou sabido,
teste meu conhecimento.

JL
Digo daqui pra amanhã,
na seqüência do trabalho,
que a mulher de Barbalho,
de roça nunca foi fã,
começou criando rã,
enricou cada momento,
acho que naquele evento,
quem ganhou foi seu marido.
Quer saber se eu sou sabido,
teste meu conhecimento.

A MULHER HEROÍNA DO SERTÃO FAZ AS LUTAS DA CASA E DO ROÇADO

ML
A mulher heroína se agasalha
numa casa de palha tão pequena,
para a luta ela é muito serena,
que não teme ao sujeito que é canalha,
e todo dia se esforça e trabalha,
tira leite de vaca e tange gado,
corta lenha de angico de machado
põe tempero no arroz, ferve o feijão.
A mulher heroína do sertão
faz as lutas da casa e do roçado.

JL
A mulher heroína destemida,
sertaneja que luta de enxada,
é aquela que acorda a madrugada,
preparando o café e a comida,
eu me lembro da minha mãe querida,
pela luta que eu vi ter enfrentado,
cortar lenha de foice e de machado,
e botar água de pote e de galão.
A mulher heroína do sertão
faz as lutas da casa e do roçado.

ML
A heroína ela tem todo aparato,
faz a luta de casa e não se atrasa,
e além do trabalho em sua casa
ela enfrenta o trabalho lá do mato,
tira água da fonte de regato,
sai tangendo um jumento carregado
inda pega algum burro encangalhado,
conduzindo a mais pura condução.
A mulher heroína do sertão
faz as lutas da casa e do roçado.

JL
A mulher sertaneja que é valente,
faz o leite pra o filho que pariu,
até hoje pra luta não fugiu,
que nasceu para ser inteligente,
o marido trabalha no sol quente,
muitas vezes ele vem muito cansado,
mas se ele disser quero um agrado,
eu duvido a mulher dizer que não.
A mulher heroína do sertão
faz as lutas da casa e do roçado.

JL
Busca água no rio ou no riacho,
faz plantio de milho e de feijão,
dá de conta da casa e do fogão,
no engenho, faz mel, tira do tacho,
é disposta sem estar sujeita a macho,
reza, dança forró, xote e xaxado,
sempre digo, meu DEUS muito obrigado,
umas dessas que deu a luz a João.
A mulher heroína do sertão
faz as lutas da casa e do roçado.

ML
A melhor heroína, diligente,
todo dia ela acorda á madrugada,
vai pra roça com toda a filharada,
uns partindo atrás, outros na frente,
ela leva a cumbuca de semente,
o marido atrás, leva o machado,
lá no campo se tem cabra safado,
ela dá uma lição ao machão.
A mulher heroína do sertão
faz as lutas da casa e do roçado.

OBJETOS ANTIGOS

ML
Para a costura,
e a renda feita a mão,
a esteira e o pilão,
com toda desenvoltura,
foi a cultura
do tempo de antigamente,
hoje tudo é diferente
e o que é bom ficou pra trás,
No tempo de Pai Tomás,
Preto Velho e Pai Vicente.

JL
A lamparina,
que fez uma caridade,
que sem oportunidade
com a luz Paulo Afonsina,
a sua sina
foi se acabar de repente,
essa luz que choca a gente,
não é como a luz de gás.
No tempo de Pai Tomás,
Preto Velho e Pai Vicente.

ML
Trabalhador,
que vivia na canseira,
com sua capinadeira,
hoje em dia é o trator
no interior,
cortando a roça da gente,
até pra plantar semente,
o trator é mais capaz.
No tempo de Pai Tomás,
Preto Velho e Pai Vicente.

A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Zé Cardoso (ZC) e João Paraibano (JP)

ZC
Na má distribuição,
tem gente que já nem come,
é muito nome de sobra,
é pouco faltando nome,
uns vão jogando no mato,
outros morrendo de fome.

JP
Entre a fartura e a fome,
é muita gente sem ter,
um vive, outro vegeta,
sem condições de viver,
com o pão mal dividido,
fica parte sem comer.

ZC
É ruim da gente entender,
um país sacrificado,
se tudo foi dividido,
como DEUS tinha mandado,
não tinha pai de família
chorando desempregado.

