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Ensaios-->O OITAVO DIA DA CRIAÇÃO - UM ROMANCE BRASILIENSE -- 18/05/2007 - 16:51 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O OITAVO DIA DA CRIAÇÃO – UM ROMANCE BRASILIENSE DA AUTORIA DE LUÍS GUERREIRO

João Ferreira
18 de maio de 2007

“O oitavo dia da criação” é um romance que já foi lançado em Portugal e em várias cidades do Brasil. Hoje é lançado no Goethe-Zentrum, em Brasília. Luís Guerreiro Cacais, seu autor, é um emigrante/imigrante.

O autor

Originário do Minho, mas já brasiliense, é muito conhecido no meio culto da capital brasileira. Nasceu em Gondarém, concelho de Vila Nova de Cerveira, norte de Portugal perto da raia com a Espanha. Um imigrante que veio trazer qualidade à vida social e cultural do Brasil, após ter trabalhado em Angola. Luís é um intelectual culto, um humanista fino, um tradutor esmerado com longa lista de traduções do italiano, do espanhol, do francês e do alemão. Mas também é um romancista. Publicou quatro romances, ao todo.

O romance

Ao colocar um título chamativo como este, “O oitavo dia da criação”, o autor quer dizer-nos que “o oitavo dia da criação” é o dia do homem. Pela Bíblia, o Criador realizou a criação em sete dias. A querer imitar Deus pela clonagem, o “oitavo dia” representa no calendário humano “o dia em que o homem, querendo igualar-se a deus, macaqueou a sua obra, criando o homem à medida e semelhança do homem”. O livro de Luís Guerreiro narra por isso uma história especial. A história de uma experiência de clonagem humana. Como produto da clonagem nasce um menino que terá uma trajetória especial parecida com a trajetória breve de todos os clones biológicos obtidos até hoje. Uma existência curta também. O narrador dá-nos toda a trajetória do protagonista. Este, de nome Deodato ou Deo, quererá antes de tudo descobrir seu destino. Quererá descobri-lo por si próprio.

Deo - O protagonista

Interessante é o caminho escolhido pelo autor para caracterizar seu personagem principal. Luís Guerreiro buscou toda a base de seus princípios humanistas, sociais, religiosos e morais para retratar uma sociedade utópica e desejada. Ao mesmo tempo que discute a temeridade da clonagem humana, aproveita para desenhar para o ser humano especial, representado por Deo, uma história bonita de humanismo e de representação social basicamente idealista. No desenho de Luís Guerreiro, o homem aqui descrito é o homem humano. E por isso, não obstante a excepcionalidade original de Deo, que é um clone humano, a travessia humana do protagonista será aproveitada para representar os ideais humanos, pelo único caminho da liberdade e da dignidade. Pelo código da dignidade o protagonista será levado primeiramente a tomar consciência do destino humano e a construir depois uma sociedade feliz e solidária, a que serão associadas algumas marcas do idealismo jovem de nosso tempo. A trajetória de Deodato por isso, não deixará de ser representativa da humanidade. Ele terá um percurso especial. E esse percurso será um percurso superior, no fundo, um percurso bem característico da visão humanista da solidariedade e da inclusão social..

Narrativa e modernidade

A destacar neste livro, a busca clara de modernidade. A modernidade temática de um lado e a modernidade da consciência crítica humana e social de outro.
A modernidade temática vai para o lado do debate da clonagem humana. O centro da discussão ficará na questão primordial da diferença entre a concepção natural do ser humano através da interação sexual de homem e da mulher, de um lado, e a simples, fria e laboratorial produção e reprodução humana feita através da clonagem . Por outro lado, há uma modernidade básica centrada na crítica que o narrador estabelece na confluência dos vários tipos de humanismos e pseudo-humanismos presentes nas formas teóricas e vivenciais da vida contemporânea.

