As sombras que se estendem, no caminho,
Vão dispersar-se, ao toque de carinho
De quem nos ama e sabe respeitar.
Quando vivo, jamais reconheci
Que tudo o que fizesse por aí
Iria refletir neste lugar.
O homem que fraqueja nessa vida,
Sem perceber que existe outra saída,
Se desespera e urra inutilmente.
Se está trancado em vil egocentrismo,
Vai despencar de vez no negro abismo,
Que a Morte irá espreitá-lo, ali na frente.
Se o caro amigo está agoniado,
Não deixe esta poesia aí de lado
E leia os pobres versos com prazer,
Pensando que os fizemos com carinho,
Para espantar as sombras do caminho:
Jamais é tarde para o bem-querer.
A estima representa, algumas vezes,
A salvação dos atos mais soezes,
Dos atentados contra a própria vida.
Se me tivessem dado a conhecer
A força desse amor e seu poder,
Jamais me tornaria suicida.
Pretendo, em tempo, pois, persuadir
Quem pensa dominar o seu porvir,
Ao dar cabo da vida, por caprichos,
Que a luta que se enfrenta, aí na terra,
Um décimo de dores não encerra
Daquelas que, no etéreo, nos faz bichos.
Preciso repensar todos os versos,
Eliminando aqueles mais perversos,
Que possam dar idéia de que minto?
Ou vou deixar do jeito que se deram,
Porque não são as rimas que se esperam,
Porém os sofrimentos que lhes pinto?
Os versos que hoje faço são de amores.;
Não podem dar idéia das tais dores
Que nos transtornam, quando lá no Umbral.
Os meus conselhos, qualquer um daria:
Não é preciso a forma da poesia,
Para saber que a dor provém do mal.
As sensações que trouxe da matéria
Exemplificam quanto a vida é séria,
Para os efeitos cármicos das leis.
Quem já cortou a vida, estando jovem,
Já sabe, não precisa que lhe provem
Que vai ter de passar por outras seis.
Ou mais, pois esse número é da rima,
Que sempre torna fácil e sublima
O entendimento que se quer passar.
Se tudo o que já disse não lhe importa,
Espere para ver, depois de morta
A esperança de vir para gozar.
Não quero lhe lançar um mau agouro,
Mas, se não reunir o bom tesouro
Dos mandamentos que Jesus nos deu,
Irá o bom amigo lamentar-se,
Por não ter conseguido que a catarse
Lhe desse um lugarzinho lá no Céu.
O que fazer diante da falência
Dos sonhos que levavam a inocência
Aos píncaros augustos do viver?
Uns versos, simplesmente, caro amigo,
Porque não há dizer: — “Sou eu quem brigo,
Pois sobre mim ninguém terá poder!...”
Brincar relaxa um pouco essa agonia,
Pois Deus não fez o Mundo num só dia,
Se é que isso serve de consolo.
Quem pensa só em si não tem sossego
E acaba por dizer: — “Com quem me achego,
Se em todos só dei coice, burro e tolo!...”
Garanto que o amigo me compreende
E, se persiste o mal que ainda lhe prende
A alma, numa cela de egoísmo,
Reze um pai-nosso, mesmo com desprezo,
Para saber se existe o forte peso
Do pensamento desse cataclismo.
— “Vou prosseguir, na vida, mais um pouco” —
Há de dizer o amigo. — “Não sou louco
De ver as coisas todas pelo avesso.”
E eu reconheço, nessa decisão,
Que o resto dessa vida é só missão,
Que até o que vim fazer eu já me esqueço.
Está na hora, pois, de ir-me embora,
Que a lei do amor, que por aqui vigora,
Há de determinar que haja descanso.
Quem cumpre o seu dever merece estar
Em paz, para sentir, bem devagar,
Se houve ou se não houve algum avanço.
Senhor, se queres que as pessoas vençam,
Projeta sobre todos tua bênção
E torna suportável cada cruz.
Se a carga for mais fácil e mais leve,
Poderemos prever que, dentro em breve,
Trabalharemos juntos de Jesus.
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