JP
30 mil pra deputado,
dá pra fazer mordomia,
é diferente da vida
do pobre do bóia-fria,
que além da comida fraca,
só come uma vez por dia.

ZC
Se a mulher rica cria
a criança que ela zela,
tem uma mãe já faminta,
num barraco de favela,
o filho morto de fome
e a fome matando ela.

JP
Se o rico tem mansão bela,
rodeada de piscina,
o pobre tem um barraco,
que é fedendo a urina,
mudando a cor do telhado
da tisna da lamparina.

ZC
Se a campanha na surdina,
tem voto para o barão,
pobre não tem mais visita,
quando passa a eleição,
só aparece polícia
se for pra ir pra prisão.

JP
O pobre de pés no chão
e o rico andando de leito,
um ganha muito, outro pouco,
isso é falta de respeito,
como diabo é que o BRASIL
vai pra frente desse jeito.

ZC
Se o caminho está estreito,
pra o pobre do bóia fria,
quando uma mulher escapa,
se uma criança se cria,
sem ter cama pra deitar,
vendo a panela vazia.

JP
Eu disse que o bóia fria
come feijão escoteiro,
já o rico de avião
passeia pra o estrangeiro,
pra cocaína e pro jogo,
duvido faltar dinheiro.

JP
O rico do restaurante
toma wisky na frente
pobre de mão estirada,
fica com o pé no batente,
mas no mês da eleição,
todo miserável é gente.

ZC
Filho de rico é decente,
tem roupa boa e sapato,
só compra arroz se do bom,
filé do bom no seu prato,
e o pobre só come tripa,
se o rico jogar no mato.

JP
Na vida infeliz do mato,
como é triste o camponês,
comendo fava com nata,
ovo quente de indez,
e um deputado ganhando
30 mil reais por mês.

A CANTORIA DA FEIRA TAMBÉM DIVULGOU A GENTE

JP
A gente na emissora,
naquele tempo passado,
meu aviso era rodado
na boca da difusora,
a comissão julgadora,
não tinha na nossa frente,
era elogio somente,
na bandeja ou na peneira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

ZC
Sem rádio e televisão,
poeta pisa na lama,
sem ter direito a programa,
para ingressar no sertão,
a nossa divulgação,
começou antigamente
com Manuel Pedro Clemente,
Serrador e ZÉ LIMEIRA.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

JP
Entre o calor e o frio,
e a luz do candeeiro,
o cantador violeiro
não tinha salão vazio,
só cantava desafio,
pra testar o mais valente,
o Brasil de Pai Vicente,
Pai Tomaz ou Gemedeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

ZC
Onde existia um baileco,
cantiga toda semana,
um sujeito bom de cana,
bebendo em copo ou caneco
era afoito no boteco,
com um terço ou arma quente,
vendo um sujeito valente,
atrás de puxar peixeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

JP
Quando a nossa profissão,
pra nada encontrava chance,
só se cantava romance,
ao invés de uma canção,
do botequim pra o salão,
se divulgava o repente,
cada dose de aguardente
e a toada gemedeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

ZC
O cantador violeiro,
um com outro se duplava,
quando a cantiga parava,
dividia com o parceiro,
botava a mão no dinheiro,
engolia um aguardente,
comia no ambiente
carne assada e macaxeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

JP
Eu sinto recordação
dos nomes que eu considero,
do grande João Severo,
que está debaixo do chão
de Miguel da Solidão,
um cantador excelente,
Manuel Pedro Clemente,
na sua ilusão primeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

ZC
Sinto a falta da peleja,
na rua, no lar, na praça,
a bebida era cachaça,
ninguém bebia cerveja,
pagamento na bandeja,
de amigo e de parente,
viola presa na frente,
e o palanque na cadeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

JP
Aquele tempo que eu falo,
eu recordo e tu recordas
viola de 12 cordas,
em cada dedo era um calo,
se viajava a cavalo
ou com o pé na terra quente,
um atrás, outro na frente,
e a mala era de madeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

ZC
Todo repentista até
botava a mala na mão,
viajava no sertão,
bebendo cana e café,
muitas vezes andava a pé,
pisando na terra quente,
hoje em dia é diferente,
se vive doutra maneira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

JP
Na passada pela esfera,
que a lembrança se respeita,
que a cantoria era feita,
no oitão de uma tapera,
que o nosso transporte era
as nossas penas somente,
ou num jumento demente,
ou numa burra baixeira.
A cantoria da feira
também divulgou a gente.

