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Cartas-->12. AO MEU SOBRINHO RODRIGO -- 28/04/2001 - 07:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meu Caro:

Você deve estar estranhando muito esta cartinha de uma pessoa que lhe parece totalmente desconhecida. Nos seus seis aninhos de idade, não tem sequer discernimento para entender estas minhas palavras, ainda mais por ser analfabeto.

Então vai caber ao papai resumir estes pensamentos, dando-lhes uma forma bem fácil e prazerosa, para que o meu queridíssimo Rodrigo se julgue importante o suficiente por receber correspondência de tanta seriedade.

Em primeiro lugar, louvo-lhe a meiguice e a carinhosa atenção que dá ao papai e à mamãe, sem esquecer de ser um irmão muito valente na defesa do mais novo. Eu diria que você é um paladino das causas nobres, qual medieval combatente pela honra das pessoas que vivem a sofrer injustiças.

Sei que você gosta dos heróis burlescos das fitas de vídeo, mas também que é capaz de se enternecer com as lágrimas do bichinho que perdeu a mãe ou da princesa que foi assustada pela madrasta maldosa. Sei que você estabelece nítida distinção entre esses fatos da fantasia e os da rude realidade a que estão todos sujeitos, porque a desgraça adentra todos os lares pela porta mais sagrada da intimidade das reuniões de lazer, ao final das tardes, quando os espíritos estão cansados da labuta diária e se sentam diante do aparelho de televisão para o descanso merecido.

É aí que conflitam em sua mente as informações que lhe vão sendo transmitidas subliminarmente, por ouvir os noticiários e por ver de relance muitas das reportagens escabrosas dos crimes, das tragédias e dos acidentes. Isso sem contar o vezo dos mais velhos de se voltarem para os programas sensacionalistas, que colocam como prato da noite as questões mais estranhas e as pessoas mais desequilibradas.

Bem que você se entretém com seus brinquedinhos, principalmente quando o irmãozinho não está dormindo. Mas sua atenção caminha no sentido das artimanhas dos programas, que sabem transformar sons e imagens em apelos, para que se notem as personagens que protagonizam as imagens, seja dos textos, seja da propaganda.

Ainda bem que seus coleguinhas de escola não inventam de imitar o que também acompanham de errado, senão como é que a tia Verinha iria fazer para dar conta dos pirralhos?

Minha mais forte recomendação é que você, Rodrigo, peça ao papai e à mamãe que contem histórias de príncipes encantados, de fadas e de duendes, da luta do bem contra o mal, até o desfazimento deste pelo desinteresse das personagens em praticá-lo.

Termino a missiva sem pós-escritos e sem referir-me aos leitores adultos, pois tudo o que mais desejo é surpreender na alma dos meus leitores aquele mesmo espírito infantil que tinha sonhos de pureza e perfeição.

Fiquemos sob o amparo de Jesus, nosso melhor amigo!

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