Mensagem contemporânea de busca de conhecimento e de experiência interior

A construção da personalidade de Deo é uma declaração do tipo de mensagem que o autor pretende apresentar através de seu livro. Essa mensagem é muito clara. Primordialmente apresenta a vida como uma viagem de conhecimento, de experiência interior e de visualidade.O jovem Deo irá ter todos os espaços de liberdade que escolher e a experiência dos obstáculos que a eles se opuserem. Irá contatar com um mundo real em sua nudez e confronto. Encontrará dramáticas situações de comunidades carentes onde a dominante será a miséria de homens vencidos pela pobreza e pela desgraça, por vezes inelutavelmente vergados ao peso do fatalismo. O narrador dá prioridade a que Deo conheça algumas das mais duras experiências humanas e brasileiras do agreste e do semi-árido, assim como do trabalho escravo em fazendas. Deo irá conhecer e participar dessas situações dramáticas, irá conhecer a vida entre mendigos irá sentir algumas carências básicas e a falta de dinheiro. Contatará com jovens idealistas, com movimentos de idéias que pretendem mudar o mundo.

Projetos renovadores

Quando regressar a casa, Deo terá condições de fazer seu projeto de vida e de ação fundado em experiências de vida. O narrador coloca Deo fazendo planos para o futuro. Tenta passar o mundo em revisão. Analisa o 11 de setembro de 2001. A globalização.Os avanços tecnológicos. O mito do desenvolvimento. A prevalência do mercado capitalista. A centralidade do petróleo. As armas nucleares. O megaterrorismo. A metropolização. Enfim, os grandes sinais contemporâneos do mundo econômico-financista. O narrador leva o protagonista a cursar Direito como que para tentar encontrar um fio de vida. Coloca-o assistindo a uma primeira aula de Direito na Universidade. Uma aula sobre História do direito grego, buscando sabedoria e bom senso, a essência da justiça. Tenta ir ao encontro de uma lei natural consentânea à razão. No fundo, há a busca um conceito de justiça! Na busca de caminhos, encontra-se com as fronteiras entre o legal e o justo.

Problemas sociais dramáticos

Nesta busca de justiça social, o narrador coloca Deo frente ao fenômeno da seca. Um retrato que se assemelha ao drama do Nordeste clássico brasileiro. Junto das populações famintas. Mostra a impotência dos governos em solucionar este tipo de crises. Coloca a universidade levantando os dados da situação. Deo não dispensa sua observação e seus apontamentos pessoais. Entre os vários casos há um que o sensibiliza mais.Acerca-se da realidade. E vê o caso de José, um pobre que divide o chão frio do Terminal rodoviário com mais de uma centena de miseráveis e que apesar de tudo tem a tranqüilidade de consciência de que não é o único ser da terra sofrendo: ”Quando vejo que posso enxergar e não ando em cadeira de rodas, agradeço a Deus.Aí, Digo, obrigado Senhor, por me teres dado tanta coisa na vida”.Palavras de José.

Deo - Líder comunitário tipo sul-americano

Deo é, no livro, um novo tipo de líder sul-americano. Um líder que busca uma revolução por meios pacíficos. Uma revolução baseada na força solidária. A esta revolução associa uma mulher, Susana, primitivamente uma prostituta e depois uma enfermeira ao serviço da comunidade. Um amor especial de Deo. Como aplicação de seus estudos universitários em Direito, Deo trabalha em favor da inocência de Susana contra a prepotência de um poderoso deputado.
E sua demanda de ideal, Deo teve lampejos de busca religiosa também. Entrou um dia na catedral, na hora em que se celebrava um casamento. A palavra do padre soou-lhe a palavra vazia E tornou-se na sua mente uma palavra perturbadora. Comparada aquela palavra com a palavra de Jesus, viu a palavra de Jesus aprisionada naquele padre, que representava a casta da clerezia, que vivia em belos templos e mosteiros, longe da mensagem de libertação pretendida por Jesus.