QUANDO O SOL DESPONTOU POR TRÁS DO MONTE, EU JÁ VINHA VOLTANDO DO CURRAL

ZC
A história que ainda eu decoro,
recordando o lugar onde eu vivia,
bem cedinho tangendo a vacaria,
o bezerro, a novilha, a vaca, o touro,
quando o sol despontou da cor de ouro,
cintilando o espaço, o vegetal,
eu já tinha soltado o animal,
e passarinho bebia em minha fonte.
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

JP
Quando o sol aquecia em lista opaca,
eu ouvia o tetéu quando cantava,
retirei uma arreata que estava
enganchada na ponta da estaca,
tirei leite da derradeira vaca,
cortei palma no cocho e botei sal,
trouxe o leite vestido de avental
e o suor escorrendo em minha fronte.
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

ZC
Quando o sol despontou lá na fazenda,
e a vaca balança seu chocalho,
eu já tinha era feito o meu trabalho
como homem que cuida bem da tenda,
tendo leite tirado pra merenda,
bem alvinho, gostoso, natural,
a mulher deu um grito no quintal,
onde está a panela, me aponte !
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

JP
Eu deixei minha cama toda em couro,
fui vestindo o gibão e a perneira,
fui tirando a tramela da porteira
e de uma vaca eu separei o touro,
fui olhando pra o sol da cor de ouro,
quando vinha aquecendo o vegetal,
parecendo uma lua de cristal
se espalhando, no céu, no horizonte.
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

ZC
Quando o sol aparece num clarão,
fulgurando a janela do nascente,
eu já estava pegado no batente,
e a panela eu levava em minha mão,
para o leite da nossa refeição,
a comida na hora matinal,
e vendo o sol no espaço sideral,
pela fé em meu DEUS, passei a ponte.
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

JP
Eu olhei para o sol no infinito,
vi a ave cantando pela rama,
saí logo pisando pela lama,
escutando o gemido do cabrito,
do lambu escutei algum apito,
que cantava no “mei” dum cipoal,
vendo pássaro voando de casal
logo cedo pra ir beber na fonte.
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

ZC
Vendo o sol num calor que se acendeu,
eu já tinha tangido a vacaria,
já voltava pra minha moradia,
pra abraçar a mulher no apogeu,
e nesta hora o patrão apareceu,
escorado na cerca do quintal,
como é que está cada animal ?
se souber, na verdade, você conte.
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

JP
Quando o sol despontou no nevoeiro,
mãe fazia o café e eu bebia,
era a hora que o galo já descia
das forquilhas fibrosas do poleiro,
a galinha ciscava no terreiro,
um peru já cantava no quintal,
foi aí que eu selei um animal
e olhei pra o vaqueiro e disse; monte!
Quando o sol despontou, por trás do monte,
eu já vinha voltando do curral.

O PESCADOR: Em quadrão à beira mar

JP
Na hora do sol se pôr,
como é triste o pescador,
só tem como ajudador,
um mar para navegar,
ele da sorte depende,
na hora que o sol se pende,
ele pega o peixe e vende.
No quadrão da beira mar.

ZC
Pegando a rede, ele estende,
se o peixe cair se prende,
se for demais, ele vende,
que é pra vida melhorar,
que ele precisa comprar,
pra casa toda mobília,
e o sustento da família.
No quadrão da beira mar.

JP
Deixa a casa com mobília,
só por conta da família,
sempre tem nela vigília,
passa para lhe ajudar;
não tem pena do almoço,
peixe salgado e insosso,
e não falta grana no bolso.
No quadrão da beira mar.

ZC
No barco leva sal grosso,
uma bússola no pescoço,
olha aonde tem um poço,
prende o barco pra pescar,
mas precisa se cuidar,
se do barco cair fora.
vem o tubarão, devora.
No quadrão da beira mar

JP
Deixa a casa aonde mora,
seus filhos, sua senhora,
a cama onde se escora,
porque vive a navegar,
tem noite de lua cheia,
entra a onda e a areia,
ouvindo a voz da sereia.
No quadrão da beira mar.

