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Ensaios-->MACUNAÍMA E O MODERNISMO BRASILEIRO -- 11/05/2008 - 20:18 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MACUNAÍMA – UMA RETÓRICA EFICAZ QUE CONSTRÓI UMA BEM SUCEDIDA POÉTICA DENTRO DOS PARÂMETROS DO MODERNISMO BRASILEIRO
João Ferreira
Maio de 2008


Nossa leitura, levou-nos à conclusão de que o livro Macunaíma de Mário de Andrade é um capítulo importante da Poética de Mário de Andrade. Vamos dizer porquê.

No estudo bem delineado que Gilberto Mendonça Teles publica seu livro “Modernismo Brasileiro e vanguardas Européias” sobre a Poética de Mário de Andrade há uma passagem que servirá de base a este nosso trabalho e que gostaríamos de comentar brevemente para o relacionar com os conteúdos do livro Macunaíma.

Em primeiro lugar, é bom observar que nesse estudo , Gilberto diz frontalmente que um texto só é poético se sua retórica for eficaz. Efetivamente, Gilberto Mendonça Teles diz que a relação entre poética e retórica é de que uma é complemento da outra, já que nenhum discurso pode ser apenas retórico ou apenas poético: “Um texto só é poético se sua retórica for eficaz, dizem os estudiosos,”(Gilberto 297)

Para mostrar a verdade desta posição crítica de Mendonça Teles, há muitos pontos que podem ser invocados em Macunaíma. Um deles e um dos mais imediatos é a presença do realismo mágico no livro de Mário de Andrade. A ampla presença do realismo mágico e do fantástico mostra de maneira mais clara como Mário de Andrade realizou uma poética bem sucedida com o apoio de um eficaz processo retórico. O segredo para entender isto é fácil. Segundo Gilberto Mendonça Teles, a retórica se torna eficaz toda a vez que viabiliza os caminhos que são próprios da Literatura.
O autor de “Modernismo Brasileiro e vanguardas européias” seleciona alguns textos básicos para mostrar a base retórica da construção da poética modernista do autor de Macunaíma. Esses textos selecionados são:
O Prefácio Interessantíssimo, que escreveu depois de ler os teóricos da revista francesa L’Esprit nouveau. Esse Prefácio mostra as primeiras profundidades modernistas de Mário de Andrade. Primeiro, pelo avançado Desvairismo que o caracteriza. E depois, por um certo pendor surrealista onde chega a valorizar a escrita inconsciente, baseada no id, para mais tarde a submeter ao controle racional do ego. Também, neste Prefácio Interessantíssimo, segundo Mendonça Teles, Mário já constrói uma poética lírica, uma arte e um conceito de belo complementado por uma exposição sobre a percepção artística. Do lado da retórica, ele constrói sua poética enunciando princípios sobre a métrica, sobre a ordem e sobre a liberdade, a rima, a língua, assim como sobre a relação entre música e poesia.
Em a Escrava que não é Isaura, a linha de pesquisa é a mesma. Ou seja, há uma clara enunciação poética centrada no fenômeno da criação artístico-literária. Discute o problema da beleza artística, a inspiração poética e a eloqüência dentro da retórica.
Finalmente, em seu ensaio sobre “O Movimento Modernista”, Mário de Andrade mostra sua participação no Modernismo, escrevendo como que a primeira história do Modernismo Brasileiro.
Associados entre si, os textos Um Prefácio Interessantíssimo, Uma escrava que não é Isaura, e O Movimento Modernista formam o grande tripé de um triângulo teórico que muito interessa às bases do Modernismo brasileiro e que fundamenta toda a introdução a uma poética do Modernismo.
Em O Movimento Modernista, Mário fala do espírito novo, da Pauliceia desvairada, e registra já uma certa influência das teorias futuristas e faz referências à dialética da destruição/construção do Modernismo:
“O movimento modernista foi essencialmente destruidor”, diz Mário de Andrade em “O Movimento Modernista”.
Estes textos são apresentados por Gilberto Mendonça Teles como textos comprovadores da linha inovadora de Mário de Andrade dentro do Modernismo brasileiro. Eles serão a base para a exposição comparativa e reflexiva que faremos a seguir sobre Macunaíma.

II
MACUINAÍMA NO QUADRO DO MODERNISMO BRASILEIRO

Pela leitura dos textos apresentados por Mendonça Teles e pela leitura textual de Macunaíma, achamos que o livro de Mário de Andrade é um documento importante para ampliação do estudo da poética e da retórica modernista.
Para isto ser melhor entendido podemos recorrer à construção de um amplo quadro onde se mostra a inovação modernista no âmbito da leitura de Macunaíma.
Entre outros aspectos destacamos dois desses elementos que achamos importantes.

