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Artigos-->1. ESTORVO -- 09/03/2002 - 08:20 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Seja o seguinte discurso:



— Arrependei-vos, ó vos que pecastes contra o Senhor, ferindo o vosso irmão!



Pois bem! Que tipo de pessoa diria essas palavras hoje em dia? Um sacerdote irado a oscular a face do diabo, no alto do púlpito, bramindo contra umas velhinhas que não podem mais reagir com a busca de outra diocese?



Seja este outro discurso:



— Arrependam-se todos os que, tendo ouvido a voz do Cristo, ainda assim apedrejaram os irmãos, presumidos pecadores!



Que verdade pode haver numa expressão desse tipo? Pelo menos, sugere que o autor do desplante autoritário esteja um passo adiante no caminho da perfeição. Pelo menos. Então, vai levar o caro leitor desta página a imaginar qual seria o intento do narrador, se nem ele mesmo consegue fixar a principal diretriz da manifestação.



— Caro amigo, não fique triste com este arremedo de obra literária — eis o que diria ao médium que comigo estivesse trabalhando e recebesse o terrível influxo de desequilibrado autor do etéreo.



Eu pensaria comigo mesmo que o tal sujeito poderia fazer sua estrada bifurcar e, para não cair no abismo das obsessoras conjecturas, supor ou que estivesse dando vazão a roteiro formulado pelo seu próprio espírito, sobre o qual não consegue exercer controle consciente; ou que tudo está tão acima de sua compreensão que irá continuar escrevendo, para depois passar por correção geral, aproveitando algo que possa apresentar sentido. Caso nada sobre ou bem pouco, antes de atear fogo à produção que algum trabalho lhe deu, para ter a certeza de que a falha de conceituação ou de valorização não é sua, vai pensar em expor a um ou dois amigos a página insólita...







Assim ia Firmino escrevendo o seu primeiro rascunho da peça literária que lhe foi estimulada pela classe do Professor Homero. Deixara-se levar, simplesmente, pelo empuxo de iniciativa que julgara válida e sobre a qual desenvolvera alguns comentários com os colegas, os quais tiveram excessivo respeito em contrariá-lo, tendo preferido a sugestão de que talvez o neófito autor pudesse comprovar a eles ou a si mesmo que a sua modalidade expositiva não alcançaria natural seqüência de ordenação, quando o projeto se realiza não de maneira arbitrária, mas com os objetivos previamente definidos e aprovados pelos mentores.



Neste ponto, esta comissão de redatores deve suspender o narrado para imprimir ao texto o cunho da autenticidade, revelando que todos os tópicos, por mais estranhos possam vir a parecer à primeira vista, cá se transporão sob a responsabilidade de quem conhece toda a extensão dos deveres dos espíritos que portam mensagens psicografadas para o interesse de melhoria espiritual dos encarnados.



Colocamos uma vírgula (não chegam a ser parênteses), para afiançar que, em não havendo nenhum leitor, nem chegando a se concluir a transmissão para o âmbito terreno, ainda assim lucraremos com a elaboração da narrativa, porque exige ela dos autores profunda meditação, principalmente quanto a dois fatores do sucesso das atividades, em vista dos fins almejados, quais sejam: primeiro mantém a disciplina intelectual em ascendência sobre os problemas de caráter emocional, o que gera o segundo aspecto: o equilíbrio das psiques individuais e o jogo da harmonia entre os componentes, para a fixação dos temas em seus desenvolvimentos melhor coordenados.







Demos a Firmino todo o entrecho anterior, inclusive com a descrição de sua façanha redacional. E com ele tivemos uma estranha conversa:



Ele: Eu não penso que vocês hajam cabalmente demonstrado que o meu rascunho não possa vir a ser melhorado consideravelmente.



Nós: Não era essa a nossa intenção. Estávamos crentes de que você perceberia que o seu método iria dar muitas voltas até ser escoimado dos vícios interiorizados, que afloram quando o pensamento não sofre a vigilância ou a censura do bom senso.



Ele: Não estaria aí um meio mais que certo para obstar a criatividade, suprimindo da exposição as contribuições inerentes ao que fica subjacente à consciência?



Nós: Veja que o seu mau hábito se instalou tão profundamente em sua personalidade que você já não consegue concatenar as idéias, em função de nos apresentar argumentos lógicos e plausíveis.



Ele: Não penso assim, mas também não vou dar-lhes um exemplo melhor do que este que realizo neste exato momento, coerentemente com o fato de que meu pensamento, repito, subjacente, não se interpõe quando exerço meu direito ao revide, com o intelecto um pouco afetado por vibrações emotivas desagradáveis, tendo em vista o fato de que estou sendo ralhado (ressalto que com muito respeito e consideração — sem ironia) por algo sobre que os amigos não refletiram suficientemente.



Nós: Pela sua tese, quando a pessoa se encontra envolvida emocionalmente, age com mais clareza intelectual, sendo capaz de responder com mais precisão aos tópicos da pauta. Ora, isso não lhe parece contrariar o princípio geralmente aceito de que a perturbação da vontade, ou melhor, o desarranjo sentimental gera um bulício na mente, que se torna incapaz de direcionar o centro de suas atenções para as virtudes mais enérgicas do cristianismo, quais sejam, a caridade, a fé e a esperança, para que se faça a harmonia que redundará na paz universal?



Ele: Não querendo ser repetitivo nem buscando chifres em cabeça eqüina, se vocês tiverem a pachorra de dedicar atenção ao seu próprio arrazoado imediatamente anterior, poderão constatar o fato de que, instados pela minha posição contrária e pela defesa dela intransigente que estou realizando, vocês se mantiveram bastante firmes em sua deliberação de me derrubar, utilizando-se de um poder de argumentação quase intransponível. Aliás, visto o seu discurso do ponto de vista da segurança da composição silogística, nada haverá que contra-argumentar, principalmente porque vocês fecharam questão e se posicionaram de modo muitíssimo inflexível. Entretanto, estando eu a cavaleiro e vendo o assunto sob outro prisma, posso imaginar que as suas idéias ganhariam o apoio de outros desenvolvimentos, com certeza a desvelar novos planos de reflexões, se se tivessem dado ao cuidado de prestar atenção aos impulsos (talvez o termo não seja o melhor, mas me deu a gana de utilizá-lo) aos impulsos inorgânicos que produzem as faíscas eletromagnéticas de suas constituições cerebrais dentro do seu perispírito.







À vista de tal imbróglio temático, resolvemos enfiar as nossas violas nas sacolas e fomos cantar em outra freguesia, ou seja, demos um tempinho para farejarmos se algum fundamento havia na peroração mais esquisita do nosso Firmino, que não se perdia jamais pelo nome, única e graciosa compensação que nos restou da serenidade com que refutou a nossa aleivosia cultural. Ainda bem que estamos a elaborar a posteriori este texto, porque agora já nos sentimos à vontade para estas brincadeiras. A bem da verdade, não foi exatamente assim que ocorreu naquele momento em que se emudeceram as nossas vozes.





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