A realidade em volta deste autor
Convida a comentar, com paz e amor,
Os passos iniciais da nova vida.
Mas as pessoas que me ouvem pensam
Que foi muito especial do Pai a bênção,
Porque me deu, no verso, uma saída.
Pois muito sofro, ao fazer a rima,
Posto saber que a trova reanima,
Quando se chega ao fim e se estremece.
É que a verdade fere sempre a gente
Que não compreende, pura e simplesmente,
Que o bem resume a vida, numa prece.
Por mais que pense no melhor sentido,
Sempre haverá quem diga: — “Eu mais duvido,
Se querem impingir-me o Espiritismo!...”
Aí, o tema se consome n’alma
E toda a fúria se arrefece e acalma,
Para ajudar o irmão que está no abismo.
Seria bom que o povo me escutasse,
Para poder sair do triste impasse
De suspeitar do metro e da intenção.
Ao renovar o verso, a cada dia,
Preciso de inventar outra poesia,
Ou acusar as falhas logo irão.
Não me arrependo haver dado, de início,
A idéia de que vim do precipício,
Por ter tirado a vida, em desatino.
Arrependi-me disso, em hora certa,
E, agora que a consciência não me aperta,
Eu já encontrei de novo o meu menino.
É ele quem me ajuda com a rima,
Pois, se estivesse sem a sua estima,
Vagava ainda por Umbral ou Trevas.
O homem novo que surgiu em mim
Mora num templo lindo de marfim,
Por onde passam bens, em grandes levas.
Caso voltasse à vida, logo agora,
Enquanto esta memória inda vigora,
Iria desfrutar do amor supremo,
Pois sei que essa virtude é transcendente,
Que deve perdurar eternamente,
Na alma de quem fez o mal extremo.
O sofrimento, quando chega o dia,
Demonstra que melhor não se faria
Por quem mais desandou durante a vida.
O tolo vai perder as estribeiras,
Até que ouça alguém dizer: — “Não queiras
Descobrir para o mal outra saída!”
Meu filho, quando atende algum chamado,
Sabendo quanto estive magoado,
Procura persuadir quem se machuca
A confiar em Deus e em sua lei,
Porque ninguém se vai perder da grei,
Por mais esteja a alma assim maluca.
Quem está lendo a trova me perdoe,
Caso algum verso n’alma não lhe soe
Como evangélico, e não ser de agrado.
Se vivo agora em torre de marfim,
Não quer dizer que seja um querubim,
Que seja santo ou bem-aventurado.
Faça você os versos e a harmonia
E veja se também não sentiria
Esta felicidade lhe empolgar.
É que me encontro bem, junto ao meu filho,
E lhe sugiro agora este estribilho,
Caso se ponha aqui no meu lugar.
Agradecer ao Pai, de coração,
Os que são mais felizes sempre vão,
Que é fácil, quando tudo nos dá certo.
Eu quero ouvir a prece mais formosa,
Na voz de quem padece pela glosa,
Sofrendo toda a dor, de peito aberto.
Aí, o mérito será maior,
A demonstrar que alguém sabe de cor
Quais são as leis do Pai para o Universo.
Se traduzir o sentimento d’alma,
Inda haverá de conseguir a palma
De nos trazer para a emoção do verso.
Um longo suspirar e me despeço,
Que a inspiração findou e meu sucesso
Depende destas rimas bem montadas.
Se desarmarem minhas estruturas,
Vão ver idéias soltas, inseguras.
Estrelas não nos servem, se apagadas.
Senhor, aceita a prece do poeta
Sabendo, embora, não estar completa
A obra benemérita do amor.
Se perdoares quem não tem poder,
Cumprindo — como sabe — o bom dever,
Um dia, um lindo verso hei de compor.
Aí, ofertarei um ramalhete
De estrofes, escrevendo, num bilhete,
Que aceito a vida como a vida é,
Agradecendo ao Pai a minha dor,
Pois, seja rude e forte quanto for,
Irá fazer valer a minha fé.
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