ZC
Com os pés cheios de areia,
dentro da água passeia,
de peixe, a barriga cheia,
para poder se deitar,
se a mulher for descansar,
na hora que o filho vem,
já pega peixe também.
No quadrão da beira mar.

JP
Tem peixe que pesa cem,
outros que valem um vintém,
dia que tem e não tem,
dia de sorte ou azar,
na água não poluída,
faz a viagem comprida,
tira a vida e salva vida.
No quadrão da beira mar.

JOÃO PAULO II VEM MOSTRANDO O EXEMPLO DE AMOR À HUMANIDADE
Ivanildo Vila Nova (IV) e Valdir Teles (VT)

IV
Enfrentou todo comunismo rude,
fez viagem por via aérea e porto,
sempre fez pregação contra o aborto,
deu conselho pra nossa juventude,
todo mundo só pensa na saúde,
tão precária de Sua Santidade,
uma hora ele sofre enfermidade,
dez minutos depois, está rezando.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

VT
Na Basílica, ele reza todo dia
uma missa pra o mundo lhe assistir,
vai à praça e o povo vai lhe ouvir,
sua voz para nós é garantia,
ele pede a Jesus e a Maria,
pois o Papa é a nossa santidade,
pode o povo fazer perversidade,
mas lições de amor, ele está dando.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

IV
João Paulo II não é chique,
porém prega através da homilia,
não pretende que a pedofilia
bote a igreja sagrada sempre a pique.
Outra vez recebeu Fernando Henrique,
que na época era a nossa autoridade,
falta agora ter oportunidade
pra ver Lula na vaga de FERNANDO.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

VT
Nosso Papa é quem reza para gente,
é o santo que temos pra rezar,
nós devemos também considerar,
vendo o nome do Papa em nossa frente,
nos sabemos que ele está doente,
DEUS devia dobrar a sua idade,
para ele rezar com humildade
para o povo que está tanto pecando.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

VT
Todo dia ele tem o nosso aprovo,
é rezando pra todo o mundo inteiro,
que o Papa é o nosso conselheiro,
e é por isso que vai rezar de novo,
todo dia ele pede para o povo,
não matar, não fazer perversidade,
não é Cristo, mas tem a qualidade,
não é dono do amor, mas está doando.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

IV
João Paulo II lá em Roma,
defendendo os princípios da faceta,
não deseja que o povo do planeta
se transforme em Gomorra ou em Sodoma,
todo tempo aprimora um idioma,
pra falar com maior facilidade,
no Brasil não achou dificuldade,
que até português, está falando.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

VT
É o Papa que tem supremacia,
pra rezar para o povo mundial,
um exemplo de amor fundamental,
e continua rezando todo dia,
até mesmo um sujeito da Turquia,
lhe feriu sem haver necessidade,
e ao invés de mostrar rivalidade,
foi na frente rezar, lhe perdoando.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

VT
João Paulo II se confia,
no trabalho evangélico e humanista,
perdoou um fanático terrorista,
que foi vítima nas terras da Turquia,
absolve qualquer selvageria,
que só prega o amor e liberdade,
diz um dia eu irei à eternidade,
porém DEUS é quem vem me dizer quando.
João Paulo II vem mostrando
o exemplo de amor à humanidade.

DE MADRUGADA NA ROÇA

VT
O roceiro daqui é desse jeito,
vai dormir satisfeito em sua cama,
fica ao lado da esposa, sua dama,
já cansado do trabalho do eito,
a mulher com o filho no seu peito,
pede a DEUS, que é o nosso soberano,
pra criar o seu filho e o seu mano,
escutando o trovão no seu telhado,
vão dormindo sonhando com o roçado.
Nos dez pés de martelo alagoano.

IV
Madrugada levanta e tange o gado,
muitas vezes se veste maltrapilho,
sertanejo acorda e leva o filho,
para a triste pesada do roçado,
a raposa prepara um atentado,
no poleiro do interiorano,
e a galinha sabendo desse plano,
cada pinto nas asas se escorrega,
e a raposa faz cisma, mas não pega.
Nos dez pés de martelo alagoano.

VT
Nem a força da seca ele se entrega,
porque é um devoto de Jesus,
a enxada pra ele é uma cruz,
e no caminho da roça ele navega,
quando chega o inverno ele sossega,
porque ganha o seu pão cotidiano,
compra roupa somente fim de ano,
seu relógio é o galo no poleiro,
e o perfume é a flor de marmeleiro.
Nos dez pés de martelo alagoano.

