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Artigos-->O POEMA DA CURVA DE NIEMEYER -- 06/12/2012 - 03:23 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


POEMA DA CURVA

João Ferreira. 5 de dezembro de 2012



O Brasil ficou a partir da noite de hoje, 5 de dezembro, tocado pelo falecimento de Oscar Niemeyer. Faleceu com 104 anos. Toda a imprensa nacional e internacional está tecendo os mais justos louvores a este homem extraordinário, que é o arquiteto de Brasília. Tinha confessadamente uma preferência arquitectural pela linha curva. O jornalismo, em suas variadas reportagens e em múltiplas entrevistas a pessoas que o conheceram, veio ressuscitar nesta data a paixão do arquiteto pela linha curva. Desde a Pampulha até ao Museu Nacional de Brasília, até às cúpulas da Câmara dos Deputados e do Senado no Congresso Nacional, até à catedral de Brasília, a linha curva ocupou justo espaço na arte de Niemeyer. Esta reflexão levou os repórteres a ressuscitar um poema que estava já quase esquecido do grande público: o Poema da Curva, que reproduzimos a seguir e que merece ser perpetuado pela justeza da simplicidade:



POEMA DA CURVA

Óscar Niemeyer



Não é o ângulo reto que me atrai,

Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo o homem.

O que me atrai é a curva livre e sensual.

A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios,

nas nuvens do céu,

no corpo da mulher preferida.

De curvas é feito todo o universo,

O universo curvo de Einstein."





COMENTÁRIO



A linha curva que Niemeyer tanto valorizou na arquitetura e na sua concepção de vida e de mundo, é uma linha que está presente tanto em obras clássicas quanto em obras que tentaram apresentar-se como uma revisão ou uma alternativa ao classicismo.

A linha curva em arte foi usada com certa novidade no maneirismo italiano a partir de Giovanni Velori e Giorgio Vasari no século XVI. Trata-se da Linea serpentinata que introduz na arte a linha ou a figura em forma sinuosa de serpente, ou seja, em S.

Começou a ser utilizada já na Antiga Grécia nos fins do período clássico e durante o período helenístico e também entre escultores romanos.

O maneirismo surgiu como uma revisão dos valores clássicos e opunha-se aos rígidos preceitos do classicismo, querendo mostrar que a vida era mais flexível, e menos rígida do que os preceitos clássicos. Dentro dessa perspectiva buscou efeitos decorativos e visuais através de curvas, contracurvas e colunas retorcidas. Uma tendência que o barroco aprofundou.

Bem situado nesta tendência maneirista está a canção que tem o título de o desconcerto do mundo de Luís Vaz de camões(1525-1580), um poema que mostra que o mundo social e moral não é assim tão certinho como o classicismo tentava fazer crer. O Mundo tem seu desconcerto, sua variabilidade, tem seus altos e baixos, e a linha serpentinata está aqui. O homem caminha em linha reta, entra na curva, sobe, desce e assim vai caminhando, entre falsidades e incertezas,entre erros e acertos, diz Camões. De seu lado, Niemeyer exalta a linha curva, porque segundo ele, a curva harmoniza os extremos da linha reta.

Ao retomar com especial devoção e definição a linha curva para sua arquitetura, Niemeyer reassume a tradição do barroco brasileiro que prestigiou dentro da modernidade do neobarroco na medida em que buscou mais humanidade e mais verdade na arte que produziu para que o homem se sentisse mais ajustado e mais feliz. "Sua arquitetura de formas livres surgiu como um protesto contra o que ele chama de" arquitetura racional"- formas retilíneas e mecânicas. Quatro elementos -praias, montanhas, antigas igrejas barrocas e belas mulheres - foram a essência dos sonhos de Niemeyer (David Underwood).

-No Poema define suas preferências: "Não é o ângulo reto que me atrai,Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo o homem." Niemeyer prefere a linha curva e sensual: " O que me atrai -diz - é a curva livre e sensual." A partir daqui, Niemeyer vê na curva o Brasil inteiro, primeiro, na vida da sua natureza (" A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios/nas nuvens do céu") e, também "no corpo da mulher preferida". Em poucas palavras define linhas essenciais de uma visão sócio-ambiental e humana, dando um específico lugar à mulher, mãe da humanidade, o que é inteiramente compatível com sua visão social, humana e afetiva que manifestou em sua rico pensar e sentir sobre o mundo. E para fechar com chave de ouro, veio a linha final do poema: " De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein.". Um poema, que fica como uma memória da profunda visão e sensibilidade artística, naturalista, humana e cósmica de Niemeyer.



PENSAMENTOS DE NIEMEYER



...] "O ser humano [...] tem que olhar pro céu e sentir que é pequenino, que tem que ser modesto, que nada é importante. A vida é um sopro, um minuto. Então não há razão pra esse ódio todo.



“Eu acho que tudo vai desaparecer. O tempo cósmico é muito curto. Me perguntaram outro dia: “o senhor não tem prazer em saber que mais tarde o sujeito vai passar e ver o trabalho que você fez”? Ah, mais tarde o sujeito vai desaparecer também. É a evolução da natureza. Tudo nasce e acaba. O tempo que isso vai perdurar é relativo.“



“Você olha pro céu e fica espantado. É um universo fantástico que nos humilha e a gente não pode usufruir nada. A gente fica espantado é com a força da inteligência do ser humano, que nasceu feito um animal qualquer, e hoje pensa, daqui a pouco está andando pelas estrelas, conversando com os outros seres humanos que estão por essas galáxias aí [...]"



João Ferreira

Brasília, 5 de dezembro de 2012


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