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Contos-->OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Capítulos XII e XIII -- 14/12/2002 - 11:41 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Cap. I a V




XII

No dia seguinte, Marinalva acordou antes de Roberto. Sentou na cama e ficou olhando por alguns minutos o dorso nu do companheiro. Ele dormia um sono suave, tranqüilo e inocente. Dormindo daquele jeito, parecia inofensivo. E a inofensivilidade daquele homem adormecido a contagiou. Ela, apesar de tudo, sentia uma ternura inexplicável.Um sentimento diferente aflorou de dentro de si. E à medida que contemplava o corpo inerte dele, aquele sentimento de querer permanecer ligada a ele crescia feito erva daninha. Em sua confusa cabeça surgiu a vontade de deitar bem juntinho dele, de abraça-lo e beija-lo. E então ela desejou que ele fosse seu marido e ficasse para sempre junto de si. Confusa e perdida num emaranhado de sentimentos e dúvidas, ela deitou-se novamente ao lado dele e fechou os sorridentes e satisfeitos olhos.
Roberto acordou pouco depois. Ao ver o corpo jovial daquela menina colado ao seu, num momento de fraqueza, também se sentiu satisfeito e a abraçou com carinho. Novos pensamentos surgiram: “Até que não seria ao ruim assim acordar com uma bela mulher do lado... O problema é que, depois de algum tempo, a gente acaba enjoando dela e quer acordar com outra... e com outra...”, pensava ele, enquanto sua mão alisava carinhosamente os crespos e desgrenhados fios de cabelo dela. “Ela dorme como um anjo... O que será que meus pais pensariam se me vissem deitado assim com uma negra? Decerto me deserdariam... Uma pretinha na família? Seria o maior ultraje... sujar o puro sangue dos Pinheiros com sangue negro! Ah!, mas aposto que meus bisavós, meus tataravôs devem ter arrebatado muitas negrinhas por esse Brasil afora.. Tenho certeza que, na época da escravidão, iam à Senzala, escolhiam a negrinha mais jeitosa e a deflora em algum canto escondido... Como deveriam ser bons aqueles tempos...! Tantas negrinhas a sua disposição! Agora para ter essa tive que gastar uma grana danada...”
O sol invadia intensamente a privacidade daquele quarto, impedindo que pudessem continuar a dormir. O sono se dissipara a algum tempo e ambos pareciam dormir, todavia dormitavam.
Marinalva abriu os olhos quando o percebeu toca-la sutilmente. A recordação do dia anterior voltou-lhe a memória. Ela teve medo. Seria violada mais uma vez, tinha certeza... Por que ele foi acordar? Seria tão bom que continuasse a dormir! Esses pensamentos surgiram em sua cabeça aterrorizando-a.
Com as chamas queimando sua pele, ele se atirou a ela ávido em apagar aquele fogo que o consumia. Foi, porém, por demais afável. Tratou-a carinhosamente como se fosse sua amante.
Pela primeira vez, ela descobriu algo que não a violência e a dor. É bem da verdade que ainda não havia se acostumado a compartilhas aqueles momentos com ele; contudo, não parecia mais desespero e dor como da outra vez. E isso fê-la se entregar de corpo e alma àquele momento, como se fosse o único. Então ela quis aquele homem. Homem este que chegou a odiar fervorosamente por duas vezes nos últimos dias.
Quando pararam, ela não se sentiu como dantes; pelo contrário, encheu-se de júbilos por lhe proporcionar tão belo e sublime momento. A essência dele se misturava a sua, criando uma força que se apoderava de seu inexperiente coração. Estava desgraçadamente apaixonada e submissa. Ele não merecia isso, sabia disso, mas havia sido enfeitiçada pelo poder daquela porção.