IV
Madrugada é o galo costumeiro
que já tem o relógio na garganta,
bate as asas sabendo as horas, canta,
sem temer a passada do ponteiro,
a campônia levanta bem ligeiro,
vai chamando o marido veterano,
e prepara um cafezinho serrano,
muito quente com pão mofado e mole,
ele queima os dois lábios, mas engole.
Nos dez pés de martelo alagoano.

VT
Noutra roça de fora ele não bole,
porque tem o roçado todo seu,
e o filho que DEUS lhe concedeu,
de preguiça, às vezes fica mole,
ele pede que o filho se controle,
pra seguir seu trabalho todo ano,
diz a dama, ao irmão e outro mano
vamos juntos viver da nossa roça,
nossa empresa é a sombra da palhoça.
Nos dez pés de martelo alagoano.

IV
Madrugada tem gado que se coça,
esperando o sol no firmamento,
já se ouve a pisada do jumento,
juntamente com outro na carroça,
um cachorro na hora se alvoroça,
corre e dá um latido leviano,
pensa que é um peba no seu plano,
porém é a ticaca que se escora,
ele leva a mijada e vai-se embora.
Nos dez pés de martelo alagoano.

VT
Numa casa de taipa sempre mora,
que não tem uma casa de tijolo
muita gente lhe chama mole e tolo,
mas o pobre ali não ignora,
vive o filho com ele e a senhora,
padecendo do jeito de um cigano,
confiante em Jesus, ele tem plano,
e quando a barra do dia desencanta,
reza um terço pra DEUS e se levanta.
Nos dez pés de martelo alagoano.

AS CRIANÇAS DA FEBEM
Raimundo Caetano (RC) e Sebastião da Silva (SS)

SS
As crianças da FEBEM
não gozam felicidade,
têm que ir pra aquela casa,
de tortura e de maldade,
porque também é a vítima
da cruel sociedade.

RC
Vítima da sociedade
e carentes de cultura,
vai terminar na FEBEM
aonde a parada é dura,
ao invés de disciplina,
tão aplicando tortura.

SS
Se faz uma ação impura,
às vezes se torna fera,
aí vai para FEBEM,
onde o mal lhe dilacera,
aí volta da FEBEM
mais bandido do que era.

RC
As crianças da FEBEM
só são carentes de pais,
de emprego, de respeito,
de assistências sociais
cortem o mal pela raiz,
que não acontece mais.

SS
Nós precisamos de paz
e de um ensino seguro,
assistência social,
de um trabalho rico e puro,
para guiar a criança
pra o caminho do futuro.

SS
Trate ela com amor,
dê-lhe a casa, aperte a mão,
eduque bem direitinho
sem faltar água nem pão,
ensine a ela ser gente,
que ela vira cidadão.

SS
Às vezes se desmantela,
numa fração de segundo,
é filho de uma mãe errada
ou de um pai vagabundo,
sabe-se que não teve culpa
de também ter vindo ao mundo.


POR FAVOR NÃO FAÇA MAIS TELEFONEMA PRA MIM

SS
Se você me abandonou
por certo é que não me quer,
eu não adulo mulher,
você nunca me adotou,
já que sem você estou,
eu meto a cara no gim,
vou dormir no camarim,
sem seus beijos sensuais.
Por favor não faça mais
telefonema pra mim.

RC
Quando toca, eu estremeço,
e até fico revoltado,
eu não estou preparado,
para mudar de endereço,
se isso teve um começo,
mas precisava ter fim,
e a meu ver não é assim,
que uma amizade se faz.
Por favor não faça
mais telefonema pra mim.

SS
Já que você não me quis
já que foi tão traidora,
uma mão ajudadora
não passou nos meus perfis,
não vou viver infeliz,
vou fugir para um jardim,
vou viver no camarim,
com meus irmãos e meus pais.
Por favor não faça mais
telefonema pra mim.

RC
Gostosinha como queijo,
astuta como raposa,
mas para ser minha esposa,
seu amor eu não desejo,
você pensa que seu beijo
tem o gosto de pudim,
tem o cheiro de alecrim,
mas vá dar pra o satanás.
Por favor não faça mais
telefonema pra mim.

