— “Preciso concentrar-me no serviço,
Que o verso não se faz, estando alheio.
Quem cumpre, com prazer o compromisso
Jamais há de aceitar um titubeio.
Aqui, portanto, estou, cheio de viço,
Que os planos, com amor, intermedeio.” —
Assim diz o bom médium, todo dia,
No aguardo de apanhar bela poesia.
Astuto, este poeta cumpre o rito
De revelar ao povo esse segredo.
Não quer que o caro médium fique aflito,
Porque da falsidade sente medo.
Aí, deseja ouvir: — “Eu acredito
Em verso original, não arremedo.”
Por isso, cabe ao plano cá do etéreo
Desfazer, totalmente, esse mistério.
Já houve quem dissesse que, no fim,
Os versos se parecem co’os humanos.
Não há como saber se um serafim,
Ao traduzir a trova, cause enganos,
De forma a resultar muito ruim
O verso, já que tantos são os danos.
No entanto, o sentimento prevalece,
Ao elevar a Deus a nobre prece.
Não venho estimular mais ódio à gente,
Que assim seria fácil de saber
Que a briga duraria eternamente
E o verso diluiria, sem poder
De realizar o tema em que se mente,
Que a indisciplina gera malquerer
Até nas simples rimas da mentira,
No desejo de ver que alguém se fira.
Eu venho estimular que haja amor,
Responsabilidade e muita fé.
Com esperança, então, hei de compor
Um verso em que a bondade finque pé.
A salvação se espera, sem rancor,
Pois a justiça nunca há de ser ré:
Nos tribunais divinos, todo o povo
Tudo há de refazer, se errar de novo.
É bem o caso de quem vem p’ra rima,
Pois, quando chega, há de cumprir a norma.
Quando o ditado não se dá no clima,
Tem de fazer, na trova, uma reforma:
Aquilo que antes era uma obra-prima
Num aparato tolo se transforma
E o gajo perde a luta do compasso
E ouve alguém dizer: — “Belo trompaço!”
Mas refazer um vaso é de somenos,
Conforme a Bíblia ensina a Jeremias.
Ainda que se errassem os co-senos,
Tu mesmo: — “Isto é fácil!” — nos dirias.
Os tempos para as rimas são amenos,
O sério é ver perdidos estes dias:
Não há vaso, co-seno ou simples verso
Que alguém possa sanar, sendo perverso.
Vamos unir as pontas do poema,
Para ultimar a nossa conclusão.
Enquanto versejamos nosso tema,
O amigo aí espreme o coração,
Pois sabe complicado o seu problema,
Sentindo que a tendência é dizer “não”,
Que o tempo tão premente que destina
Talvez seja bem pouco p’ra Doutrina.
Então, quem há de vir, com toda a luz,
Para mostrar que o Pai sempre perdoa?
Quem não disser que o Mestre é, sim, Jesus
Vai confirmar que a rima veio à-toa.
Verá, então, que a norma se reduz
A dar ao Pai amor e à gente boa,
Estimulando os maus para que vençam,
Em graça recebendo a mesma bênção.
Não sei se o caro médium meu faria
A mesma estrofe, como eu lhe ditei,
Mas penso que o leitor não negaria
Que a trova aqui cumpriu a melhor lei.
Se, acaso, não gostares da poesia,
Aceita que eu confesse, pois errei,
Acreditando o povo sempre esperto,
Mas vendo muito errado o que está certo.
A prece prometida para o fim
Talvez não cumpra as normas da poesia.
Mas seja “não” o “não” e “sim” o “sim”,
Para que a minha idéia de alegria
Consiga arrecadar, também p’ra mim,
Um pouco desta paz, desta harmonia,
Que está em se entender como divina
A lei do amor que vive na Doutrina.
Senhor, perdão p’ros crimes de minh’alma,
Especialmente, esta vaidade ingrata,
Porque quero levar do verso a palma,
Fazendo minha trova intemerata,
Enquanto a gente quer apenas calma,
Para alcançar o nó que não desata,
Se vós não enviardes mensageiros
Que venham fazer versos mais faceiros.
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