Ingratidão
Cheia de cansaço a velha caminhava
Banhada de suor ao esforço que fazia
Arrastando carro de mão onde trazia
Armarinhos, que na feira negociava.
Um dia, o carro dum rico industrial
Cruzou com ela na rua e se deteve
E sem um cumprimento, ou um gesto leve
Pós nas suas mãos uma nota de cabral!
Após breve conversa, encabulado
Num gesto mudo, em seu carro se afastou.
Foi então, que a boa velhinha me contou:
Que é seu filho e vive dela envergonhado!
Mas se hoje é rico, poderoso, estudado,
Foi o seu suor e daquele humilde carro...
Que lançaram a semente que o tirou do barro
Onde não fosse por ela, ele estaria enterrado!
São Paulo, 30/03/1964
Armando A.C. Garcia
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