SS
Já tivemos amor pleno,
mas por sua ingratidão,
agora, meu coração,
nem lhe quer, nem faz aceno,
o seu olhar tem veneno
que é coisa muito ruim
o beijo tem “nitrosim”.
e a saliva fede a gás.
Por favor não faça mais
telefonema pra mim.

SS
Você me diz que me ama,
mas sei que é mulher ingrata,
seu telefone maltrata,
me castiga e me embalsama,
não deite na minha cama,
que tem colchão de capim,
não entre no meu jardim,
nem cante nos meus quintais.
Por favor não faça mais
telefonema pra mim.

A GANÂNCIA DE JUDAS POR DINHEIRO, FEZ VENDER O DIVINO SALVADOR

SS
Jesus Cristo na sua intuição,
já previa de Judas ação feia,
no momento real da santa ceia,
que ele pôs santo pão em sua mão,
disse, aquele a quem eu dei o pão,
esse aí realmente é traidor,
e aconteceu esse fato com o Senhor,
avisando ao divino e ao cordeiro.
A ganância de Judas por dinheiro,
fez vender o divino Salvador.

SS
Jesus Cristo apesar de humilhado,
de ferido, amarrado e de traído,
ele nunca fez gesto de bandido,
ficou calmo, decente e controlado,
via Judas seguindo do seu lado,
provocando com gestos de terror
Jesus Cristo provou que tem valor,
perdoando ao Judas traiçoeiro.
A ganância de Judas por dinheiro,
fez vender o divino Salvador.

DEPOIS QUE A FESTA ACABOU

RC
Com a minha namorada
pras bandas de Caicó,
eu fui dançar um forró,
debaixo duma latada,
quando foi de madrugada,
que acabou-se a folia
na calçada não lhe via,
no terreiro ela não tava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

SS
Quando a festa acabou,
passada de uma hora,
todo mundo foi embora,
só uma mulher ficou,
partiu e me agarrou,
foi a maior agonia,
enquanto mais eu bebia
mais ela se embebedava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

RC
Sem mais comer na panela,
depois da festa acabada,
uma cadeira virada,
para o lado da cancela,
já não tinha mais donzela,
só restava minha tia,
ela disse que queria,
mas eu disse que não dava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

SS
No final da diversão,
aparece um engraçado,
um sujeito embriagado,
lá no meio do salão,
encostado no balcão,
muita cachaça bebia,
bebia muito, engolia,
mas a cana não pagava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

RC
Era de madrugadinha,
a festa tinha acabado,
só tinha um cabra deitado,
no aceiro da cozinha,
no salão uma velhinha,
já quase dando agonia,
com a carteira vazia,
fedendo a caldo de fava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

SS
Já era de madrugada,
o forró tinha acabado,
com bêbado pra todo lado,
e mulher embriagada,
muita cadeira quebrada,
muita garrafa vazia,
só a poeira subia
e o lampião se apagava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

RC
Mamãe foi me procurar
no nosso divertimento,
na festa do casamento,
depois da festa acabar,
mas não pôde me encontrar,
nem de noite e nem de dia,
que eu entrava, ela saía,
quando eu saía, ela entrava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

SS
Um negócio muito chato,
avistei perto de mim,
que ficou no botequim
bacia de lavar prato,
mais um bêbo pé de pato,
nessa hora aparecia,
lambia muito e cuspia
e na bacia vomitava.
Quando eu ia, ela voltava,
quando eu voltava, ela ia.

O PREGUIÇOSO
Raimundo Nonato (RN) e Nonato Costa (NC): OS NONATOS

NC
O preguiçoso rejeita
um emprego de um milhão,
de noite não sai da cama,
de dia não sai do chão,
e não se atreve a dar um prego
numa barra de sabão.

RN
Sei que os preguiçosos são
indignos de garantia,
querem comida na boca
e é se não tiver fria,
vão se deitar nove horas,
pra se acordar meio dia.

NC
Jamais retira o colchão,
jamais troca o travesseiro,
demora pra tomar banho,
e de imundice o banheiro,
tem pessoa que pergunta,
isso é quarto ou um chiqueiro.

RN
Mais devagar que ligeiro,
não é bom, mas é ruim,
FH tinha preguiça
do Brasil ficar afim,
eu espero que LUIZ
INÁCIO não seja assim.

