Em abril deste ano a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, foi queimada viva porque não tinha dinheiro para dar aos bandidos. Um mês depois foi a vez de o dentista Alexandre Peçanha Gaddy arder em chamas pelo mesmo motivo. Alexandre morreu porque os assassinos de Cinthya não foram punidos.
No primeiro caso ficamos horrorizados com a frieza e a crueldade dos bandidos. No segundo, não ficamos tão horrorizados. Nossa reação estava mais para lamento: "mais um dentista queimado!".
O que me dói profundamente é a sensação de que nos `acostumaremos` com essa crueldade. Volto no tempo e lembro da minha adolescência quando começaram os assaltos a mão armada. Aquela triste novidade trouxe discussões sobre a ação dos bandidos, aumentamos o medo de sair a noite e atentos escutávamos os relatos dos colegas vitimados. Numa dessas conversas o Gilberto disse:
- Rapaz, me deixaram só de cueca. Ainda bem que era noite e eu estava perto de casa. Da próxima vez vou separar o dinheiro do ônibus, da conta de luz e o do bandido - completou, para uma risada solta de todos em volta dele.
Hoje esse tipo de ação já não nos indigna. Horroriza, mas nos `acostumamos`.
Por que nos `acostumamos`? Porque elas se repetiram com muita frequência. Por que continuam acontecer? Existem várias respostas: FALTAM educação de qualidade e emprego para manter o jovem ocupado; nossas leis são FROUXAS com os bandidos; o Estatuto da Criança e do Adolescente está em DESINTONIA com a sociedade; as POLÍTICAS PÚBLICAS para a juventude não alcançam as expectativas da sociedade.
Devido a `falta`, `frouxidão`, `desintonia` e `políticas públicas`, os bandidos aperfeiçoaram suas ações e criaram o sequestro relâmpago. Agora inovaram novamente. O primeiro dentista ardendo em chamas serviu de inspiração para queimarem o segundo.