Uma ação concreta e solidária de Deo como líder em Vale dos Ossos

Deo termina por não se entusiasmar com a advocacia. Sua inclinação caminhava no sentido de uma ação social. Iria para vale dos Ossos, para junto de D. Josefina que um dia o socorreu no agreste. Levou planos. E começou toda uma ação social tentando tornar o povo mais esclarecido. Alfabetiza ao ar livre. Torna-se líder comunitário. Organiza a auto-sobrevivência no Vale. Busca soluções. A primeira delas, a água, chave do futuro do vale. O trabalho social de Deo, leva-o a criar e a aprofundar uma cultura própria e consciente no Vale. Uma cultura coletiva, organizando, criando formas de construir habitações, de abrir cisternas, de construir açudes, fossas sépticas, de incrementar a agricultura. Cria cozinhas e refeitórios comunitários. Virão os frutos. Virão as colheitas. O melão, a uva. Quando o Vale estiver mostrando prosperidade, haverá falsos grileiros tentando tomar as terras. Mas Deo e os habitantes do Vale saberão resistir com inteligência.
O narrador mostra como com a ação de Deo, a vida retorna ao Vale. Na vida comunitária Susana se associou também, assumindo o serviço de saúde. Tinha-se tornado enfermeira.

Uma utopia possível

O livro de Luís Guerreiro caminha mostrando como Deo realizou sua utopia de solidariedade constituindo um novo tipo de sociedade, justa e fraterna.
A experiência do vale chega ao estrangeiro. Vem a imprensa internacional conhecer de perto o funcionamento desta “comunidade solidária”. Ou a realização de uma utopia que mostra ser possível sobreviver quando todos se dão as mãos!
Luís Guerreiro opta por colocar na ação de Deo a teoria e a prática social de uma civilização inclusiva.
Nesta tese, Luís Guerreiro coloca a experiência do Vale frontalmente em contraste, de um lado, com a civilização capitalista, que é exclusiva, por dar acesso apenas a uns poucos e, de outro, a civilização inclusiva, que pela ação da solidariedade se estende a todos os que se inserem no esforço comum da sobrevivência. Ela junta desenvolvimento, solidariedade e humanização. O ideal é que todos tenham o necessário e que o essencial não falte para ninguém. A grande lição é que “para vencer a pobreza” não há que esperar a solução que vem dos outros” e sim a solução que vem de si próprio. Acreditar para conseguir fazer.
Na narrativa, a festa do açude será a festa do triunfo da idéia comunitária que prevaleceu no vale. E que está sintetizada nesta passagem: “O sonho de um jovem quase ainda adolescente que um dia partiu de mochila e violão às costas e nas pacas e ruas das cidades por onde andou, ia apregoando um mundo novo” .

Mote poético-musical de inspiração

Muito interessante, como mote básico revelador do sonho jovem de Deo, a letra de um texto poético que usou quando partiu de mochila e violão às costas para conhecer o mundo.

“Ouve escuta caminhante
Que aqui vais a passa
Se sonhas um mundo novo, e não sabes lá chegar
Caminhante não há caminho
Caminho se faz ao andar!

Completava o mote de Deo, outro mote cantado por uma mulher:

“Caminhante caminhante
Não te deixes abalar
Há-de haver no teu caminho
Sempre mão pra te guiar
Ha de haver se tu qusieres
Sempre alguém pra te ajudar!

Avaliação final

Juntamente com o problema da clonagem, o romance apresenta os Ideiais de uma revolução pacífica, colocando na força solidária a principal arma. Um socialismo pragmático.
Este livro, como não podia deixar de ser, quando se trata de Luís Guerreiro, está estilisticamente bem escrito. O autor sabe narrar com habilidade. O livro flui. Lê-se bem. As cenas, a ação e o tempo estão bem organizados. A idéia básica é levar à consciência contemporânea o debate da clonagem humana. Seus perigos para o futuro da humanidade. E de outro mostrar como é possível, apesar de tudo, construir uma comunidade solidária.

João Ferreira
18 de maio de 2007

PARA ADQUIRIR ESTE ROMANCE
Pode recorrer à Editora SER / SEPS 705/905 Ed. Mont Blanc, Sala 145 / CEP 70390-055 Brasília, DF / Tel (061) 3242 6408 / E-mail: editoraser@terra.com.br
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