NC
Todo preguiçoso, enfim,
vive de cabeça tonta,
um automóvel não guia,
num cavalo ele não monta,
a mulher pagando o pato
e os filhos pagando a conta.

RN
Na sociedade apronta,
quer fazer parte na nata;
só quer trancelim de ouro,
pulseira se for de prata,
meu colega é desse jeito,
só quer viver da mamata.

NC
Não vai arrancar batata
e a cerca de pau a pique,
não se atreve a construir,
porque só quer cargo chique,
e só põe dinheiro no bolso,
quando ele faz um trambique.

RN
É mais brega do que chique,
na vida só possui falha,
no emprego não produz,
que a PREGUIÇA lhe atrapalha,
mas quer receber dinheiro
do tanto de quem trabalha.

NC
Se comporta igual canalha,
sem coragem na canela,
passa o dia na calçada,
escorado na janela,
deixa a comida queimar
e não vai mexer na panela.

RN
Sua vida não é bela,
porque não se sente escravo,
não possui calo na mão,
porque na roça não é bravo,
mas também na sua conta,
não possui nenhum centavo.

NC
Não tem coragem de bravo,
é pessoa submissa,
na semana, não trabalha,
domingo, não vai a missa,
e até pra abrir a boca,
o infeliz tem PREGUIÇA.

RN
Eu acho que a PREGUIÇA
não merece ter valor,
ROMÁRIO é um preguiçoso,
no papel de jogador,
não teve de dar na cara
dum pobre dum torcedor.

NUNCA DEIXOU DE EXISTIR PRECONCEITO RACIAL

RN
Parece ser bronzeado,
a pele causando espantos,
porque em todos os cantos,
o negro é discriminado,
sempre teve no passado,
quem tratasse o negro mal,
no presente tá igual,
também vai ser no porvir.
Nunca deixou de existir
preconceito racial.

NC
Vítima de humilhação,
o negro padece a pragas,
20% das vagas,
pra os pretos na educação,
é mais uma aberração
do governo federal,
direito é pra ser igual,
não é pra se dividir.
Nunca deixou de existir
preconceito racial.

RN
Não falta quem lhe intime,
chamando de vagabundo,
que eles esperam que o mundo,
transforme logo o regime,
consta da ata do crime,
do livro processual,
mas na página do jornal,
duvido um deles sair.
Nunca deixou de existir
preconceito racial.

NC
Eu tenho dito também
a gari ou a prefeito,
fidalgo possui direito,
ma o negro nunca tem,
porque que um branco é alguém,
porque que um preto é um tal,
pra DEUS nem pedra de sal
não é pra se distinguir.
Nunca deixou de existir
preconceito racial.

RN
O branco diz que ele estraga,
e não merece seus centavos,
nossa dívida com os escravos,
acho que não vai ser paga,
na faculdade tem vaga,
se o governo der aval,
e uma lição de moral
tá bom do planeta ouvir.
Nunca deixou de existir
preconceito racial.

RN
Eu acho negro perfeito,
pela boca, pela mão,
um direito não lhe dão,
mas ele tem seu direito,
é vítima de preconceito,
no clube, na catedral,
mas ele é ser natural,
tem direito de ir e vir.
Nunca deixou de existir
preconceito racial.

SEVERINO FERREIRA HOJE É SAUDADE NO CENÁRIO DA NOSSA CANTORIA

NC
Papa taça de todo festival,
quinze anos morou ali em Patos,
entregou o programa pra os NONATOS,
quando estava mudando pra Natal,
quase morto seguiu para o hospital
mas não deu nada certo a cirurgia,
deixou LÚCIA da sua companhia
e os três filhos chorando a orfandade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

RN
Seu caminho outra draga não escava,
Severino era um negro muito fino,
e a história do vate Severino,
num estúdio no céu hoje DEUS grava,
a viola não toca o que tocava,
sua boca não diz o que dizia,
e seu repente virou mercadoria,
no mercado da santa eternidade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

NC
Estava havendo Congresso em Campina,
quando um carro se acidentou na pista,
no local morreu logo o motorista,
DEUS pôs ponto final na sua sina,
foi perdido apelar à medicina,
o poeta morreu no mesmo dia,
a viola ficou só a fatia
e sua roupa com sangue em quantidade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

