As rimas que eu componho não são boas:
Repetem, quase sempre, os mesmos sons.
Quisera traduzir, em lindas loas,
Os sentimentos, que esses são mais sãos,
Mas tenho medo que esta corda roas,
Legítimo desejo de que os dons
Te tragam mais virtudes que desgraças,
Pois chega de sofrer por onde passas!
Como estribilho para um pobre verso,
Até que a oitava deu para encarar,
Mas, mais que aquilo, já não sei se verso,
Mesmo que ande, aqui, bem devagar.
O que eu não quero mais é ver disperso
O sentimento para estimular
Que o caro amigo leia, com prazer,
Compenetrado de que é p’ra valer.
Eu fujo um pouco do rigor do metro
E causo espanto, quando chego ao fim.
Um dia, o rei perdeu seu rico cetro
E quem achou lhe disse bem assim:
— “Este bastão comove — vade retro!
Quanto darás por ele para mim?”
— “Bobo serás, na corte. Eu te consagro.
Levarás guizo e rabo, como onagro!”
Sou eu o bobo, sem tirar nem pôr,
Porque aqui venho pôr a orelha em pé.
— “É um desperdício!” — diz o meu leitor.
Mas continuo, pois não falta fé.
— “Não há razão plausível, impostor!” —,
Ao ver que, às vezes, vou de marcha à ré.
Mas, se disser, com graça, um simples chiste,
Verei que o companheiro não resiste.
Sagrado é o compromisso da poesia,
Imensa honra que se dá no etéreo.
Mediunidade traz muita alegria,
Quando o encarnado mais trabalha sério.
Juntando tudo aqui, alguém diria
Que eu vim gozar, em doce refrigério?
Naturalmente, eu devo esclarecer
Que o verso assume o dom do bem-querer.
Mas a bondade é toda do mentor,
Que me oferece a pena do colega
E pede para um verso bom compor,
Para mostrar quem sou — é o que ele alega —.
Por isso vim, com riso promissor,
Embora a rima esteja muito cega,
Para o cortado de uma estrofe tola:
— “Pois mais me agrada o choro da cebola!...”
Não quero dar a idéia do improviso,
Pois a lição eu trago bem sabida,
Mas esta oitava, sem qualquer juízo,
Não mostra bem minha tremenda lida,
Por isso digo agora: — “Eu aviso
Que a ‘versejar’ o Mestre nos convida” —,
O que deve levar à conclusão
De que todos, um dia, comporão.
Eu não sabia disso, aí na Terra,
E vim para este lado sem preparo.
Agora, esta comédia um bem encerra,
O de deixar o tema muito claro:
Quem mais no mal se agarra ou se aferra
Não pode vir dizer: — “Hoje declaro
Que tenho meios de entoar as loas,
Porquanto as minhas trovas tu perdoas...”
O treinamento é bom, quando viceja
O amor, como virtude peregrina.
P’ro paladar, o gosto da cereja
Disfarça o amargo desta vitamina.
Assim, um bom sorriso, só, que seja,
Dado a Kardec, em troca da Doutrina,
Vai propiciar a cada um de nós
O esquecimento deste verso atroz.
— “Graças a Deus!” — bondoso, diz o médium,
Quando o martírio está chegando ao fim.
É que ao sofrer, constante, o nosso assédio,
Perde a noção se é bom ou se é ruim
O sentimento que se expressa em tédio,
Para quem se oferece inteiro a mim,
Mas sabe que Jesus protege a gente
Que traz p’ro irmão um verso tão contente.
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