Eu sou aquele que não quis brincar,
Pois tudo fiz soturno, até demais.
Não gostava de ir mui devagar:
Tinha o bastante, mas queria mais.
Vivi na praia e nunca vi o mar.;
E não me lembro de sorrir jamais.
Achava os homens tolos, sem juízo,
Desperdiçando os bens e o paraíso.
Aqui cheguei, rompante, sem temor,
Querendo ver os anjos a cantar,
Mas debrucei-me n’alma, com horror,
E tive de descer um patamar.
Na torpe escuridão, quis recompor
O que fizera errado, no meu lar,
E vi que o sofrimento desprezara,
Para tornar a dádiva mais cara.
Quem for batuta há de entender-me agora,
Pois dei a “dica” do elemento d’alma
Que me trazia tenso, a toda hora.
E, se escavar o meu quintal, com calma,
Vai encontrar o ouro por que chora
Quem nunca mereceu levar a palma,
Já que se perturbou com tanta usura,
O que torna mais séria a criatura.
Economizo até nesta poesia
E não dou conselho ao meu irmão.
Ao lavrar o verso, eu não queria
Do despautério dar demonstração.
Cansei de argumentar: — “Eu não sabia...”
Isso mais aumentou a gozação:
Nas trevas, o melhor devora o filho,
O que não ponho só como estribilho.
Mas hoje vão dizer que melhorei,
Que cumpro a obrigação, com certo humor.
É que logrei saber que existe lei
Que determina a todos haja amor,
Se não à humanidade, aos da grei.
Na escala onde estava: a inferior,
Eu pus-me a trabalhar, com tanta gana,
Que esta minha expressão é quase humana.
Grande martírio é vir sem ter assunto,
Despreparado para um verso amigo.
Eu tive a idéia de que a turma junto,
Ao me ver troncho, me daria abrigo.
Mas quem mais sofre já não sofre muito,
Porque não quer pensar do modo antigo:
A seriedade é tema que perdura,
Quando a mente é brutal, perversa, dura.
Existem muitos com a mesma voz,
Sem transformar a dor numa canção.
Se o sofrimento gera um ato atroz,
Para que ouvir a manifestação?
Quem se apiedar que reze, então, por nós,
Para que o verso não se torne vão,
Mas não suspeite que este autor melhore:
Se não me fizer rir, talvez não chore.
Irei cumprimentar o caro médium
Que der continuidade ao meu trabalho.
Não quero que me diga: — “Que remédio!...”
É na suposição que eu sempre falho.
Mas uma coisa é certa: o triste tédio
Que nesta trova ponho de espantalho.
— “Por que sorrir, se nada é permanente?...” —
Há de afirmar boçal quem nega a gente.
Não fiz por mal a afirmação acima:
Quis pôr em risco o tópico do eterno.
Como provar que o autor merece estima,
Se tudo que aqui diz provém do inferno?
E não se trata de uma simples rima:
Se fosse assim, trajava o melhor terno.
É que é verdade que salvar-se o gajo
Vai depender da essência, não do trajo.
Quis ser alegre, por chegar ao fim,
E consegui um simples trocadilho.
Há muitos, cá no etéreo, iguais a mim,
Que pensam que a pamonha vem do milho.
Já creio não estar tão mal assim,
Pois disse uma verdade, com rebrilho.
Qual é o parecer do meu leitor?
— “Melhor fará, se não vier compor!”
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