As dúvidas que surgem, no trabalho,
Atiçam a melhor curiosidade.
Reflete este escrevente: — “Se hoje eu falho,
Espero que o poeta não se enfade,
Que a rima, ao tornar-se ‘quebra-galho’,
Lhe faz sentir da Terra mais saudade..”.
Eu lhe digo p’ra ir bem devagar:
Não me importo, se o verso melhorar...
Se não forem dez trovas, cada dia,
Poderão ser só nove... ou bem oito...
Se sete contiverem a poesia,
Com seis, ele há de estar menos afoito.
Com cinco, então, até descansaria.
Se forem quatro, aí eu que me amoito.
Mas, se apanhar só três que o tema una,
Irei tornar a dádiva oportuna.
Caso, algum dia, o verso mais se apresse
E chegue sem cuidados, quanto à rima,
É bom que o caro amigo reze a prece,
Aquela que minh’alma reanima,
Pois o poeta, às vezes, desfalece
E o verso fica torto, sem a lima,
Que o uso do formão escandaliza,
Porque se quer a trova como a brisa.
Encerrarei o dia com respeito,
Que o pobre amigo aí já se esfalfou.
Se o verso estiver torto, dou um jeito:
Na eternidade nada destoou.
— “O tempo desse verbo eu não aceito,
Porque, na eternidade, eu sempre sou.”
Se alguém disser assim, tiro o chapéu
E peço que me ensine a ir ao Céu.
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