RN
Severino não tinha nem noção,
que iria avistar a luz da morte,
iam 7 colegas no transporte,
pra mais um festival da profissão,
porém houve um problema na tração,
quando o carro virou na rodovia,
DEUS ganhou um presente de POESIA,
embrulhado no terço da amizade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

NC
Desprovido de ódio e prepotência,
corajoso, colega, humilde e franco,
era um preto que tinha alma de branco,
como branco foi sua consciência,
pra o seu trono precisa de suplência,
mas DEUS não encontrou segunda via,
e se eu pudesse ganhar, eu gostaria
de ganhar pelo menos a humildade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

RN
Severino Ferreira teve o trono,
mas depois que perdeu a luz da vida,
sua chácara de touros foi vendida,
por cinqüenta por cento do abono,
sua casa em Natal ficou sem dono,
dona LÚCIA sem sua companhia,
a viola perdeu a parceria,
e sua cama faltando uma metade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

NC
Meu amigo, ele foi antigamente,
mas depois por três anos se sumiu,
quando a arte em dois grupos se partiu,
e ele foi para um grupo contra a gente,
mas jamais eu neguei o seu repente,
seu valor e a sua simpatia,
e se Ferreira voltasse eu lhe diria,
por você ainda morro de amizade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

RN
O seu nome outro vate não desbanca,
porque sua cantiga era tão boa,
foi um rei sem direito a ter coroa,
mas no cofre do verso tinha a tranca,
tinha a pele morena, a alma branca,
na visão, um problema de miopia,
e se no céu tiver reino, DEUS confia
o direito de ser autoridade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

NC
Rio grande do Norte, o seu Estado,
o poeta cantou igual a mim,
os troféus, a ferrugem já deu fim,
o seu livro lançado no mercado,
seus trabalhos, por muitos decorado,
os seus discos, o povo inda copia,
cantador como ele, DEUS não cria,
se criar, DEUS limita a quantidade.
Severino Ferreira hoje é saudade
no cenário da nossa cantoria.

AONDE TEM UNIÃO: Lei da vaquejada

RN
Aonde existe igualdade,
a união não invalida,
tem momentos bons na vida,
pra fazer festividade,
tem tijolo da amizade,
DEUS começa a construção,
e nossa rosa da emoção
exala o mais forte cheiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

NC
Onde a união tem brilho,
a paz descansa num pódio,
não há necessário o ódio,
nem pai perseguindo o filho,
arma apertando gatilho,
irmão matando o irmão,
e nem dentro da profissão
parceiro contra parceiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

RN
Onde a união se faz,
tem poder do soberano,
tem irmão perto de mano,
tem filho perto dos pais,
tem a bandeira da paz,
tremulando em cada mão,
sem desaforo e questão
de briga de violeiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

NC
Com união, eu duvido
que a paz não tenha benesse,
na hora que um adoece,
outro leva um comprimido,
copo d’água é dividido,
do mesmo jeito dum pão,
ninguém encontra um ladrão,
nem dando muito dinheiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

RN
Aonde a união mina,
o poeta se dá bem,
pois a paz é nota cem,
começa, mas não termina,
tem um Congresso em Campina,
nossa participação,
sem intriga, sem carão
e sem encrenca por dinheiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

NC
Onde a união se instala
o próximo não se espezinha,
tem almoço na cozinha,
tem cafezinho na sala,
um revólver não tem bala,
um terço não sai da mão,
que unidos todos estão,
buscando o mesmo roteiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

RN
DEUS dá o maior presente,
quando a união nos doa,
pra o bem de cada pessoa,
que está atrás ou a frente,
aluno abraça docente,
beija na face e na mão,
vaqueiro é bom pra patrão,
e patrão é bom pra vaqueiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

NC
A união pra quem quer,
todos têm um só contrato,
não falta um pão no prato,
nem comida na colher,
o homem beija a mulher,
na cabeça ou no colchão
nem ela faz traição,
nem ele é seu traiçoeiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.

RN
Onde a união detona
explode um canhão de flores,
tem beijos e têm amores,
e a paz se sente uma dona,
pistola não funciona,
coveiro não cava o chão,
DEUS oferece uma mão
para o bem do mundo inteiro.
Onde tem gado e vaqueiro
e corrida de mourão,
tem a Lei da Vaquejada,
o que vale é boi no chão.



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