XIII


Depois do café, foram à praia. Roberto a tratou com desdém e um certo distanciamento. Ela por sua vez percebeu isso, contudo na ficou chateada. Talvez os homens fossem assim mesmo, carinhosos ao procura-las, depois frios e indiferentes. E ela se sentia certa disso; não lhe passou, porém, pela cabeça que toda aquele desdenho era por causa de sua pele e condição inferior. Ele sentia-se incomodado com isso; mesmo assim, na medida do possível, procurava ser gentil.
Ao voltarem, tomaram um longo um banho morno. O roçar daqueles corpos úmidos despertou o vulcão que teimava em se manter ativo naquele homem. E ela compreendeu que nas veias dele havia mais larvas incandescentes que no centro da terra. E ela estava ali para evitar que aquele planeta se explodisse no abismo da irracionalidade. Compreendeu também que tinha uma tarefa a cumprir: tal qual um deus, ela deveria usar seu poder a ira de Hefestos.
Não era uma tarefa fácil, ter o poder de um deus do Olímpio para conter todas as forças da natureza existente naquele ínfimo planeta; nem para receber os incolores jatos de larvas para acalmar a ira de Hefestos. E teve que fazer isso muitas vezes ao longo do dia. Parecia que aquele vulcão não pararia de entrar em atividade. Os intervalos entre uma erupção e outra eram cada vez maior. E ela estava ficando fatigada daquilo. Mas tinha uma tarefa a cumprir. Estava com ele naquela casa para isso, então a cumpriria.
Permaneceram deitados à tarde na sala assistindo filme. De vez a vez pausavam o filme e se entregavam aos prazeres da carne. Minutos depois, exaustos, continuavam a assisti-lo. Quando esse se findava, ele colocava outro e assim a tarde ia descaindo.
Ao cair da noite, foram finalmente tomar outro banho antes do jantar. Marinalva vestiu uma blusinha top vermelha com detalhes, um shortinho branquinho e curto, desses que deixam a metade das nádegas à mostra, e calçou um par de chinelas havaianas vermelhas. Roberto também vestiu uma roupa confortável, uma vez que estava um calor terrível naquele sábado.
Foram ao restaurante e comeram feitos lobos famintos. Marinalva experimentou pela primeira vez, uma taça de vinho do Porto. Não demorou muito a ficar desinibida, a sorrir além da conta e a falar alto demais. Ele achou por bem saírem dali e caminharem pela calçada até que o efeito do vinho passasse.
Voltaram pouco antes da meia-noite. Entraram em casa e Roberto se lançou a filha da arrumadeira mais uma vez. Ela o havia enchido de volúpia por causa do pequeno shortinho branco. Não só a ele, mas também aos rapazes que passavam por eles na rua. Estes viravam para trás a fim de olha-la com olhos esbugalhados provocando ciúmes em Roberto, como se ele fosse seu namorado. Aliás, os ciúmes nem eram por amor ou outro sentimento nobre; era tão somente a sensação de posse. Afinal de contas, ela lhe pertencia – pelo menos até o final do dia seguinte --, e a idéia de outro homem cobiçar o que era seu, asemelhava-se-lhe uma violação ao direito de propriedade; ainda mais para uma pessoa descendente de família conservadora e donos de grandes posses. E esse ciúme, apimentado ao querer mostrar que ela lhe pertencia de corpo e alma, provocou um enraivecer que só poderia ser controlado quando a castigasse.
Ele estava realmente tão possesso que a estatelou de bruços sobre as almofadas da sala, rasgou-lhe as vestes -- o shortinho e a delicada e branca calcinha de rendinhas -- e a estuprou sem mesmo dar ao trabalho de tirar-lhe os pedaços da roupa. Marinalva percebeu que ele era outra pessoa, mas não podia contrariá-lo. Deixou que a possuísse. Sabia que provavelmente depois ele voltaria a ser carinhoso e atencioso com ela. Agüentou firmemente a violência sobre seu corpo, esmagando-a e a calcando violentamente contra o tapete como se quisesse parti-la ao meio. A dor era intensa. A sensação era de que a partiria ao meio. Temia pelo seu corpo e pela sua vida. Ela estava à disposição dele, mas isso não lhe dava o direito de causar-lhe danos. Por sorte, seu sofrimento durou pouco e ele descaiu como se estivesse dando o último suspiro.
Pouco tempo depois, ele dormitava por sobre o tapete macio e quente do corpo dela. Ele dormia um sono tranqüilo e seus lábios pareciam sorrir. Essa imagem a confortou e ela se resignou. “Se por um lado ele me maltrata, por outro me dá uma vida que jamais teria... Quando é que poderia ter roupas assim tão chiques? Quando é que poderia está num apartamento tão lindo como esse?... E ir num restaurante tão caro como fomos hoje?... Nunca!... Também ele não é sempre assim. Não quero perder ele... Eu te amo, seu cachorro!...”, pensou ela antes de adormecer.

OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - FINAL


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