DISCURSO MÁGICO E METAMORFOSE

Do ponto de vista teórico e simbólico poderíamos ver no discurso mágico exibido em muitas passagens de Macunaíma um grande sinal da liberdade “da construção” modernista, que se esforçou por “destruir as bases do “cousismo” realista da mentalidade conservadora.
São numerosíssimas as passagens do realismo mágico presente em Macunaíma:
Em primeiro lugar, podemos lembrar o tom e a música mágica da cascata de Naipi, baseada na lenda das cascatas de Iguaçu...Toda ela é feita de magia: p.32
Vem depois a presença da metamorfose como elemento de composição e da presença do maravilhoso.
Com a introdução das metamorfoses e da magia, Mário derruba toda a arrogância do mundo já-feito defendido pelo mundo burguês e dá à fantasia o maior espaço criador. Macunaíma simplesmente escolhe o mundo que quer ou que deseja implantar em sua imaginação criadora. O poder da liberdade é tanto que basta que o herói dê um espirro que logo “bota corpo”(21).
Tudo é acessível e possível ao imaginativo personagem Macunaíma assim como a muitos outros personagens envolvidos nesta Atmosfera de poder mágico.Assim, Ci, Mãe do Mato, pode “tecer uma rede com fios de cabelo”(26). Para conseguir o leite da vaca guzerá lá pelas bandas de Barbacena, como a vaca era brava, o herói topou dirigir uma oração a Nossa Senhora e a Santo António de Nazaré, desejoso do leite e porque sabia que a vaca era brava. No final, tudo consegue: “A vaca achou graça, deu leite e o herói chispou pro sul”. p. 54.
O mundo de Macunaíma não é um mundo feito nem um mundo rigoroso. Porque Macunaíma é um herói sem nenhum caráter, a hermenêutica nos incita a vê-lo como uma massa informe, como um sujeito maleável que ainda não tomou forma definitiva e que está pronto não apenas para a ação, mas ainda para largas experiências e formas mais caracterizantes. À medida que Macunaíma vai tendo experiências, vai se tornando mais metaformoseável. Sem moral, vive na ambigüidade e se destrói. Mas, ao mesmo tempo, na plataforma da intencionalidade artística do Modernismo, ele se constrói, pela busca aberta de um caráter mais definido. Num Brasil gigante onde toda a matéria está acessível e quase sem forma definida, tanto socialmente, quanto politicamente, quanto etnicamente e literariamente, Macunaíma fica ao nível da visão geral do país, da maneira como este se apresentava potencialmente em 1928. Nessa altura, um grande caminho deveria ser percorrido. Para isso haveria que abrir duas grandes portas para avanço cultural: as portas da magia, facilitadas pelo poder operante da fantasia do brasileiro; e a metamorfose, que foi considerado o processo que iria permitir o acesso a outras formas e a outras transformações. Macunaíma sempre será o personagem que carrega esta magia e estas transformações.
É todo o centro de ação narrativa.

IRONIA E PARÓDIA

Com uma arte retórica e mágica já recarregada de propostas modernistas, Mário de Andrade dá seu recado através de Macunaíma, pela arte da ironia e também da paródia.
Os grandes gestos e as grandes ações deste personagem são uma enorme paródia e uma enorme ironia.
Através da magia, logo no início da narrativa, Mário mostra como “muitos pássaros caíram de susto no chão e se transformaram em pedra” (16). Quando Currupira, depois de ter dado um pedaço de carne de caça a Macunaíma corre atrás do nosso herói para o comer, nota-se pela linguagem todo um diálogo mágico: “Lá de dentro da barriga do herói a carne respondeu: -Que foi?” (20).
Noutra passagem:“A Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor” (39). Noutra: “Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos “(40); e, noutra, ele narra a história de uma colher transformada em bichinho (49) ou fala do “cabeceiro de algodão transformado em taturana branca” (49).
É fora de dúvida que as muitas alegorias e simbologias, os grandes nomes da mitologia brasileira e sobretudo a ação retórica presente neste livro fazem de Macunaíma um dos grandes símbolos modernistas de Mário de Andrade. Na mitologia há entidades míticas que não esquecemos nunca: muiraquitã, Ci-Mãe do Mato, Vei-a Sol, Guaraná,Tutu-Marambá, Caapora, Currupira, Mãe d’Água,etc.
O léxico, por sua vez, é riquíssimo, com grande quantidade de palavras extraídas das línguas indígenas e com notável criatividade lexical ((famanado,verdolengo, amulherar-se, chaminezona, gordanchona, capenguice, árvore garrucheira), etc. Enriquece o discurso com expressões populares: “Oh! Si eu subesse” (69); ocê (95); conhecido como lê vai? (106); te-loguinho (106).

CONCLUSÃO

De tudo o que dissemos, parece ficar claro que este romance de Mário de Andrade desempenha um papel fundamental na escola modernista brasileira, sobretudo pela renovação e construção de uma nova narrativa. Dentro dos propósitos modernistas ele cria uma história e constrói um personagem que se move por entre os modos de ser tipicamente brasileiros.Mário dirige a linha narrativa decalcando a ação e o carisma de muitos mitos brasileiros, e também em cima de figuras nacionais, da linguagem nacional, da geografia nacional, dos modos de ser nacionais, e ainda em cima de “notas de crônica contemporânea”(por exemplo: as francesas de S. Paulo”.
Tudo isto será servido, para usarmos da terminologja de Gilberto Mendonça Teles, de uma retórica modernista eficaz capaz de construir uma grande poética.

João Ferreira
maio de 2008
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